Posts de Wanderson Silva Reis (4)

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Amar Você Me Dói Todo Dia

Dedicatória: Nem todo amor se constrói. Alguns… apenas consomem. A estes — este poema.

 


Te amar me dói todo dia,
É viver à beira da esperança,
Quando o amor já não guia,
Só resta a dor da lembrança.

 

Preso a nós desatados,
Entre continuar, ou fugir,
Será que ambos estão cansados,
Do ciclo que insiste em iludir?

 

Meu peito jaz como a vela,
Que apagou, só cera fria,
Que outrora iluminava a treva,
E agora se derrete em agonia.

 

Te amar virou meu castigo
Um hábito que me consome.
Como o vício em um veneno,
Que afaga e ao mesmo tempo some.

 

Quero me livrar das lágrimas,
Como alguém que vence o vício,
Você não sentirá a ausência,
Julgue-me — sempre foi fácil.

 

De mala pronta, como quem partia,
E descubro, no meu silêncio:
Não era eu quem você queria,
Mas é você quem eu quero.

 

Me indago com grande angústia:
“Sou só desejo… e nada mais?”
Por ti, mudei minha química,
Com o peito entregue à dor que traz.

 

Eu te contei cada injúria,
Seguida de uma lágrima importuna.
Mas quando encaro teu pranto,
Fraquejo, e de novo te aceito.

 

Rogo à minha mente que te mate,
Para que eu encontre paz, enfim.
Existe cura para tal desgaste?
Para as feridas dentro de mim?

 

Tua mente imatura se conforma,
Com tão pouco, já se acomoda.
Às vezes, até me dizes que me ama,
Mas isso não me faz sentir amado.

 

Já não sou mais quem te esperou,
Nem o que um dia sonhou.
Sou só os cacos de um homem,
Que teu silêncio moldou.

 

Te amar me dói todo dia…
Ferida em minha alma que esvazia
Toda esperança que lá havia,
Tornando impuro o sabor da vida.

 

Me abrasam cada vez mais
Cada faísca que você me traz,
Incendiando, com gesto mordaz,
A flora que em meu peito habita.

 

Hoje, do que fui, só cacos.
Do que sonhei, só cinzas.
Te amar me dói todo dia...
E amanhã, só restarão feridas.

Saiba mais…

Entre a Coragem e o Medo

Dedicatória: para aqueles que se arrependem das escolhas não feitas — e precisam lembrar que o rascunho é só o início da obra-prima.

 

Poema

 

 

“Quem eu tenho sido?”

“Quem sou e quem serei?”

E há algo que ainda lapido:

“Quem quero ser? Como começarei?”

 

Me perdi dentro do íntimo,

Afastei as minhas vontades.

Me pergunto no externo:

“Tenho apenas duas metades?”

 

Solto as perguntas que escondi,

Peço perdão por ter me esquecido:

As cartas que eu nunca mandei

Foram seladas por promessas que quebrei.

 

As súplicas que eu calei

Fazem eco dentro de mim.

Feridas que ninguém vê

Ainda ressoam: “por que foi assim?”

 

Eu as prendi por medo ou covardia?

Cansa mais que carregar pedra.

Mas me enrolei em mil desculpas

Pra não ter que lidar com a queda.

 

“Ó, quantas vezes me critico?”

“Quantas vezes torço por mim?”

Mesmo com fardos passados,

Sigo em frente, mesmo a sós com meu porvir.

 

Queria ter me visto antes,

Com olhos mais gentis e reais.

Dei demais ao mundo alheio,

E pouco a mim, em dias iguais.

 

Não dá pra voltar, mas não é o fim,

Pois essas cartas são parte de mim.

Ainda que não lidas, moldam meu ser,

Sigo em frente, com alento para viver.

 

Talvez eu nunca envie

As cartas que engoli a seco.

Cada passo me costura em silêncio,

Enquanto o mundo segue alheio.

 

Aqui, deixo os arrependimentos,

Os traumas e visões falhas.

Não sou só o que pedi,

Sou tudo aquilo que escolho plantar.

 

Sinta o alívio esquentar o peito,

Como, quando exausto, lê um soneto.

Está tudo bem em desejar sentir.

Está tudo bem em desejar seguir.

 

Chegou até aqui? Então sabe:

Essa poesia tem seu nome oculto.

Não são só confissões de um desabe,

Mas o reflexo do teu eco mais calado.

Saiba mais…

Enquanto o Mundo Acaba, Eu Insisto

Dedicatória: Para os que continuam insistindo — mesmo quando o mundo desaba, o céu muda de cor e o futuro parece um eco sem resposta. Que essas palavras sirvam de abrigo, faísca e resistência.

 

Poema

 

 

Talvez eu só esteja cumprindo

A meta falida de um sonho extinto…

E sinto que não sou único,

Mas roteiro sendo repetido.

 

Não desejo ser uma cópia

De um corpo já enterrado.

Quero rascunhar meu rumo —

Se é que ainda há algo inédito.

 

Viver será a minha repulsa

Contra o mundo de amnésia.

Mesmo que o céu escureça,

Eu serei o incêndio na floresta.

 

Tenho medo de não poder ver

A doçura desse azul celeste,

O mundo o tinge de vermelho —

Tornando o azul em arte rupestre.

 

“Será que há algo novo no amor?”

“Quantas lágrimas eu irei derramar?”

Quero ter uma vida com furor,

Não já escrita, nem à carimbar.

Viver o meu, não o que herdaram.

 

O mundo avança com tecnologia,

E o ser humano em analogia.

Dependem da criação. Cegos!

Tolos movidos por conta do ego.

Aqui jaz o mundo diante tal tirania.

 

Sou faísca que o progresso não apagou,

E mesmo o tempo não me fez poeira.

Não quero ser o que se relembrou,

Mas quero viver. Quero ser verdade.

 

Ainda que o mundo se acabe,

Mas sigo limpo, mesmo no fim sujo.

Essa história finda com desastre,

E no fim, meu nome não cabe no resto.

 

Deixo as palavras no memorado:

“Não me aplauda, futuro arruinado!”

Vivo e, por fim, nada me arrasa.

Posso me escrever em brasa.

 

Minhá'lma não cabia no mundo,

Em meio à tanta lúcida farsa.

Fui axioma, enquanto durou o teatro.

Sou a última voz — Legado deixado.

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Roteiro em Mãos Alheias

Dedicatória: Para os marinheiros perdidos, cuja bússola aponta para vozes, não vontades, e precisam tomar seu leme e ir em direção à terra prometida.

 

Poema

 

Acordei em um enredo estranho,

Com falas e vontades já dadas.

Quando eu, ainda sendo gerado,

Fui moldado para andar sem alma.

 

Com o olhar preso ao espelho,

Espantado com essa desdita,

Pois hoje eu já não reconheço

O olhar que este corpo habita.

 

Agora a mente se questiona:

“Eu ando com meus passos,

Ou com planos já dados?”

E a dura verdade vem à tona.

 

Todos me dizem o que sonhar,

E então eu sigo sem perguntar.

Minha voz nunca foi recitada,

Porque o zíper sempre me cala.

 

Meu “eu” foi a sugestão não lida,

Mas agora eu escrevo minha fala.

E para que, enfim, eu seja real,

Deixo para o escravo um memorial.

 

Me demito do destino de aluguel,

Onde o preço por mim era infiel,

Serei meu, liberto das amarras,

E meus pés não serão suas pegadas.

 

Livre, já com o peso de escolher,

E um leve susto por existir,

Sem mapa ou rota para deter,

Mas, agora, silêncio para ouvir.

 

Céu, me aceite como criatura!

Criando o próprio caminho incerto,

Prefiro o risco da minha escolha,

Ao conforto do sonho encoberto.

 

Sou verbo sem sujeito imposto,

Hoje grito: não volto ao papel!

Por séculos serei o alvoroço

Da única tinta sem o pincel.

 

Agora, eu escrevo cada passo,

E minhas escolhas, meus versos.

Que seja incerto o meu destino,

Desde que seja só meu, e inteiro.

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CPP