NINGUÉM

                         “NINGUÉM”  

 

Corria livre, com o coração transbordando de liberdade pelos seus poucos anos de vida.

Era feliz, sentia-se maravilhoso e não pensava no futuro, pois longe ele estava e lá na frente as coisas também seriam tão boas quanto eram agora.

Não conhecia as dores, nem as mágoas e as tristezas que corroiam o dia-a-dia de muitas pessoas ao seu redor que ele, em sua santa ingenuidade desconhecia por completo.

Pensava somente naquilo que via e vivia para aqueles momentos que, mais tarde, se tornariam inesquecíveis.

Cresceu forte e sadio, pois sua mãe dedicou-lhe toda a afeição e carinho, possíveis.

Nunca lhe faltava nada, pois mesmo sendo pouco, nunca lhe faltava alimento na mesa.

Sua mãe trabalhava mais do que suas forças permitiam, para que pudesse mantê-lo como deveria.

O tempo foi passando e ele crescia a olhos vistos, dando muita alegria a sua mãe, que orgulhosa com o filho, tinha conseguido matriculá-lo numa bos Escola pois “pois iria aprender muitas coisas”, como ela mesma costumava afirmar.

Com muito sacrifício conseguiu que adquirisse certa base emocional que “muito valeria no futuro”, pelo menos era o que o orgulhosa mãe desejava do fundo do seu coração.

Porém, quis o destino que tudo aquilo que a boa mãe desejava, extinguice junto com seu último suspiro, numa tarde fria de inverno.

O sonho agora iria se transformar em pesadelo pois, sem recursos para dar continuidade aos estudos, teve que abandonar a Escola, onde tanta coisa boa coisa havia aprendido através daqueles mestres maravilhosos.

Conheceu, pela primeira vez, o significado das palavras: “desamparados e sozinho”.

Como não tinha ninguém que lhe amparasse, seguiu o curso de muitos outros:A rua”

Por mais que se esquivasse não teve outra alternativa a não ser deixar-se envolver pelas companhias que há muito tempo perambulkavam pelas “ruas da vida”, diua e noite.

Conseguia manter-se com muito custo, em dia com a leitura, graças aos jornais e revistas que eram atirados fora, pois pareciam não ter mais utilidade alguma.

Começou a sentir, através dos rios de lágrimas que derramava, a grande ausência daquela que tanto o ajudara e amara.

Com o passar do tempo aprendeu na “escola da vida” o desprezo que as ruas ensinavam.

O grande sonho de criança, em se tornar alguém famoso, estava se apagando para sempre e o pesadelo da tristeza agora preenchia o seu pequeno coração.

Sua casa era o gramado da praça e o seu teto, um céu escuro e tenebroso.

O medo o ensinou tudo o que foi poreciso, para sobreviver nesse mundo que lhe foi imposto pela fatalidade.

Um dia, sentado num banco de jardim, viu chegar e sentar ao seu lado um casal distinto com um filho, ao colo da mãe.

Relembrou com saudade sua querida mãe e se pôs a observá-los com mais atenção.

O homem estava todo vestido de branco, inclusive seus sapatos eram brancos e logo o identificou como sendo um médico.

Através dos cumprimentos das pessoas que por eles passavam, percebeu que se tratava de im famoso médico e a lembrança do seu sonho de criança, agora estava mais presente do que nunca.

Devagarinho foi se esgueirando para detrás do banco, até a chegar ao gramado onde, envergonhado, cobriu o rosto com as mãos para que não percebessem sua ansiedade.

“Poderia ter sido alguém assim”, pensou tristemente.

Porém lembrou-se do esforço que sua mãe fizera e, em consequência, morrera.

Por isso logo tirou da mente aquele pensamento que relembrava sempre que ouvia e via alguém famoso.

Um profundo sentimento de pesar abateu-se sobre ele e mais triste ainda ficou quando alguém apontando em sua direção, perguntou:

“Quem é aquele que estpa junto ao famoso médico”?

Perto do médico, não vejo ninguém, disseram logo.

Assim ele era conhecido: “um ninguém”.

 

 

 

JC BRIDON

 

 

 

 

 

 

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