“Porque a vida é somente teu bicho-papão.” (Vinicius de Moraes)
Minha memória não registra o momento preciso em que me foi apresentado o bicho-papão. Sei, no entanto, que, desde a infância mais remota, carrego esse monstro na lembrança. Já nas minhas primeiras recordações ele estava à espreita, com seu olhar cruel, para, na primeira oportunidade, dar o bote e punir a frágil criança pelos deslizes e desobediências. Embora nunca o tivesse visto, pressentia a sua monstruosidade e ela me aterrorizava. Tremia só de pensar em ser atacado pela horripilante criatura que residia em minha mente inocente. Mesmo em momentos que não deveria estar presente, ele era evocado na canção de ninar: "Bicho papão, sai de cima do telhado, deixe esse menino dormir sossegado." Ao contrário do que pretendia, a música e nada me aliviava e o medo ainda mais me afligia, pairando sobre minha cabeça e perturbando até que eu fosse vencido pelo sono.
Sendo a própria personificação do medo, capaz de tomar formas diferentes para atacar e devorar meninos desobedientes, por muito tempo eu acreditei que o monstro fosse comunista e devorasse criancinhas. Hoje, refletindo melhor, percebo que a perversa criatura sempre me acompanhou, camuflada nas mais diversas formas, um mutante capaz de ameaçar me devorar a todo e qualquer momento, diante do menor deslize. Nem sempre com esse nome, o bicho- papão sempre esteve pronto para me punir. Às vezes em forma de pesadelos em noites mal dormidas, depois de um dia atribulado. Outras, citado nas lições bíblicas que aprendi nas manhãs dominicais na igreja, na figura fria e abstrata do pecado. Ou, então, na homilia do sacerdote ao enaltecer as proezas dos demônios, nas punições divinas ao servo pecador.
Na fase escolar, a besta surgia pavorosa em uma prova de matemática, me metendo medo e castigando com notas vermelhas. Quando adolescente, a temível criatura me atormentava a consciência por ter praticado desobediências a preceitos religiosas ou por atos libidinosos, por um pensamento de desejo sexual diante de uma frustrante masturbação porcamente executada. Na juventude, poderia estar incorporada ao bravo pai da garota que eu cortejava, limitando minha audácia e impedindo de invadir territórios íntimos e perigosos.
Não sei quando e se deixei de sentir medo do tal bicho-papão. Tento acreditar que se fora, mas percebo que ele se recusa a se afastar de mim e se transfigura para ressurgir em diferentes momentos, com rostos distintos. Pode reaparecer disfarçado na falta de dinheiro que é fatal, assombrar na forma de desemprego, se mostrar cruel no resultado malsucedido de uma aplicação financeira, ou revelar sua fealdade no diagnóstico incompreensível de um exame de saúde.
Agora, experiente, entendo que o bicho papão —- ou outro monstro qualquer — é a personificação de tudo o que nos aflige ao longo da vida e, nessa altura da existência, se alimenta da realidade de uma aposentadoria defasada, do desgaste do corpo consumido pelo tempo e da incerteza da cura de uma enfermidade qualquer.
No alto de uma montanha havia um pequeno castelo e nele morava um senhor idoso cujo nome era Rosalvo, que vivia apenas na companhia de um bichano de cor acizentada. O bichano era um gato muito amável ao qual fora dado o nome de Linguinha, pois ele vivia a lamber a perna de Rosalvo durante a noite antes que este caísse no sono. Senhor Rosalvo se sentia muito só por não ter com quem dialogar, então, para tentar aplacar um pouco dessa tristeza, conversava por longas horas com linguinha, mesmo não tendo uma recíproca, a não ser uns poucos miaus que o meigo gatinho fazia olhando nos olhos de seu amado dono.
Apesar da solidão, Rosalvo se sentia amado por aquela inocente criatura que mesmo sem qualquer tipo de glosssa, conseguia falar com o olhar e transmitir um pouco de alegria ao solitário idoso. Linguinha era um gato esperto, peralta e carinhoso e não desgrudava de seu senhor por um instate sequer.
Certo dia, Linguinha foi acometido por uma doença e mesmo com todo cuidado de Seu Rosalvo, o pobre bichano não resistiu e veio a morrer. Rosalvo, chorou amargamente e fez um túmulo ao pé da porteira de seu castelo onde depositou seu amigo de tantos anos. Os dias se passavam e Rosalvo se sentia cada vez mais só e era abatido por tanta saudade daquele que toda noite lhe acariciava com sua pequena língua.
Numa noite fria de outono, a lua estava cheia e embelezava o céu do pequeno castelo. Rosalvo já estava deitado e quase pegando no sono quando de repente ouviu lá no fundo um doce miado. Levantou-se apressadamente e foi até a janela que dava frente para a porteira de entrada. Com os olhos meio embaçados, pensou que estava vendo coisas, mas não, era seu amado gatinho que viera fazer-lhe uma rápida visita apenas para matar um pouquinho da saudade de seu velho dono. Parecia que Linguinha ouvia lá de seu confortável túmulo os tristes lamentos de Rosalvo por ter perdido um amigo tão querido. Porém, após alguns poucos miados para matar a saudade, Linguinha desaparecia repentinamente.
Rosalvo foi deitar-se alegre por ter visto seu amigo, ainda que a meia distância, mas foi o suficiente para alegrar seu coração. Assim, todas as vezes que Rosalvo era tomado por profunda tristeza advinda da solidão que o abraçava, Linguinha saía de seu túmulo, subia na porteira e entoava cânticos de miados para alegrar aquele que durante anos fora seu melhor amigo.
Senhor Rosalvo descobriu que o melhor amigo não é aquele que se expressa por palavras, mas sim aquele que fala com o coração cujas palavras saem da sinceridade de um olhar.
E naquela fazenda cheia de mistérios, onde José gostava de viver, ele vivia feliz, apesar de ter um gênio muito difícil. gostava de ficar vendo seu gado pastando, cavalos soltos, galinhas e patos passeando pelo quintal, passarinhos cantando, luar a noite, vagalumes, gatos fazendo festa namorando nos telhados, ou brigando pelo seu espaço, vida abundante e pulsante. belo cenário de quem mora na roça.
José sempre foi uma pessoa meio egoísta. Teve muitos filhos, mas não tinha vivência plena com nenhum. Sempre achava que os filhos queriam tomar seu lugar, suas terras, mandar em sua casa. Sempre foi agressivo com os filhos, desde a infância já os mandava “pastar” e tantos outros xingamentos. Os filhos foram crescendo e pegando outros rumos indo embora de casa.
Dizia o mais velho:
-Não dá para morar com o papai. Ele é muito radical, possessivo e não dá espaço nem para que possamos ajudá-lo, não nos deixam plantar e cultivar as terras.
Assim se passaram os anos e um a um dos filhos foram morar na cidade. Mas como tudo na vida tem suas consequências, ele ficou velho e muito doente. As terras estavam sem cuidado, virando mata fechada, e por pouco não perde tudo para o governo.
E foi assim que a vida lhe deu o troco, hoje ele é cuidado pelos filhos que ele tanto tocou de casa, suas terras estão nas mãos dos filhos, que ensinaram e disseram para ele o que é o amor. Ele ainda teve a chance de receber amor dos filhos, que se fossem maus, poderiam ter se vingado dele e o colocado num asilo. Mas a mãe sempre generosa plantou muitas sementes de amor e perdão na alma de seus rebentos. Hoje o velho pai recebe amor e carinho de todos os filhos. A vida ainda foi muito boa com ele, que aceitou enfim a ajuda dos filhos. E compreendeu enfim o verdadeiro amor.
Dona Maria era uma senhora matriarcal e seguia os padrões aprendidos na família por décadas a fio. Morava numa bela fazenda e possuía casa na cidade, e era para lá que todos iam nos finais de semana. Iam de charretes num lindo comboio. E os domingos eram sagrados naquela família, levantar, tomar café e ir para a missa juntos. E dizia D. Maria com ênfase:
- Precisamos rezar e sempre buscar as bençãos de Deus, sem a luz fica difícil viver. Refletir sempre nos doze mandamentos de Deus traz paz e respeito, para todos, e vivemos melhor.
Havia uma pessoa mais turrona na família o filho Joaquim, e questionava, que Deus nem existia, que se não trabalhasse todos morreriam de fome. Mas ela sempre rebatia.
- Mas para você trabalhar precisa de saúde, até de sorte para dar certo nos negócios, na plantação, nas vendas... Precisamos da energia positiva do Divino sim, e de todos, nas bençãos para fazer girar a economia. Se não quiser ter fé, terei por toda a família. E rezo para você ter sempre saúde e paz interior. Atrair boas energias para todos é se armar da luz da proteção Cósmica na jornada da vida.
E lá ia a família buscar forças em sua crença religiosa, aliás não importa qual, e sim a busca pela Divindade, pelo sagrado que habita dentro de cada pessoa, pois sabemos que há duas forças comandando a vida, o mal e o bem. É preciso se armar também com pensamentos positivos para focar na luta do sucesso na vida...
E assim a vida continua, lembrando dos gatos fazendo festas nos telhados e quintais, seja das fazendas e casebres, ou das casas na cidade...ficam afetos e
ensinamentos que vão de geração a geração que ficam povoando as lembranças e memórias de cada família. E a vida vibrando a cada luar esperando por cada novo amanhecer
Era na varanda que se encontravam. Assim que ouvia o tropel da besta ferrada nas pedras da calçada, se esgueirava pela casa, cuidando-se de pisar leve nas tábuas rangedeiras do piso. Lamparina apagada na mão, o esperava. Ouvia-o desarrear o animal, raspá-lo e colocar a cuia de milho no cocho. Os dentes da mula triturando o cereal e o tinir das rosetas em cada passo do amado. Se abraçavam e o amor se dava ali mesmo no assoalho. Sem culpa, sem medo, sem pudor...
Eles sabiam que, entre os vivos, só a menina mais pequena os podia ver.
Havia uma estrada que levava aqueles arredores, que eram pouco habitados. na verdade, no final da rua, tinha somente um casebre velho, e antes uma antiga figueira, que estava ali desde tempos imemoriais, e umas três casas que compunham a paisagem triste e abandonada daquela ruazinha.
Durante o dia , poucos circulavam por ali, a noite, quase ninguém, e nesta noite fria e chuvosa, o carro de Frederico, assolou a ruazinha, inusitadamente. Parou, justamente naquela trecho onde havia a figueira, ele, sempre muito arrojado, tinha decidido sair pelos arredores da cidade e foi acabar justamente lá, saiu e olhou o lugar, feio e esquisito. Sem medo, acendeu um cigarro, e se pôs a olhar de onde estava a paisagem de outro ponto de vista. Queria algo novo, ele era arrojado e inovador, porque será que ninguém tinha prestado atenção naquela rua? Olhou, umas lâmpadas acesas nas poucas casas da rua. a árvore centenária, e o velho casebre abandonado. Com um pouco de audácia e dinheiro transformaria aquilo num ótimo empreendimento. Decidiu voltar ao carro e ir embora, proporia a construtora esta ideia, afinal ele como acionista, tinha lá seus privilégios, e iria brigar para mudar aquele lugar. Antes de entrar no carro, ouviu um ruído nos arbustos, ao lado, pegou a lanterna no carro, e foi conferir, deveria ser um préa, um gato ou um cachorro, ele gostava de animais. Não precisou muito foco de luz, e viu sair correndo lá para o casebre um gato assustado, e por isso um tanto agressivo. Subiu no muro, encolheu-se entre os arbustos, e ficou a emitir sons, que deixaram Frederico cismado. Tentou chamar o gato, mas este estava arredio e se enfiou no meio do mato alto, ao redor do casebre. Gatos, sempre os gatos, pensou Frederico. Tudo acontecendo como ele queria, os gatos ali teriam mais companhia, quem sabe ele até seria adotado. Se viu falando sozinho, riu da situação. Entrou no carro e seguiu para casa.
Respostas
BICHO-PAPÃO
“Porque a vida é somente teu bicho-papão.” (Vinicius de Moraes)
Minha memória não registra o momento preciso em que me foi apresentado o bicho-papão. Sei, no entanto, que, desde a infância mais remota, carrego esse monstro na lembrança. Já nas minhas primeiras recordações ele estava à espreita, com seu olhar cruel, para, na primeira oportunidade, dar o bote e punir a frágil criança pelos deslizes e desobediências. Embora nunca o tivesse visto, pressentia a sua monstruosidade e ela me aterrorizava. Tremia só de pensar em ser atacado pela horripilante criatura que residia em minha mente inocente. Mesmo em momentos que não deveria estar presente, ele era evocado na canção de ninar: "Bicho papão, sai de cima do telhado, deixe esse menino dormir sossegado." Ao contrário do que pretendia, a música e nada me aliviava e o medo ainda mais me afligia, pairando sobre minha cabeça e perturbando até que eu fosse vencido pelo sono.
Sendo a própria personificação do medo, capaz de tomar formas diferentes para atacar e devorar meninos desobedientes, por muito tempo eu acreditei que o monstro fosse comunista e devorasse criancinhas. Hoje, refletindo melhor, percebo que a perversa criatura sempre me acompanhou, camuflada nas mais diversas formas, um mutante capaz de ameaçar me devorar a todo e qualquer momento, diante do menor deslize. Nem sempre com esse nome, o bicho- papão sempre esteve pronto para me punir. Às vezes em forma de pesadelos em noites mal dormidas, depois de um dia atribulado. Outras, citado nas lições bíblicas que aprendi nas manhãs dominicais na igreja, na figura fria e abstrata do pecado. Ou, então, na homilia do sacerdote ao enaltecer as proezas dos demônios, nas punições divinas ao servo pecador.
Na fase escolar, a besta surgia pavorosa em uma prova de matemática, me metendo medo e castigando com notas vermelhas. Quando adolescente, a temível criatura me atormentava a consciência por ter praticado desobediências a preceitos religiosas ou por atos libidinosos, por um pensamento de desejo sexual diante de uma frustrante masturbação porcamente executada. Na juventude, poderia estar incorporada ao bravo pai da garota que eu cortejava, limitando minha audácia e impedindo de invadir territórios íntimos e perigosos.
Não sei quando e se deixei de sentir medo do tal bicho-papão. Tento acreditar que se fora, mas percebo que ele se recusa a se afastar de mim e se transfigura para ressurgir em diferentes momentos, com rostos distintos. Pode reaparecer disfarçado na falta de dinheiro que é fatal, assombrar na forma de desemprego, se mostrar cruel no resultado malsucedido de uma aplicação financeira, ou revelar sua fealdade no diagnóstico incompreensível de um exame de saúde.
Agora, experiente, entendo que o bicho papão —- ou outro monstro qualquer — é a personificação de tudo o que nos aflige ao longo da vida e, nessa altura da existência, se alimenta da realidade de uma aposentadoria defasada, do desgaste do corpo consumido pelo tempo e da incerteza da cura de uma enfermidade qualquer.
SAMUEL DE LEONARDO - TUTE
Amigo sem palavras
No alto de uma montanha havia um pequeno castelo e nele morava um senhor idoso cujo nome era Rosalvo, que vivia apenas na companhia de um bichano de cor acizentada. O bichano era um gato muito amável ao qual fora dado o nome de Linguinha, pois ele vivia a lamber a perna de Rosalvo durante a noite antes que este caísse no sono. Senhor Rosalvo se sentia muito só por não ter com quem dialogar, então, para tentar aplacar um pouco dessa tristeza, conversava por longas horas com linguinha, mesmo não tendo uma recíproca, a não ser uns poucos miaus que o meigo gatinho fazia olhando nos olhos de seu amado dono.
Apesar da solidão, Rosalvo se sentia amado por aquela inocente criatura que mesmo sem qualquer tipo de glosssa, conseguia falar com o olhar e transmitir um pouco de alegria ao solitário idoso. Linguinha era um gato esperto, peralta e carinhoso e não desgrudava de seu senhor por um instate sequer.
Certo dia, Linguinha foi acometido por uma doença e mesmo com todo cuidado de Seu Rosalvo, o pobre bichano não resistiu e veio a morrer. Rosalvo, chorou amargamente e fez um túmulo ao pé da porteira de seu castelo onde depositou seu amigo de tantos anos. Os dias se passavam e Rosalvo se sentia cada vez mais só e era abatido por tanta saudade daquele que toda noite lhe acariciava com sua pequena língua.
Numa noite fria de outono, a lua estava cheia e embelezava o céu do pequeno castelo. Rosalvo já estava deitado e quase pegando no sono quando de repente ouviu lá no fundo um doce miado. Levantou-se apressadamente e foi até a janela que dava frente para a porteira de entrada. Com os olhos meio embaçados, pensou que estava vendo coisas, mas não, era seu amado gatinho que viera fazer-lhe uma rápida visita apenas para matar um pouquinho da saudade de seu velho dono. Parecia que Linguinha ouvia lá de seu confortável túmulo os tristes lamentos de Rosalvo por ter perdido um amigo tão querido. Porém, após alguns poucos miados para matar a saudade, Linguinha desaparecia repentinamente.
Rosalvo foi deitar-se alegre por ter visto seu amigo, ainda que a meia distância, mas foi o suficiente para alegrar seu coração. Assim, todas as vezes que Rosalvo era tomado por profunda tristeza advinda da solidão que o abraçava, Linguinha saía de seu túmulo, subia na porteira e entoava cânticos de miados para alegrar aquele que durante anos fora seu melhor amigo.
Senhor Rosalvo descobriu que o melhor amigo não é aquele que se expressa por palavras, mas sim aquele que fala com o coração cujas palavras saem da sinceridade de um olhar.
Erick Leite
Obrigado Margarida, fico feliz por ter gostado.
Lição que a vida dá...
E naquela fazenda cheia de mistérios, onde José gostava de viver, ele vivia feliz, apesar de ter um gênio muito difícil. gostava de ficar vendo seu gado pastando, cavalos soltos, galinhas e patos passeando pelo quintal, passarinhos cantando, luar a noite, vagalumes, gatos fazendo festa namorando nos telhados, ou brigando pelo seu espaço, vida abundante e pulsante. belo cenário de quem mora na roça.
José sempre foi uma pessoa meio egoísta. Teve muitos filhos, mas não tinha vivência plena com nenhum. Sempre achava que os filhos queriam tomar seu lugar, suas terras, mandar em sua casa. Sempre foi agressivo com os filhos, desde a infância já os mandava “pastar” e tantos outros xingamentos. Os filhos foram crescendo e pegando outros rumos indo embora de casa.
Dizia o mais velho:
-Não dá para morar com o papai. Ele é muito radical, possessivo e não dá espaço nem para que possamos ajudá-lo, não nos deixam plantar e cultivar as terras.
Assim se passaram os anos e um a um dos filhos foram morar na cidade. Mas como tudo na vida tem suas consequências, ele ficou velho e muito doente. As terras estavam sem cuidado, virando mata fechada, e por pouco não perde tudo para o governo.
E foi assim que a vida lhe deu o troco, hoje ele é cuidado pelos filhos que ele tanto tocou de casa, suas terras estão nas mãos dos filhos, que ensinaram e disseram para ele o que é o amor. Ele ainda teve a chance de receber amor dos filhos, que se fossem maus, poderiam ter se vingado dele e o colocado num asilo. Mas a mãe sempre generosa plantou muitas sementes de amor e perdão na alma de seus rebentos. Hoje o velho pai recebe amor e carinho de todos os filhos. A vida ainda foi muito boa com ele, que aceitou enfim a ajuda dos filhos. E compreendeu enfim o verdadeiro amor.
(Norma Silveira Moraes)
25-10-22
NO DIA SAGRADO (BVIW)
Dona Maria era uma senhora matriarcal e seguia os padrões aprendidos na família por décadas a fio. Morava numa bela fazenda e possuía casa na cidade, e era para lá que todos iam nos finais de semana. Iam de charretes num lindo comboio. E os domingos eram sagrados naquela família, levantar, tomar café e ir para a missa juntos. E dizia D. Maria com ênfase:
- Precisamos rezar e sempre buscar as bençãos de Deus, sem a luz fica difícil viver. Refletir sempre nos doze mandamentos de Deus traz paz e respeito, para todos, e vivemos melhor.
Havia uma pessoa mais turrona na família o filho Joaquim, e questionava, que Deus nem existia, que se não trabalhasse todos morreriam de fome. Mas ela sempre rebatia.
- Mas para você trabalhar precisa de saúde, até de sorte para dar certo nos negócios, na plantação, nas vendas... Precisamos da energia positiva do Divino sim, e de todos, nas bençãos para fazer girar a economia. Se não quiser ter fé, terei por toda a família. E rezo para você ter sempre saúde e paz interior. Atrair boas energias para todos é se armar da luz da proteção Cósmica na jornada da vida.
E lá ia a família buscar forças em sua crença religiosa, aliás não importa qual, e sim a busca pela Divindade, pelo sagrado que habita dentro de cada pessoa, pois sabemos que há duas forças comandando a vida, o mal e o bem. É preciso se armar também com pensamentos positivos para focar na luta do sucesso na vida...
E assim a vida continua, lembrando dos gatos fazendo festas nos telhados e quintais, seja das fazendas e casebres, ou das casas na cidade...ficam afetos e
ensinamentos que vão de geração a geração que ficam povoando as lembranças e memórias de cada família. E a vida vibrando a cada luar esperando por cada novo amanhecer
(Norma Silveira Moraes)
02/11/22
***************************
Eterno
Era na varanda que se encontravam. Assim que ouvia o tropel da besta ferrada nas pedras da calçada, se esgueirava pela casa, cuidando-se de pisar leve nas tábuas rangedeiras do piso. Lamparina apagada na mão, o esperava. Ouvia-o desarrear o animal, raspá-lo e colocar a cuia de milho no cocho. Os dentes da mula triturando o cereal e o tinir das rosetas em cada passo do amado. Se abraçavam e o amor se dava ali mesmo no assoalho. Sem culpa, sem medo, sem pudor...
Eles sabiam que, entre os vivos, só a menina mais pequena os podia ver.
Efepê Efe Oliveira – 11/08/21 – 22h22’
A rua
Havia uma estrada que levava aqueles arredores, que eram pouco habitados. na verdade, no final da rua, tinha somente um casebre velho, e antes uma antiga figueira, que estava ali desde tempos imemoriais, e umas três casas que compunham a paisagem triste e abandonada daquela ruazinha.
Durante o dia , poucos circulavam por ali, a noite, quase ninguém, e nesta noite fria e chuvosa, o carro de Frederico, assolou a ruazinha, inusitadamente. Parou, justamente naquela trecho onde havia a figueira, ele, sempre muito arrojado, tinha decidido sair pelos arredores da cidade e foi acabar justamente lá, saiu e olhou o lugar, feio e esquisito. Sem medo, acendeu um cigarro, e se pôs a olhar de onde estava a paisagem de outro ponto de vista. Queria algo novo, ele era arrojado e inovador, porque será que ninguém tinha prestado atenção naquela rua? Olhou, umas lâmpadas acesas nas poucas casas da rua. a árvore centenária, e o velho casebre abandonado. Com um pouco de audácia e dinheiro transformaria aquilo num ótimo empreendimento. Decidiu voltar ao carro e ir embora, proporia a construtora esta ideia, afinal ele como acionista, tinha lá seus privilégios, e iria brigar para mudar aquele lugar. Antes de entrar no carro, ouviu um ruído nos arbustos, ao lado, pegou a lanterna no carro, e foi conferir, deveria ser um préa, um gato ou um cachorro, ele gostava de animais. Não precisou muito foco de luz, e viu sair correndo lá para o casebre um gato assustado, e por isso um tanto agressivo. Subiu no muro, encolheu-se entre os arbustos, e ficou a emitir sons, que deixaram Frederico cismado. Tentou chamar o gato, mas este estava arredio e se enfiou no meio do mato alto, ao redor do casebre. Gatos, sempre os gatos, pensou Frederico. Tudo acontecendo como ele queria, os gatos ali teriam mais companhia, quem sabe ele até seria adotado. Se viu falando sozinho, riu da situação. Entrou no carro e seguiu para casa.
Lilian Ferraz
26/05/2021
seria postar contos sem o tema da imagem proposta? Tema livre????
Norma, como a Angélica falou, aqui a proposta é compor contos sobre esta imagem acima. A atividde ficará aberta, indefinidamente.
Norma, seria criar um conto sobre a imagem proposta acima, igual no Imagpoesia, só que aqui é um conto.