Os reveses da minha vida

Suguei toda a minha placenta

ainda semente num ventre às escuras

prisioneira em águas lamacentas

já nasci com nós e fissuras.

Fecundada num descuido de prazer

sem o intuito de um dia ser amada

o meu sorriso morreu logo ao nascer

era um feto, pouco mais...ou mesmo nada.

Nem me lembro sequer de ser embalada

nas cordas vocais de minha Mãe

na minha memória só guardo a almofada

a cor das lágrimas que ela contém.

Salgada é a minha recordação

análoga a um balão de soro

cravado para uma longa transfusão

confundido com o soluço do meu choro.

Todo o amor que lhe fora conferido

Mãe que é Mãe... abraça seu filho com ternura

sempre deixou o meu coração tão sofrido

pelo desprezo e a sua amarga secura.

O tempo construiu a sua própria mortalha

deixando-a na solidão de uma beata

deitada no chão de uma muralha

rodeada unicamente de nada... nada.

Cristina Maria Afonso Ivens Duarte

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Cristina Ivens Duarte

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Comentários

  • Minha Nossa...

    Não tem como não chorar - lendo tal expressão da mais profunda dor poética!

    (...)

    Fecundada num descuido de prazer

    sem o intuito de um dia ser amada

    o meu sorriso morreu logo ao nascer

    era um feto, pouco mais...ou mesmo nada. (...)

    ...

    APLAUSOS CHOROSOS DIANTE DE TAL INSPIRAÇÃO!

    gaDs!

  • Nossa amiga, chorei! Identifiquei um pouco com teus tristes e profundos versos, me emocionei...

    Magnífica obra! Parabéns!

  • Que triste! Me emocionou,duras confissões de um ser fissurado pela falta do afeto materno, que é tão primordial principalmente na primeira infância.

  • Quem não tem amor de mãe, fica preso, psiquicamente, a uma infância destruída. Tristes e belos versos! Bjs

  • Primorosa trovadora, não tenho expressões para delinear a admiração como escreve seus poemas.

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