Sementes

Eu podia compreender sua chegada
Minha pele captava em contrações crescentes
O toque frio de sua presença
O zunido se espalhava no prelúdio à toada

Mas as bétulas não se importavam
Deitavam em prazer e seresta entregando-se
Ao vento que levaria suas sementes
O perfume da volúpia de suas flores

Ele cruzou verdes vales secou lágrimas
Condensou sentimentos inspirou trovas e bardos
Até chegar ali por detrás das montanhas escuras

As gaitas de fole preenchiam o ambiente
Aquelas vindas de um tempo mágico
E eu assim como as bétulas não me importava
O sol se deitava sobre o horizonte
Dividindo a fronteira da fantasia
E o céu antes azul agora desenhado
Em lousa rubra

Mas o vento não viera solitário
Brancas cumulus tornando-se rose
Ao sobrevoar as montanhas escuras
E agora sobre mim e as bétulas
Que zuniam eufóricas
No Balanço de seus troncos
E eu pude ver as sementes livres
A voar nas asas do vento
Como se admirasse o espetáculo de milhares de fadas
Dançando ao som das gaitas

Baixei os olhos deixando que bétulas e fadas festejassem
Mas ao primeiro passo de volta
Os foles silenciaram e o vento mudou
O ritmo da criação

E ao olhar pra cima como quando criança
Admirado com a metamorfose das nuvens
Pude ver as gotas que cairão como chuva
Se realinhando em seu corpo vestido de vermelho
Dois pequenos orifícios no desenho algodoado
E destacavam-se seus olhos com os vales por detrás

Como neblina que baixa
No novo ritmo do vento maestro
Dançamos nos movimentos da tourada
Onde a espada fora substituída
Pelo Toque de suas mãos a capa seu vestido
E as bétulas gritando olé...

Mas a noite chegara
O vermelho no céu se apagou
E vi seu corpo dissolver-se no clímax da chuva
O meu molhado e marcado
E as sementes das bétulas...
...semeadas agora em palavras.

Deus nos abençoe
Carlos Correa

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