9 semanas de ficção

   Volume 2

                               PARTE I

                            À distância.

          Era uma vez dois jovens que se encontraram à beira de um açude sem água, no Sertão Paraibano. Estavam se despedindo porque a família de Anajô estava se mudando para Apicum-Açu, naquela época município de Bacuri-Ma, pois estavam dispostos a explorar o ramo de pescaria. E a família do jovem Tobert estava arrumando a bagagem para uma mudança forçada para Goiânia, capital de Goiás - tudo por causa da seca que estava obrigando as famílias a deixarem o sertão da Paraíba.

          Anajô  já era apaixonada por Tobert, e ele sabia que a distância ia provocar uma saudade imensa, pois reconhecia a grande paixão que sentia por ela, mas prometeram contato telefônico pelo menos uma vez por semana. A despedida foi demorada e Tobert pegou pesado, deixando-a toda amarrotada e com os cabelos assanhados.

          No dia seguinte, ela viajou com a família em um caminhão de mudanças. O mesmo não aconteceu com a família dele, pois tiveram que esperar o locador confirmar o endereço em Goiânia.

          A viagem com destino a Apicum-Açu foi difícil, pois percorreram 1.300 quilômetros, passando pelo centro do  município  de  Bacuri,  chegando  ao destino às dezoito horas do segundo dia porque o caminhão atolou duas vezes depois que passaram pela cidade de Cururupu - Ma. Lógico que a previsão de chegada era bem antes.

          Anajô não sabia que a viagem era longa e não contava com os imprevistos. Se soubesse, não teria prometido ao namorado que iria telefonar para ele no dia seguinte para passar o número do telefone e o novo endereço. Mas, quando chegou ao destino, ficou sabendo que o posto telefônico ficava em Bacuri, pois em Apicum-Açu não tinha ainda rede de telefone. Só no quarto dia, após ter deixado o Estado da Paraíba, conseguiu ir a Bacuri  para  telefonar,  mas  não  conseguiu  falar  com  ele.  Falou  apenas com um vizinho, o qual avisou que, naquele mesmo dia, a família de Tobert tinha viajado para a capital de Goiás. No entanto, ele deixou recado avisando que ia deixar com o mesmo vizinho o novo telefone para contato. Ela retornou a Apicum-Açu preocupada porque não conseguiu falar com o seu namorado.

          Dois dias depois, a família de Tobert chegou a Goiânia após percorrer mais de 1.890 quilômetros, e só no dia seguinte ele soube que Anajô estava morando em um lugar sem progresso. Deixou o seu novo endereço e telefone com o seu amigo vizinho para ela poder se comunicar com ele.                                                                                        

          No dia seguinte, Tobert recebeu uma proposta para trabalhar  na capital paulista, e ele não pensou duas vezes: aceitou e viajou no dia posterior. Isso dificultou mais ainda para fazer contato com Anajô, pois ele demorou a avisá-la que tinha ido a São Paulo para ganhar um bom salário. E quando tentou passar a informação da novidade, o vizinho também tinha viajado para fugir da seca. Assim, Anajô e Tobert ficaram sem comunicação.

          O pai e o irmão de Anajô dedicaram-se à pescaria e se deram bem. A mãe aproveitou um forno grande, que existia na casa, e  aprendeu  a fazer farinha de mandioca. Anajô fez                   concurso para professor, foi aprovada e assumiu imediatamente a vaga para lecionar em um colégio em Bacuri – assim, ia ter chance de tentar ligar para Tobert diariamente.

          Após as vinte e duas horas, o motor gerador de energia da cidade era desligado. O município só não ficava escuro quando era período de lua cheia.

          Os dias foram passando e Anajô não conseguia saber notícias do namorado, e ele não soube mais dela, mas ele continuava considerando-a sua única namorada porque, mesmo de longe, ele não conseguia esquecê-la, e a  saudade aumentava todo dia enquanto ele ficava balbuciando o nome dela, sofrendo por causa da distância. Ele tantas vezes pensou em voltar, desistir de tudo só para dizer a ela que o amor não mudou, mas o silêncio tomava conta da saudade e a distância era a única responsável pela separação deles, e por isso, sem ela saber, ele morria todo dia de tristeza. E ela procurava o que tinha restado do amor, porque chegou a acreditar que ele já nem lembrava mais dela. Apesar das mudanças, ela não conseguia esquecê-lo  e  queria  uma  oportunidade para dizer que ela tentou deixar de amar, mas não conseguiu. Enquanto ela pensava assim, ele ficava imaginando se ela, alguma vez, ficou pensando nele; queria que ela não se esquecesse de lembrar que ele nunca a esqueceu...

          Roger Dageerre.  

                                                                                                                                             

                                                                                                                                             

 

                                                                                                               

 

                                                                                                                                                                                                                                                        

 

 

 

Enviar-me um e-mail quando as pessoas deixarem os seus comentários –

Roger Dageerre

Para adicionar comentários, você deve ser membro de Casa dos Poetas e da Poesia.

Join Casa dos Poetas e da Poesia

Comentários

  • Ás vezes, apesar dos infortúnios, é necessário sair da zona de conforto e lutar

    por aquilo em que se acredita ou por quem se ama!!!

    Perderam uma ótima oportunidade de serem felizes só por que não tomaram a 

    iniciativa de fazer o que o coração pedia!! 

    Belo texto Roger!!! Parabéns!!!

    71015000?profile=original

This reply was deleted.
CPP