VENCENDO O DESAFIO

                                                      “VENCENDO O DESAFIO”

 

Lá pelos idos de 1950 estava eu cursando à época o Ginasial, que mais parecia uma faculdade e tentando desenrolar a língua nos idiomas inglês, francês, português e o incrível LATIM.

Tinha lá meus 12,13 aninhos e para uma criança aquilo era um verdadeiro pesadelo estudar matérias como física, matemática, ciências dentre outras.

Ia caminhando assim pelo meu 2º ginasial, no Colégio Franciscano Santo Antônio, na cidade de Blumenau-SC, vizinha à nossa pequenina Gaspar, quando determinado dia, acredito que lá pelo mês de agosto, o professor, durante a aula e na frente de todos, mandou que eu me levantasse e disse com um sorriso malicioso em seus lábios: “estão vendo o 1º aluno que, mesmo antes do final do ano já considero como rodado?

Levei um choque!

Claro que minhas notas não eram as melhores ou seriam as piores da turma?

A gozação foi geral e a turma caiu em cima de mim, mas eu tinha algo que nem ele, nem ninguém, tampouco eu próprio acreditava: força de vontade e determinação.

Chegando em casa, falei para os meus pais o que ele havia dito e eles que acreditavam muito em mim disseram:

Vamos falar com o Padre Frei Antonino, da nossa Paróquia que ele vai te ajudar com esse tal LATIM.

Foram lá, falaram com ele e ele mais que depressa e feliz disse:

Manda-o vir aqui todas as tardes para que ele aprenda e farei o possível para ensiná-lo.

Então todas as tardes e até o princípio das provas, no final do ano, lá ia eu, subindo aquela montanha, de bicicleta, empurrando é claro, as aulas com o querido Frei.

Naquela época tínhamos provas escrita e oral. Era uma coisa doida para nossa idade.

Precisava de 9 na escrita e 9 na oral.

Estava frito, ou melhor, ferrado, como se diz hoje!

Para mim, não tinha dia de chuva, sol, frio ou calor, todos os dias, à mesma hora, subia o morro da Matriz e me encontrava na Casa Paroquial com o “meu querido amigo Padre”.

Foi um tremendo esforço meu e dele, agora sei disso.

Esse idioma, só decorando mesmo!

Bem, chegou à época das provas finais.

Como eu sabia tudo, ou melhor, decorara tudo, tinha certeza de que não seria, pelo menos naquela matéria, reprovado.

Minha nota escrita foi 10!

Desconfiado que eu havia colado e como o professor deve ter comentado na sala de reuniões deles, tudo chegou ao conhecimento do Diretor daquele Educandário que era, por acaso, parente do meu pai.

Quando chegou a prova oral, logo no início, quando todos: professores e alunos estavam prontos para o tão esperado momento, adentrou a nossa sala o Diretor do Colégio.

O professor ficou espantado e disse:

“O senhor não precisa participar, não perca seu tempo aqui conosco, o Sr. deve ter outras preocupações mais sérias”.

No entanto, o querido mestre foi logo dizendo:

Preciso hoje, agora, estar aqui. Tenho meus motivos e olhou para mim.

Assim começou a tal prova oral!

Em cima das mesas, tanto dos professores, quanto do diretor, tinha lá uma sacolinha com o nr. dos pontos.

Ele, o professor, estendeu-a para mim e disse:

Tire um papelzinho!

O Diretor olhou para ele e falou:

Por que não deixas que ele mesmo o tire?

Ambos se entreolharam e ele então disse:

Podes tirar!

Olhei bem para ele e disse:

O que tirar aqui eu vou saber, porque estudei bastante.

Então ele mesmo fez o que deveria fazer e ali começou o que talvez, para ele, fosse a desforra e, para mim, a alegria do saber.

Traduzir textos de português para Latim e vice e versa, conjugar verbos em latim, enfim, tudo o que, sabiamente alguém especial havia me ensinado.

Durante um bom tempo ficamos assim e quando acabamos ele olhou para o Diretor, para mim e falou, dirigindo-se ao Mestre Presidente do Colégio:

Será que meus olhos e ouvidos estão em boa forma, pois até uns meses atrás já era considerado reprovado.

O Diretor olhou para ele e perguntou?

Que nota ele merece, professor?

Creio que um 10!

Virou-se para mim, olhou-me fixamente e perguntou eufórico “e você, que nota acha que merece?”

Olhou bem para o professor e disse:

Eu mereço nota 10, pois eu aprendi o livro inteiro de cor, sei até em que páginas estavam aquilo que me foi perguntado.

Relembro agora, com carinho o tempo gostoso que passei no Colégio que muito amava e aprendemos todos uma lição:

“Não julgues antecipadamente, porque podes ter uma grande surpresa, com aquilo que pensas saber”.

Aprendi, com a vida, que vencer faz parte do ser humano e que ele consegue o que quer, desde que seja para o bem.

Belas recordações do meu tempo de pré-adolescência.

 

 

JC BRIDON

 

20/05/2016

 

 

 

 

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Comentários

  • Gestores

    Interessante. Eu passei por uma experiência semelhante com as disciplinas "Matemática" e em outra época, "Ciências".

    Também agi como você. Estudei bravamente e tirei 100 ou 10 nas provas finais.

  • Grande lição de superação e amizade do querido frei. Parbéns por relatar esse momento especial da sua vida.

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