Quando a viu era nada,
uma madeira cortada,
jogada num lamaçal.
Tomou-a em seus braços
e em sua oficina,
deu-lhe forma e textura
e as falhas cobriu com resina,
lixa nos nós com ternura.
Cada vez que a tocava,
mais bonita ficava,
buscando a perfeição,
deu-lhe um corpo perfeito,
formato de violão.
Sentiu-se realizado
e extremamente feliz,
ao untar-lhe todo o corpo
com selador e verniz.
Quando julgou terminado,
tomou-a em seu regaço,
esticou cordéis de aço
e lhe deu a harmonia.
Quando enfim terminada,
sendo assim linda e perfeita,
sofreu, mas sem desfeita,
pois teria que ser tocada.
Não mais por um marceneiro,
que faz da madeira ofício,
mas por qualquer violeiro.
Eis aí o grande suplício.
A este coube ensiná-la,
o que o outro não podia.
Pôs-se a tocá-la nas noites
em qualquer cervejaria.
De longe o luthier
não perdeu a esperança,
de um dia enfim rever
sua querida obra-prima.
Agora não mais criança,
a vida completou a obra,
de transformar a menina
em uma linda mulher!
Nesse simples pensamento,
por fim, ele compreendeu,
ser somente um instrumento,
a obra-prima é de Deus!
Comentários
Lindíssima poesia, Kleber. Parabéns.