Dona Doida
Uma vez, quando eu era menina,choveu grosso
com trovoadas e clarões, exatamente como chove agora.
Quando se pôde abrir as janelas,
as poças tremiam com os últimos pingos.
Minha mãe, como quem sabe que vai escrever um poema,
decidiu inspirada: chuchu novinho, angu, molho de ovos.
Fui buscar os chuchus e estou voltando agora,
trinta anos depois. Não encontrei minha mãe.
A mulher que me abriu a porta riu de dona tão velha,
com sombrinha infantil e coxas à mostra.
Meus filhos me repudiaram envergonhados,
meu marido ficou triste até a morte,
eu fiquei doida no encalço.
Só melhoro quando chove.
Adélia Prado
🌼
Publicado por Lilian Ferraz
19/05/2023
Comentários
Lilian:
Uma pintura de lembranças que se enternizam.
Parabéns
Abraços
JC Bridon
Grata pelo carinho 🥰
Linda composição de Adélia Prado!
Agradeço pela partilha.
Bjs
Grata, nobre poetisa. 🌷🤩
Eu também melhoro quando chove. Magnífico!
Amei 🤩
Parabéns pela linda postagem!!
😘🤩🌷
Bela publicação de Adélia Prado. Parabéns Lilian.
Abraços de Antonio Domingos
Grata pela apreciação 💐