HERANÇA
Passai o arco das vossas sobrancelhas,
Exatamente igual, à minha testa,
Por ser cúpula de altas reflexões
Que fino cuidado de amor atesta.
Doai a clara luz dos vossos olhos
À memória dos tempos venerados
Para, estrela, clarear, no presente,
Noites isentas dos dias passados.
Deixai a linha do vosso sorriso
Estender os cantos da minha boca
E assim reviver a antiga alegria
Que vossa partida torna tão pouca.
Transferi a força das vossas mãos
À minha saudade, que não dispensa
O peso tantas vezes redobrado
De todos os fardos da vossa ausência.
Entregai-me a vossa serenidade,
Nos claros do sonho e do pensamento,
Que me dará compreensão da morte
Como bênção de um renascimento.
Comentários
Bela e emocionante configuração nesse poema Safira.
Vi nela também as mãos de minha mãe, com 93 anos, a qual cuido como um meu bebê, pois já as forças estão se esvaindo debaixo de meus olhos.
Esse poema do Edvaldo nos toca profundamente, pois não vemos mesmo o que realmente se vai indo, mas o que mais prestamos atenção. Portanto irei daqui por diante, prestar mais atenção aos detalhes e olhar mais nos olhos. Sei que doerá ainda mais meu coração, mas o farei.
Grata por compartilhar conosco esse poema, que me chamou a atenção para o olhar mais minucioso a quem nos deu a vida.
Desculpe-me este desabafo em sua página e poema caro poeta, mas a emoção foi mais forte e escrevi o que sinto.
Mais uma vez parabéns ao poeta e à artista.
Veraiz Souza
Sim, Veraiz, minha amiga, prestar atenção à passagem do tempo para eles, constatar a sua fragilidade e a separação cada vez mais próxima, é causa de nossa dor, mas é também um chamado para que cada momento seja vivido intensamente.
Agradeço suas palavras - e não há o quê desculpar, ao contrário, só a agradecer pela leitura e gentileza do comentário e compartilhamento de sua emoção.
Abraço o seu coração de filha, Veraiz!
A emoção tomou conta de minha alma e meu ser.
Grata poeta.
Abraços
Veraiz
Veraiz, quando escrevemos, queremos compartilhar nossa emoção - quando a recebemos de volta, como esse comentário tão gentil, sentimo-nos pagos com a melhor moeda pelo nosso esforço: o poema cumpriu sua função ao criar uma ponte entre quem lê e quem escreve. Obrigado!
Sempre um privilégio ter a sua arte final para meu texto! Você é uma perfeita "casamenteira" do texto com a imagem! Se me permite uma brincadeira: nem Santo Antônio consegue fazer casar tão direito e tão bonito assim! rsrs Parabéns pela sua percepção tão ajustada entre o que se vê e o que se lê! Muito obrigado! Um abraço!
Grato, Meire! Duas vezes: pelo comentário e pela amizade (acabei de responder à sua mensagem!).
Grato, ainda, pela terceira vez: nunca antes havia sido cumprimentado com um "Bravo" - e gostei muito! Um abraço!
Pai e mãe vão esmaecendo devagar, assim como esmaece o sol nos fim de tarde, é um processo natural, até chegar a completa ausência de suas presenças em nossa vida.
Poema lindo, todo em versos brancos. Exímia obra. Parabéns e meus aplausos. Bom domingo.
Destacado!
Sempre atenciosa à minha publicação e sempre generosa no comentário: obrigado, Edith! Muito bom receber suas palavras! Alegra-me muito que tenha avaliado e gostado - o destaque é uma distinção com que você me brinda! Só posso agradecer mais uma vez!
Este texto é muito importante para mim: o esmaecimento dessas luzes em minha vida não foi percebido (eu via os cabelos brancos, o passo lento, mas parecia que seriam eternos...) e eis que a noite chegou. Definitiva. Mas ainda é o brilho da claridade deles que me amanhece para a vida. Sagradamente.
Então é isso, Edvaldo, é assim que deve ser e, assim, deveriam ser todos os filhos, ao cume de vossas experiências, ter como luz o legado de vossos pais, quem sabe não existiriam tantos asilos. Até mais ler.
Bela tarde.