Olhos de Topázio
Caminhava em direção do Laboratório de Análises Clínicas.
Carregava o celular na mão filmando a mim mesmo em modo selfie. Via o meu rosto e às minhas costas a calçada caminhava junto comigo e as árvores floridas de todas cores uma atrás da outra afastavam-se. Assim se pronuncia a maioria das ruas de minha pequena cidade.
De repente vejo um carro modelo conversível aproximar-se de mim aos meus pés já perto da entrada do laboratório.
Parei e respirei da falta de ar da bronquite.
Estacionou o tal carro com pneus rentes ao meio fio. O motorista de calças de tergal azul marinho , camisa sport fino branca e sapatos pretos com meias brancas. Homem de meia idade, cabelos baixos bem cortados alguns fios brancos, bigode grosso pretissimo, cerca de 1,85 m de altura. Saltou do carro e abriu a porta traseira e de lá desceu uma Senhora magrinha, cerca de 1,55 m de altura, cabelos brancos lisos e finos e ralos penteados para trás fechando com um maravilhoso coque e a mim me pareceu uma idosa de qualquer idade.
Pensei: " cabelo de pessoa evangélica"
Trazia consigo uma bolsa média de mão vermelha, sapatos vermelhos salto alto trancados, em um conjunto tailleur branco rendado.
Entramos juntos no Laboratório e como cavalheiro abri a porta para que tivesse a preferência. Ela disse: Grata Senhor.
No balcão ela pediu uma senha prioritária número 590 e em seguida peguei o número 591.
Pensei: " 590 e 591 é urso no jogo do bicho, amanhã vou apostar em duas milhares, mas como se tenho duas centenas...Ora, ponho um zero na frente das centenas e tenho duas milhares, 0590 e 0591...Sorte é sorte.."
Ela seria chamada pela senha na tela da televisão da sala de espera e fora atendida no guichê 1, logo em seguida fui atendido no guichê 2. Mandaram-nos aguardar na 2a sala de espera e esperar a chamada para o exame pelo nome...
Sentei no mesmo sofá daquela Senhora e observei que tinha a cor dos olhos azuis, muito azul estoteante, um legítimo topázio azul lapidado , olhos brilhantes de vida. Formato amendoado e ao contrário dos cabelos ralos, sobrancelhas afiladas fortes e cílios espessos.
Nós dois ali em silêncio, nenhum outro pretendente a exames. Passados menos de 5 minutos ela me pergunta.
- Qual o seu nome Senhor?
- Eu sou Antonio.
- Antonio; O Sr. gostaria que eu lesse às suas mãos.
- O meu é Izabel, mas me chamam de Dona Izabel
Pensei: " Ela é uma cigana, pratica a quiromancia por hobby ou por fé, uma quironante ambulante, como dizer que não acredito em nada disso, que sou Ateu, vai se aborrecer se eu disser a verdade, devo mentir, disfarçar. .. não posso negar este pedido desta Senhora tão linda de trejeitos e educada. "
- Pois não Senhora Izabel, faço questão que leia as minhas mãos.
Dona Izabel achegou-se mais perto de mim, pegou minha mão esquerda, abriu bem em suas pequenas mãos delicadas e disparou.
- Antonio, Sr. Antonio, o Sr. não é Ateu...
Pensei: "Estou sem chão, o que dizer, como pensar agora. Ela leu meu pensamento em minha mão...Eu sou Ateu convicto..Nem em alma eu acredito. "
- Sim, Dona Izabel, eu confio na Senhora.
- Antonio, que exame o Sr. vai fazer hoje.
Mostrei a ela uma cópia do exame. Ela vi, leu e..
- Antonio, eu não disse ao Sr. que o Sr. não é Ateu
Fim
Antonio Domingos
30/01/2020
Comentários
Parabéns pelo belo conto, Antônio!
Abraço