Eu poderia acreditar que aquele som
Vinha de uma banda de anjos
Cheguei por instantes a parar e direcionar
O que restava de meus olhos aquele telhado
Caí então ao tropeçar numa gargalhada triste
O que estariam instrumentos dourados fazendo ali?
Imediatamente o choro de uma nova criança
Foi suplantado por bombas e gemidos
Igrejas em seus tijolos amarelos
Despedaçadas pela ausência de fé e
Represas rompidas que levaram as folhas
Restantes de um Outono quase esquecido
A Primavera fora queimada até
Das páginas amareladas das histórias em quadrinhos
E contrariando minhas expectativas pude observar
As perfeitas formas de um corvo sem rosto
Sua dança seus giros e contornos cativantes
Trouxeram de volta o som que acreditava ter ouvido
Ajoelhei-me e trouxe o sonho de volta
Percebi que era real em meu coração
E apenas eu poderia levar a notícia
Até as esquinas onde adormecia minha mente
Caminhava sobre as teclas cantando e buscando encontrar
O que toda uma geração havia deixado escapar
Naquele momento podia ter a certeza sagrada
Que o corvo com suas asas aconchegas tocava um blues
Levantei então o rosto marcado
Pela madeira rústica que me apoiava
Deixei ali um ou dois copos vazios de lamentações
Olhei em volta e percebi que já era verão
E eu nem sabia
Mas ainda acho que que os anjos tocaram um blues
Deus nos abençoe
Carlos Correa
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Parabéns Carlos!