Posts de RODRIGO LUCIANO CABRAL (234)

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FLORESTA VAZIA

Estive andando na floresta vazia
Penumbras e umidade nas aleias e caminhos
Das estranhas sombras da mata sons distantes
Vozes me alcançam
Vozes sem corpo
Fantasmagóricas
Minha solidão me segue como o faria um cão fiel
O mundo fica para trás enquanto avanço
Levo na mente memórias felizes
Únicos luminares de meu triste caminho
Minha triste sina
Não há fim para minha sina
Estive andando na floresta vazia
Sem ajuda sem compaixão
Vazio de sorrisos
Farto de sombras
Esquecido do amor
Perdido.

RODRIGO CABRAL

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VIAJAVA SÓ

Andou sem paixões e viveu com fome...
Viajava só e nu...
Nunca voltava...
Não conhecia regressos
Quando entendeu as distâncias temeu...tremeu...
Mas nunca chorou!
E de que vale a lagrima?
De que adianta a espera?
Quem vem la? Grita seu medo em meio a bruma...
Na folhagem rasteira nenhuma resposta
Entendeu que não podia esperar
Um golpe entre golpes...
Apenas isto...
Terá ele em seu mais antigo e secreto anseio temido a vida?
Terá deixado pra trás algum legado?
Nunca chorou...nem mesmo em meio as trevas...
Nunca esperou...nem mesmo em meio ao medo...
Sussurrou no sul coisas ao vento...
Libertou histórias pra caírem em ouvidos alheios...
Deu origem a lendas...
Nunca assumiu os contos...
Nunca assumiu ...
Viajava só e nu...
E pensava que ia mais longe...
Encontrou o grande rio numa tarde chuvosa...
Imensidão inatingível...
Prostrou-se cansado em frente a própria cina...
Nunca voltava...
Nunca chorou...
Viajava só...
Calado diante do imponderável...
APRENDEU HUMILDADE.
RODRIGO CABRAL
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SABOR DE SANIDADE

Ela fala sobre o que ?
Esteve tão calada não esteve?
Pra que rumos apontou seu coração?
Só tenho perguntas que não aplacam sua sede...
Galopou o medo sem pressa
Já nem sabe pra onde o dinheiro vai
E se gritou não foi ouvida
E se chorou não foi vista
Ninguém cantando sua canção
Sabor de sanidade esta em seu café
Gosto de loucura vem com a cerveja
Sem poesia por que la fora chove
Sem cortesia por que o coração pesa
É frágil...
Entrou em cena enorme e aparente
Soprou como o vento nas florestas
Cheirou com forte odor de esquecimento
E esqueceu mesmo...esqueceu mesmo
Desistiu quando parou de doer
Resistiu quando podia vencer
Afastou o que iria obter
E nunca orou em desespero algum
Sem orações na tempestade pra ela
Esteve tão calada e esta tão tarde
Esteve tão calada não esteve?
Esteve tão calada e não sabe nem a metade
Ruiu em chamas feito Roma
Chorou sem glórias em velhas batalhas
Ouviu e escondeu sem ter motivos
Agora que esta louca...
AGORA...
FALA.
RODRIGO CABRAL
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ANDEI IMORTAL

 
 
Andei por estes dias em vagas idéias pueris
O que me cobre é a mortalha do tempo
Insanidades nas janelas
Cores sem fim dançando
Eu fiz escolhas...
Fui arrebatado ...
Olhei em bares com olhos famintos e vinho barato na taça
Pensei ser imortal!
Existe la entre lapides e esquifes um lugar pra mim?
Agora eu sei...
AGORA EU SEI!
Caminhei na cidade do passado com cheiro de velas e ranço de dores espreitando meus passos
Cercado de frases em placas de porcelana...
Afugentando meu medo...
Calando minha urgência
Andei imortal em tempos idos
Quando contava minhas primaveras em dígitos menores
Quando pensei ser a vida só um livro com paginas frescas para meus olhos indômitos
Andei imortal em dias melhores e mais jovens
Andei imortal e estupido
Em dias sem lagrimas sem dores sem medos...
Andei imortal onde a verdade não me alcança
Em terras novas e novos hábitos
Andei imortal até que a caminhada cansou
Andei imortal até começar a contar esquifes
Andei imortal até começar a colecionar despedidas
Andei imortal até começarem as faltas,as saudades...as lagrimas...as perdas
Diante das cruzes...diante das lapides na manhã chuvosa do sul...
Aprendi finalmente que não sou.
RODRIGO CABRAL 
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TEIMOSA

Outro dia encontrei um estranho vegetal no meu quintal...estava praticamente brotando das frestas das pedras do meu muro...não era bonito,não era atraente...não exalava bom perfume,nem ao menos era robusto...a meu ver era só TEIMOSO...querendo viver num ambiente que não lhe favorecia... Batizei de esperança...pois esta tende a ser burra... Hoje lembrei da esperança por um breve momento e fui ate la ver como ela estava... Alguém capinou e podou tudo em volta do muro...devastou toda a micro selva de plantinhas sem nome que ali vicejava... Mas esperança ainda esta la...horrivelmente mutilada desfolhada e quase solta de todas as suas frágeis raízes... É mesmo verdade a esperança é a ultima que morre... Mas é certo...que morre.

RODRIGO CABRAL

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A SOMBRA NA SUA CABEÇA

Nas esquinas onde morrem os sonhos
Em pretéritos perfeitos e esquecidos
Eu vi você...
Saudosa de alguma dose antiga que "bateu" faz tempo
Louca na névoa sem lugar pra ir
Sem querer ir...
Existe acaso em tua loucura quando a noite vem?
Um declínio crepuscular e utópico a caminho...
E pode chover você sabe?
Sempre pode chover...
Entende a medida da força que lhe atrai?
A velha vontade rastejando na sombra da sua cabeça...
Um vicio antigo nunca vai embora...
Ele espera...não espera?
E dizem que "espera sempre alcança"...
E vai fugir agora garota?
O que você pensa?
Que existem carros velozes o bastante pra isso?
Que ha um refugio pra tuas dores?
Tola ilusão que o copo não vai apagar...
Abstração fugaz que a cerveja não faz perdurar...
Ouve agora o que vem com vento
A tempestade sabe onde você mora
E ela veio pra ficar...
Da pra entender?
Existem lugares melhores no mundo...
Mas a casa bonita não é um lar se não for sua...
A tempestade quer chover sobre você na cidade ignorante do sempre em frente...
Você pode correr,pode chorar,pode sofrer,pode parar...
ou...
PODE CHOVER DE VOLTA...

RODRIGO CABRAL

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Lua no copo

Eu vi a lua no fundo do copo
Sem estrelas ali...
Sedento estava e não tinha respostas...
E as perguntas se as tive...bebi...
Em frente ao bar um trafego cinzento
Quem vai não sabe...
Quem vem não soube...
Mas todos vão e todos vem...
Por que ha lugares pra onde se ir
Ao meu lado nada novo
A minha volta nenhuma bela história
Remorso na cerveja da mesa de trás?
Culpa na vodca de um cara?
Dor no Whisky de alguém...
O bar nunca tem novidades
Só motivos...
Eu vi a lua no fundo do copo outra noite...
Preenchendo um céu inexistente
Com gelo,com soda ,com limão...
Eu vi a lua no fundo do copo ...
Bebia a dores que eu não queria...
A amores que eu não sentia...
A derrotas que eu sofreria...
Bebi só ao por vir...
O passado?
Esta noite o passado a bebida afogou.
RODRIGO CABRAL
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EM MANHÃS CLARAS

Aprendi a odiar com tanta fúria,
que já acordei em manhãs de verão suado,com os punhos crispados e o olhar perdido
Aprendi a odiar com tanta fúria que já fiz escolhas indômitas,sem exito ,sem glória ...só pela dor
Aprendi a te odiar com tanta fúria,que nunca esqueci as palavras,só retribui os gestos,e os golpes...sem piedade
Aprendi a odiar com tanta fúria,que não fiz escolhas...
Não faço escolhas...
Nem espero...
Aprendi a odiar com tanta fúria...
Que sou urros e lamentos...
Em noites claras.
RODRIGO CABRAL
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EXISTIR


 Pra existir ninguém precisa pensar... as pessoas precisam pensar é pra viver, e é ai que a coisa complica . A maior parte das pessoas não sabe a diferença entre existir e viver
Milhares só existem
Assim como existem as pedras
O vento
Ou os corais
Existir é bem mais simples
Mas quando se esta disposto a viver de verdade? Bem... isto requer mais cuidados e vontade
Mais sabedoria

RODRIGO CABRAL

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EU JA FUI O MORCEGO COLORIDO!


Em tempos já a muito idos fui um menino! Sim às vezes quando olho a imagem que o espelho me devolve custo a acreditar nisto, mas já fui um gorducho e estabanado menino.
Mais ou menos quando tinha entre oito e dez anos meu mundo de garoto era (como para a maioria) apenas escola, tarefas domesticas e brincar, brincar muitoooo!
Mas havia algo a mais no meu mundinho infantil... Meus dias eram povoados por super heróis super vilões aventuras fantásticas, lutas dramáticas e muito humor, tudo isto oriundo dos gibis. E cara... eu adorava gibis(ainda adoro) eu não os lia , eu os devorava meus olhos ávidos não cansavam jamais de ver o homem aranha bater outra vez no duende verde, tão pouco de ver o hulk(herói de macho hem patrícia?) esmagar mais alguns homenzinhos atrevidos que ousaram barrar seu caminho. Meu fascínio por este mundo era imenso mesmo do tipo que faz um garoto encher as paredes do quarto com todo tipo de pôster ou simples desenhos de super heróis, do tipo que faz um garoto gastar cada suado centavo de sua curta mesada com mais gibis, um fascínio que me fazia andar quilômetros pela cidade de um bairro a outro só pra encontrar um famigerado garoto (mais velho) só para trocar com ele gibis por gibis.
Mas logicamente eu não era o único, tinha amigos na época que também gostavam dos heróis dos quadrinhos e passávamos como não poderia deixar de ser horas intermináveis debatendo coisas altamente relevantes como, por exemplo, quem venceria uma luta entre o capitão America e o homem aranha? Por que diabos o fantasma falava tão engraçado La na selva dele? Quem era mais poderoso o hulk ou o Thor? Como se pode ver... tantas duvidas e tão pouco tempo não é mesmo?
Pois bem a verdade e que o contato com heróis fantasiados que não tinham nenhum super poder (a saber, Batman e fantasma) começou a dar força a certo bichinho impertinente dentro de mim, esta coisinha insistente e gritante me atormentou por dias e o que ela dizia? Ah aposto que você já imaginou. Sim dizia que se podiam haver caras sem super poder no mundo dos heróis então eu... isto mesmo EUUU podia ser herói também.
Decidi que meu bairro precisava muito de um defensor, mas decidi que não podia fazer isto sozinho NE? Afinal heróis têm parceiros (e o ridículo e melhor quando dividido) comuniquei meu amigo mais chegado da época de minha ideia num sábado chuvoso em que brincávamos numa casa em construção, disse a ele que pretendia ser super herói e que achava que ele seria perfeito pra ser meu parceiro. Confesso que estava um tanto receoso em falar de meu ousado plano para alguém, mas para minha surpresa e alegria meu amigo recebeu com grande entusiasmo o convite e topou na hora (acho que aquele menino não era La muito esperto) e já se pós a fazer planos sobre como seria o combate ao crime no bairro.
O primeiro passo foi o uniforme, e foi também o primeiro obstáculo que tive que transpor.
Pois escolhi uma determinada roupa que passaria a ser minha vestimenta de combate e que teria que estar sempre à mão para eventuais transformações em meu alter ego superheroistico... mas assim que minha mãe soube para que eu queria a dita roupa trancou pé declarou definitivamente que eu não poderia ficar estragando roupa com besteira de gibi!
Fiquei desolado, então minha mãe não entendia que não era besteira? Que era o chamado da justiça para seu rechonchudo filho? Argumentos e cara de choro não deram jeito não. Definitivamente ela não entendia.
Mas não me dei por vencido, havia marcado um encontro em lugar secreto (bosque ao lado de casa) com meu parceiro para ambos vermos o uniforme um do outro e falarmos nossos respectivos nomes, apareci La altivo de chort vermelho e rota camiseta branca nas mãos tinha dois objetos que escondia zelosamente. Meu amigo dera mais sorte sua mãe não se opusera a ele ter um uniforme (ta vendo mãe? Ela sim sabia o que era o chamado da justiça) embora na verdade o uniforme por ele escolhido não me agradasse muito, um chort xadrez que quase parecia uma sunga uma camiseta preta e chinelos de dedo, mesmo assim fiquei com leve inveja de ele ter uniforme.
A me ver foi logo dizendo que seu nome seria morcegao, um nome que ele achava forte... não discuti ne? Perguntou se aquele era meu uniforme a que respondi cheio de orgulho...
- Este e muitos outros, meu nome vai ser morcego colorido por que vou trocar sempre de uniforme (nunca falei que minha mãe tinha me barrado não pegava bem concorda?) meu amigo pareceu aprovar minha ideia e diante dos olhos dele mostrei os objetos que trazia, um era minha mascara de herói feita com papelão, mas era mascara, o outro minha arma de herói, um pedaço de perna de mesa com um metro mais ou menos de corda de varal amarrado nela constituindo meu chicote.
Ah garanto a todos que ali ganhei de vez a admiração de meu parceiro, ele não havia pensado em mascara menos ainda em arma, lógico que imediatamente fez sua própria mascara e sua arma era também um chicote (linha de pesca no lugar da corda de varal) e estávamos prontos para agir.
Como meninos que éramos logicamente não podíamos sair tarde da noite na rua, portanto nossas primeiras patrulhas de heróis na verdade não foram noturnas foram mais... como direi...vespertinas! La pelas dezoito horas já era escurinho e tínhamos ate as dezenove, dezenove e meia pra lutar contra o crime. Se uma luta durasse mais do que uma hora e meia o que faríamos? Bem a gente achava que podia pedir pro vilão voltar no dia seguinte em nome da honra do combate ne? No entanto... Bem, no entanto a verdade e que nossas primeiras patrulhas não eram o que esperávamos, não podíamos sair da quadra em que morávamos e ficar dando voltas na quadra em busca de vilões não estava dando certo, que me lembre o Maximo que fizemos foi espantar alguns cães vadios das ruas e “ajudar” um vizinho comendo todas as goiabas que se estavam pendendo dos galhos da goiabeira dele por cima do muro para que elas não sujassem sua bonita calçada.
Ate mesmo meu pouco erudito parceiro já estava entediando-se de nossas rondas sem sentido, sem falar que quando víamos meninas ou garotos da quadra de baixo nos escondíamos (ao que parece a vergonha e mais forte que a justiça nesta idade hem?), ou seja, nossa vida de heróis estava fracassando.
Mas foi então que surgiu nossa grade chance. Certa vez após a aula nos deparamos com uma cena inquietante, um garoto da quadra de baixo maior e mais velho do que nos estava importunando duas meninas na esquina da rua da escola. Nos olhamos aquilo por um tempo e imediatamente eu tive um estalo, olhei para meu amigo e perguntei.
- Ta pensando no que eu to pensando?
Ao que ele me respondeu sonhadoramente
-Também ta achando que aquelas duas metidas logo vão chorar?
Como eu disse meu amigo não era La muito esperto. Dei um safanão nele e quase gritei
-Não sua besta ta na hora dos heróis do bairro entrarem em ação ta ai na nossa frente um vilão real e duas garotas em apuros. Tenho que ser sincero não vi entusiasmo no meu amigo daquela vez, alias ao menos naquela ocasião acho que ele e que não me achou muito esperto.
Mas diante de minha afirmação não discutiu saímos correndo para nos” transformar”
Eu só precisava de minha mascara e chicote escondidos entre os gibis do meu quarto, meu parceiro claro cismou que tinha que vestir seu uniforme completo e demorou tanto que eu queria matar ele por isto. E o pior e que quando finalmente apareceu na frente da minha casa pra que pudéssemos agir ele estava com a mesma roupa de antes. Diante de meu olhar acusador só explicou muito sem jeito
-AH... a mãe lavou minha roupa e ela ainda não secou!
Não dava pra discutir com um argumento destes dava?
Seguimos apresados para o lugar da luta, já mascarados e prontos, coração dando pulos de nervoso, eu temia que o inimigo já tivesse partido, mas não! La estava ele ainda atacando as garotas com suas piadinhas infames.
Cara tive medo... tive muito medo mas fomos em frente, certos de que nossas mascaras garantiam nosso anonimato e de que salvaríamos as garotas daquela besta malvadas.
No mínimo poderíamos ganhar beijos como as mulheres dos gibis davam nos seus heróis seria justo não seria?
Eu já ensaiava minha fala!
Seria algo do tipo:
Pare ai maldito!
Mas não tive tempo... não tivemos tempo de dar nem mais um passo em direção a eles.
Foi uma das meninas que nos notou primeiro e deu logo o alarme
Olha, olha ali os dois... kkkkkk dois palhaços.
Na mesma hora a outra suposta vitima e seu suposto agressor nos olharam e caíram na risada também
- Vocês dois tem merda na cabeça ou o que?-perguntou entre gargalhadas o malvado vilão
A outra menina só ria e ria as duas riam alias
Ficamos em choque, não conseguíamos nos mover a coisa era inesperada demais meu amigo olhava deles para mim e de mim pra eles de boca aberta e eu simplesmente não sabia o que dizer.
Deve ter durado não mais que um minuto a coisa toda, mas pareceram horas. Ate que eu corajosamente tomei a frente e fiz a única coisa correta e digna de um herói fazer naquela situação.
Dei meia volta e sai correndo de volta pra casa com meu amigo atrás de mim atordoado!
A única coisa que eu podia pensar e que ao menos nossas mascaras tinham garantido nosso anonimato. Nem esta ilusão durou, pois atrás de nos ainda ouvi o garoto gritar.
-Ei gordo... ooooo Rodrigo amanha na escola vou contar pra todo mundoooo!
Não preciso dizer que este foi o fim não é?
Aquela foi a ultima aparição de morcego colorido e morcegao na face da terra. Rasguei a mascara naquela tarde mesmo e joguei o chicote no mato, meu parceiro fez algo parecido, nunca mais fomos heróis embora na escola por semanas tenhamos precisado de toda a nossa coragem pra suportar a zoaçao da galera. Duvido que os heróis de gibis tenham tido luta maior viu!
Lembrei-me disto hoje e tive que escrever a respeito. Por quê? Por que escrever mesmo diante de minha falta de jeito com textos longos?
Por que dentro de mim em algum lugar ainda vive aquele menino gordo que foi herói, em algum lugar dentro de mim o morcego colorido nunca morreu, em alguma parte minha, minha infância jamais terminou...
E rogo que jamais termine.

RODRIGO CABRAL

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UM PÁSSARO QUE O BUKOWSKI TEM.

 
 
Existe algo esta noite em mim que quer sair
Esteve quieto por tanto tempo por que agora?
Existe algo esta noite em mim que quer gritar
Ate ontem não tinhas voz por que esta noite?
Existe algo esta noite em mim que clama na penumbra
Do que reclama não a mantive segura por 40 anos?
Existe algo esta noite em mim que vaza lagrimas que nunca derramei
Eu não as contive quando julguei que seria fraqueza mostra-las?
Estava errado? Você não sabe...não pode saber!
Existe algo esta noite em mim que quer a luz que eu apaguei
A chama que brilha sozinha no eu distante que ha muito abandonei...
O que você espera de mim agora? Assim tão velho ...velho demais pra mudar
Existe algo esta noite em mim que vaza uma ternura que eu tranquei no fundo
Que fala de um coração que eu não tenho mais
Que canta com uma voz que não é mais minha
Que crê quando eu aprendei que crer dói mais que compensa
Existe algo esta noite em mim que quer amar...
Amar ao que? Amar a quem? Amar por que?
Sera que não sabe que o mundo golpeia sempre?
Existe algo em mim esta noite que busca olhares esmeraldas em todas as esquinas...
Que pensa em futuros que eu desisti de almejar
Que fala de sonho...que fala de sorrisos...
Que fala de amar!
Existe algo em mim esta noite que voltou pra dizer "estou vivo"
Existe algo em mim esta noite que eu não pude matar...
Mantenho longe...vou trancafia-lo de novo...deixo que respire hoje...
Existe algo em mim esta noite que não vou libertar
Uma fagulha simples de esperança na bondade humana...
Uma porta...
Um pássaro ...
Existe algo em mim esta noite que teima em existir...
Ternura...você dói quando volta,você dói quando se vai...
Ternura...fique onde esta.
Existe algo em mim esta noite...
RODRIGO CABRAL
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SÓ VOCÊ NÃO VÊ

Você entende que existem coisas que teus olhos não podem ver?
Você enxerga a Africa de onde esta? Ou mesmo a rua?
A fome vaga por la em dias indiferentes...
Existe seca existe fome...existe MEDO!
Você entende que existem coisas que teu olhar não alcança?
Nas avenidas irritantes nos semáforos apinhados malabares humildes cortejando suas moedas...
Você os vê? Realmente os vê?
Nas cidades vagam sinas que não podem ser desnudadas
Existem lagrimas em todos os quartos que você não vai ver...
Nem entender...
Ninguém vai!
Você entende que existem dores de que não podes partilhar?
Tua caminhada segue unica em meio a muitas outras e ainda sim é só tua
Existem mistérios nos becos que fogem da luz
Existem sorrisos no lixo que iluminam as trevas
Existe amor no disforme no sujo e no miserável que você não vai sentir...
Você entende que pairam nos campos velhos sonhos que desvanecem nas colheitas ruins?
Nos empréstimos devoradores...
Na colheita que não veio...
Você entende que surgiram nas periferias distantes artistas do viver tropego cujo o único numero consiste em equilibrar orçamentos precários?
Que a morte espera nas chuvas,nos tiros e nas laminas ?
La onde tua vista se perde correm seres que tem objetivos e fracassos em igual escala
Você entende que não pode mudar as coisas não compreende?
Alguém já lhe disse que embora possa olhar...Ainda precisa aprender a ver?
RODRIGO CABRAL
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O VELHO PARTIU

 
 
Eu não vi o velho senhor nascer, você viu?
Sei que caminhou por estes lugares agrestes em dias tristonhos
Sei que desbravou as matas cerradas em cortes ousados
Sei que não soube esperar...
Eu não vi o velho senhor nascer, você viu?
Sei que procurou novos lugares no mundo vasto
Sei que pescou do rio o que o rio que tinha pra dar
Não caçou ursos,não viu ursos...pois ursos não havia
Eu não vi o velho senhor nascer, você viu?
Sei que entendia antigos idiomas de tribos reclusas
Sei que ouvia os animais como ninguém mais ouve
E ele cantava...o velho senhor cantava como ninguém mais canta...
Ninguém!
Eu não vi o velho senhor nascer,você viu?
Sei que andava pensativo em dias outonais
Sei que apreciava a chuva no telhado barulhento
Sei que aprendeu a viver com pouco...
Não soube dizer pra ninguém os segredos
Não soube expelir de si as mentiras
Não soube nada!
Eu não vi o velho senhor nascer,você viu?
Sei que entendia os mistérios mais que as verdades
Sei que amou em silêncio e odiou com reservas
Sei que desistiu sem suspiros
Sei que resistiu sem justiça
Sei que se foi...
Eu não vi o velho senhor nascer,você viu?
Ninguém ainda vivo deve ter visto...
Sei que não esta na sombra da arvore esta tarde...
Sei que não caminha na orla da mata como antes...
Sei que não voltou...
Eu não vi o velho senhor partir...você viu?
RODRIGO CABRAL
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EU APRENDI

 
 
Eu aprendi a conter a lagrima antes do inverno chegar...
Por que faz frio em minha alma esta noite
Eu aprendi a esquecer o que me alimentou...
Por que não quero dividas de gratidão
Eu aprendi a guardar o rancor por meus inimigos...
Por que dar a outra face é tola fraqueza cristã
Eu aprendi a desprezar o que não posso entender...
Por que se não me é útil posso destruir
Eu aprendi a aceitar que o mundo é o que é
A me mover solitário na terra encharcada de lagrimas caídas
A ignorar as suplicas
A golpear os algozes
Eu aprendi a afastar o meu medo pra lugares sombrios
Aprendi a rosnar mais do que sorrir...
Aprendi a lutar por que a vida é isso
Aprendi a trapacear por que a vida é isso
Eu aprendi a não confiar por que confiar é dar muito de si
Eu escolhi não compartilhar por que lutei muito pelo que é agora meu...
Aprendi a sofrer sem pedir...
Aprendi a sonhar sem querer...
Aprendi a silenciar sem protestos...
Eu aprendi que a noite mais longa e sombria é sempre a próxima
Eu aprendi que o humor só trás sorrisos vazios
Eu aprendi que a jovialidade só trás interesses mesquinhos
Aprendi a seguir...
Aprendi a ocultar...
Aprendi a esquecer...
E hoje quando a noite vem...
Aprendi que vou chorar sozinho...
Não aprendi a escolher.
RODRIGO CABRAL

 

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MINHA FORÇA

Este mundo nos consome aos pouco
Como faz o vento com os castelos de areia
Eu não sei há quanto tempo estou perdido
A melodia antiga já não toca mais em mim
Talvez toque você
Talvez ainda toque alguém
Todos querem algum pedaço meu
Todos querem minha força
Mesmo quando não há força alguma
Sinto que estou enfraquecendo
Já não sei mais por quanto tempo posso aguentar
Hei vocês que tem vidinhas das 6 as 17 e 30
Por que não me deixam em paz?
Já não tiveram de mim o suficiente?
Fiquem com seus bares de bêbados
Seus opalas escuros e gêmeos não nascidos
Não estou pedindo nada demais
Eu sinto a preção do mundo me esmagando
Acho que nunca serei bom o bastante pra ele
Nem eu nem vocês
Vocês que cometem um erro atrás do outro repetindo a historia
Que não sabem esconder seus próprios segredos
Que já se viram assustados sob sofás em porões alheios
O medo da velha mãe sempre mais forte
Porque não podem cuidar de seus problemas?
De seus filhos jardineiros camelôs ou enfermeiros
Por que não podem ficar de boca fechada?
Sinto saudade de quando podia rir de tudo isto
Já não sei rir sinceramente há muito tempo
Os problemas apertam meu coração que há muito já e pequeno
São coisas demais para um homem só
Nossos problemas comuns
Esposas sem emprego ou perspectivas
Falta de grana constante e dividas
A vida não e uma merda vinte quatro horas por dia
Mas ela se esforça faz por onde
Às vezes eu choro sozinho de desespero
Como naquela tarde trancado no banheiro de casa
Só o mato e o silencio como testemunha
Eu que achei que não tinha mais lagrimas
Mas isto foi bom, pois provou que ainda posso sentir de verdade.
E que dói demais
Uma batalha dura e longa
60 reais e um mês longo
Meus planos meus sonhos ficando pra traz todos
Aos poucos tudo vai se desvanecendo
Só que eu permaneço
Esta e minha luta
Eu permaneço.
 
                                          "R" eu ainda lembro destes teus dias mas tudo ja passou só o registro permanece.

RODRIGO  CABRAL

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TÃO COMPLEXA

Tão complexa
O entendimento que tenho parece tão pequeno
Confuso
Insuficiente
Nem todas as leituras que fiz ao longo da vida ajudaram
Freud não explicou
Platão, Sócrates, Aristóteles foram impotentes.
Drummond sorriu lacônico pela primeira vez
Neruda nada teve a acrescentar
Tão complexa
A luz viva em teus olhos
Falando de prazeres de que não posso abrir Mao
O sedoso toque do teu tato
A fragrância inebriante inigualável que vem de você
Tantos mistérios em teu rosto
Tantas verdades jamais ditas
A que perigos secretos me expõem teus sorrisos
Nos cantinhos dos lábios resquícios de velhos segredos
De coisas guardadas em tua imortal alma feminina
Tão complexa
Uma chama inextinguível queimando em você
O macio e acetinado contato com teus cabelos
As harmônicas composições que se formam em teu corpo
Teu jeito de andar
A doce e cativante forma como arquejas o peito quando respiras
Um ondular sedutor dos seios
Teu dedo sem inocência apertando meus lábios
Um gesto evocativo
Tocante
Tão complexa
Não posso saber tudo de você
Não da pra desvendar todos os teus mistérios
Nem compreender teu poder
Tua força de mulher sobre mim
Tão complexa
Será você uma força da natureza?
A tentação divina a reinar desde adão?
Será que es um cálido e indizível enigma?
Delicioso e necessário enigma
Tão complexa
Me abstrais
Me tomas
Me consomes sem que eu tenha respostas
Tão complexa
Quero te descobrir...
Será mesmo?
Não sei
Talvez eu só queira que sejas eternamente meu incompreensível desejo
Sim
Quero lhe buscar eternamente.

 

RODRIGO CABRAL

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BRISA NO ROSTO

A brisa no rosto é um açoite
Na calmaria da noite um cheiro de mato
Na montanha distante as árvores  se curvam ao vento
Um certo mistério me ronda
Um pequeno pensamento não me deixa
Estará ela buscando as mesmas estrelas neste céu agora?
Por que montanha derrama ela seu olhar fulgurante?
Uma grande urgência me toma
A inquietude voraz se achega
Eu conto as distancias com olhos treinados
Sinto brotar certa tristeza
Mas a brisa no rosto é um açoite

RODRIGO CABRAL

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Ao cair das sombras

Angustia de coca subindo pelo nariz
E ele sabe que não esta mudando nada
Só se deixando levar
Pelo caminho traçado de carreiras no fundo do prato
O céu tingido de negro
Desabando aos pedaços
Ele vê e sorri sentado na sarjeta
E com sorte esquece isto
Mas não esta resolvendo nada
Então e melhor fugir
Para aquela praia nua e muda que ele conhece
Onde são todos sonâmbulos
Embalados em um sonho antigo
Ficar distante pra não estar nunca
Ficar alto
Elevar-se sozinho e insano
O sucesso e solitário
Talvez sair pra dançar a noite
Ouvi dizer que ele sabe o que fazer depois das três
E todas as garotas o conhecem
Eu já o vi devorando garrafas de uma bebida qualquer
Que importa o nome desde que produza o efeito?
Quem liga pra nomes?
Às vezes ele vem do trabalho cansado
Não e que tenha sido muito exigido
E só esta coisa de lugar fechado e ordens
Ele descansa fumando baseados
E medita cavalgando heroína
Ele decide sua vida cheirando cocaína
E pra ocupar o tempo ele bebe
E quem pode condenalo?
Talvez alguém Le diga que isto e errado
Ele com certeza riria
Só o terror é que ele ouve
Seu medo devorando a mobília
Ele esta indo pra algum lugar no escuro
E quem pode afirmar que não esta?
Eu já o vi espiando sua mãe flertar com outros homens
E soube que seu pai hoje vende enormes charutos cubanos
Ele acha tudo inútil e tedioso
Ele já me disse que os odeia
E dirige rápido pelas tuas desertas
Esta indo para algum lugar distante
Esta indo pra lembrar
Lembrar da fome
E da dor
Lembrar do ódio
E do prazer
Ele não pode ter esquecido do prazer
Ninguém pode
Embora às vezes venham a tentar
À noite o alcança em plena viagem
Em meio a uma grande curva
Onde tudo se perde
Ao cair das sombras
Ao cair das sombras.

RODRIGO CABRAL

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A VASTIDÃO É AZUL

Nossos olhares em casual encontro entre as prateleiras de livros
O que ela busca?
Jorge Amado? Machado de Assis?
Nossos olhares presos em laço raro...
Um nó difícil de ser desatado...
O que eu buscava?
Charles Berlitz?
Conheci a vastidão nos olhos dela
Um infinito azul
Perdi-me
Jamais me reencontrei.

RODRIGO CABRAL

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A LUA NÃO ME SALVA

A lua não me salva esta noite
Ouço o vento rosnando entorno da casa
Faz frio La fora...
La onde mora o escuro
La onde rondam mistérios
Tão forte a sensação que me inunda que nem acredito que um novo dia venha a surgir
Já houve dias e luz antes desta noite invernal?
O que fazia eu naquela luz?
Penso na cidade tomada de sombras que se espraiam ate os corações dos homens
Tantos lugares pouco vistos...
Tantas coisas acontecendo longe dos olhos humanos
Que noite e esta que a tudo usurpa impetuosamente?
Sinto meu medo contorcendo-se em meu âmago
Atento e atrevido pelos chamados noturnos
Em algum lugar La nesta noite tão longa alguém sofre
Alguém chora
Alguém geme
Alguém ama
Alguém espera...
Nesta noite distante de lógica o mundo repousa ou ataca de formas tão impossíveis que nem podem ser medidas
Eu quero estar La fora
Eu temo estar La fora
Eu imagino os predadores que vagam nas sombras
La fora
La... onde a lua hoje não me salva.

RODRIGO CABRAL

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CPP