Posts de FRANCISCO JOSÉ TÁVORA (162)

Classificar por

AQUELA MENINA

 

Era o tempo distante

A paisagem diferente

Do  torrão onde nasceu

Era quase um ser errante

 

Enfrentando luta ingente

Distante de sua gente

Dos amigos e parentes

Sentia-se muito carente

 

A mente cheia de sonhos

Buscando novos momentos

Mas a alma em desamparo

A alimentar seu lamento

 

Eis que surge em sua vida

Pra calar todo o seu pranto

Com olhos verdes brilhantes

muita meiguice e encanto

 

Mulher ainda menina

Vitimou-lhe com seus caprichos

Num jogo dissimulado

Nas teias de seu feitiço

 

Hoje ainda paira dúvida

Sobre aquela ocasião

Se o acaso do destino

Ou feliz condenação

 

Se sortilégio de um mago

Que acendeu sua paixão

Só tinha a agradecer

Com grande sofreguidão

 

Sem forças pra resistir

Tamanha obstinação

Rendeu-se àquela menina

Em passiva escravidão

 

F.J.TÁVORA

Saiba mais…

BASTANTE

 

Quis ser

soldado mas não era corajoso o bastante

agricultor mas não era perseverante o bastante

professor mas não era altruísta o bastante

aluno mas não estudava o bastante

pastor mas não era convincente o bastante

amigo mas não era generoso o bastante

político mas não era dissimulado o bastante

padre mas não era virtuoso o bastante

herói mas não era destemido o bastante

cientista mas não era curioso o bastante

escritor mas não era erudito o bastante

artista mas não era talentoso o bastante

adulto mas não cheguei a crescer o bastante

 poeta mas não sabia fingir o bastante

 

O que  restou?

Apenas  um ser humano

Incapaz de ser alguma coisa

o bastante

 

F.J.TÁVORA

Saiba mais…

ESCOLHAS

 

Como pode, como fica

Que destino, que desdita

Sonhando com Maria

Estando acordado

Enfeitiçado

nos braços de Sofia

 

Como fica, como pode

Que maldade, que traição

O pensamento no João

Estando abraçada

Deslumbrada

Na cama com Tião

 

F.J.Távora

Saiba mais…

DESASSOMBRADA

Revelaste que me amavas

Mas cedo o amor acabou

Rompeste nossas amarras

Teu coração me abandonou

Fiquei tonto, abobalhado

Busquei motivo, razão

Inúteis meus devaneios

Decifrar-te é impossível

Já que és diferenciada

És eterna e finita

Tangível e abstrata

Mas de uma coisa estou certo

És mulher desassombrada

F.J.Távora

Saiba mais…

DEPENDÊNCIA

O que seria do sol

Se não houvesse o céu  para iluminar

 

O que seria do céu

Se não houvesse as estrelas para embelezar

 

O que seria das estrelas

Se não houvesse a lua para lhes acompanhar

 

O que seria da lua

Se não houvesse  românticos para fazer sonhar

 

O que seria dos românticos

Se não houvesse o amor a lhes enfeitiçar

 

O que seria do amor

Se não houvesse apaixonados para escravizar

 

O que seria dos apaixonados

Se não houvesse os poetas para o amor anunciar

 

O que seria dos poetas

Se não houvesse alegrias e tristezas para versejar

 

O que seria das alegrias e tristezas

Se não houvesse os deuses para vaticinar

 

O que seria dos deuses

Se não houvesse a humanidade  para os adorar

F.J.TÁVORA

 

Saiba mais…

DURA VIDA

 

Nascer

 é o milagre da vida

É o despertar da existência

É  começar a morrer

 

Viver

 é seguir morrendo

Caminhando enquanto houver tempo

Sonhando, amando, sofrendo

Externando sentimentos

Juras, alegrias, lamentos

 

Morrer

 é Seguir vivendo

Na eternidade do pensamento

viajor de todos mundos

De todos os cosmos

De todos os tempos

Na lembrança e na saudade

Daqueles ainda vivendo

 

F.J.TÁVORA

Saiba mais…

PLANGENTE CANÇÃO

 

Reclamas da vida

De amores perdidos, esquecidos

Em lugares distantes, largados

Na esteira do tempo, abandonados

Que lugares são esses, indefinidos

Pequenos oásis, tranquilos

Do deserto que é tua vida, sofrida

Prenhe de desencantos, padecidos

Onde entes sofridos, incompreendidos

São mais que amores, não resolvidos

Ainda habitando teu coração

Lembrados que são

Em uma plangente canção

F.J.TÁVORA

Saiba mais…

FANTASIA

 

Avançado na idade, ele tinha uma extraordinária imaginação.

Com espantosa facilidade criava inimagináveis fantasias.

Forjava ambientes e situações muito especiais.

Certa vez, resolveu corporificar em sonho uma  pessoa que estava a habitar sua mente com muita insistência.

Era teimosa. Ele rogava para que ela se afastasse e ela insistia em vir ao seu encontro.

Mas, o que fazer se ela teimava em ficar

Não bem sabia ele se era destino ou condenação.

Se destino, só tinha que agradecer aos deuses

por ter-lhe escolhido para abrigar em seus sonhos aquela estonteante deusa grega.

Se condenação, ele tornar-se-ia o mais feliz dos condenados.

Estaria condenado às delícias e aos prazeres de sua bela companhia.

Sem forças pra resistir, quedou-se aos seus encantos.

Decidiu tê-la em sonhos, já que ao vivo não era possível.

Ou melhor, não tinha ainda sido possível, uma vez que ela era apenas uma abstração,

habitando um mundo fantasioso e  irreal.

Apesar disso, ele ainda acalentava o desejo de reunir, não sabia onde ou quando,

seus corpos e suas almas, em completa fusão,  para juntos  saciarem suas fomes, desejos e vontades.

Assim, ela foi, em pensamento, avisada que estaria em sua companhia

partilhando intimidades próprias de homem e mulher que se atraem

acalentando sonhos e acendendo desejos de um casal em transe.

O destino benfazejo acabou por reuni-los. Eles estavam finalmente sós.

Ela pronta para a entrega, ele na iminência da posse.

Fixou os olhos nos dela. Tinha o seu rosto, lindo rosto,

ávido de desejos, circundado por suas mãos.

Lentamente aproximou seus lábios aos dela. Eram carnudos, sensuais.

O contato físico acendeu ainda mais os desejos mútuos de posse e abandono.

Sentiu que sua pele reagia, tomada por ondas e espasmos de prazer.

Seus  olhos, de início mendigos,  súplices de carinho e afago,

 estavam cerrados para aumentar a sensação do contato físico.

Ficaram assim por longos, quase infinitos, momentos a sorverem os lábios um do outro.

Ao mesmo tempo ela enlaçava o seu corpo, estreitando a distância entre eles.

As mãos dele deixaram o contorno de seu rosto e passaram a explorar o seu corpo.

Pentearam com os dedos seu longo cabelo, então desalinhado,

e chegaram, habilmente,  ao seu regaço.

Acariciaram seu busto,  protegido  por uma fina camisa fechada com delicados botões.

Divisou com inusitada paixão a turgescência de seus mamilos.

Aos poucos liberou os botões carcereiros de seu busto esplendoroso.

Logo os seios, livres do cárcere,  estavam disponíveis, primeiro ao toque de seu olhar.

Afastou-se um pouco para melhor visualiza-los.

Eram lindos. Mais pareciam uma aquarela renascentista.

Estavam apetitosos, solícitos, receptivos, a mercê de seus desejos.

Clamavam por carinhos.

Então ele acordou e o lindo sonho, interrompido, desvaneceu-se. 

F.J.TÁVORA

Saiba mais…

SORTILÉGIO

 

Amar é um condão

Que se ganha ao nascer

Amar é viver e sonhar

É sofrer e até  fenecer

 

É doar  seu corpo

É ceder a alma sem razão

É ser consumido lentamente

Por uma chama que queima

Rapidamente

 

É sorrir quando se quer chorar

É calar quando se quer falar

É não  dormir para não sonhar

Com aquela que teima em me atanazar

 

Dona do meu viver, do meu pensar

Infeliz o dia que te conheci

Que fui olhar no teu olhar

Que me deixei enfeitiçar

 

E no fim só resta afirmar

Que agora vivo pra recordar

De alguém que nem está a perceber

Que o seu sorriso me traz pesar

E sua alegria me faz sofrer.

 

F.J.TÁVORA

 

Saiba mais…

MENINA DAS MIL FACETAS

 

 

Um lado  teu é verdadeiro

O outro  é fantasia, ilusão

Um lado é criança Imaculada

O outro  é ousadia, sedução

Um lado  é inocência de vestal

O outro  é lascívia, amor, paixão

Um lado está comprometido há tempos

O outro é livre para novas emoções

Um lado  tornou-se escravo meu

Refém de minhas emoções

O outro conduz o meu destino

Pois é  dono do meu coração

F.J.TÁVORA

Saiba mais…

UM E OUTRO

 

O Chico desocupado

O Alves atarefado

 

O Alves um ser simplório

O Chico sofisticado

 

O Chico mui debochado

O Alves compenetrado

 

O Chico sempre sereno

O Alves muito enfezado

 

O Chico a criticar

O outro a justificar

 

O  Alves  quase silente

O Chico muito eloquente

 

Afinal, quem são eles?

Sobreviventes da juventude?

Ou, talvez, quem sabe,

Dois velhos, ou um só

Que já não mais sabem quem são

Imersos que estão

no  território enevoado

dos entes desvalidos

que há muito perderam a razão

F.J.TÁVORA

Saiba mais…

ANOS E DESENGANOS

Quando era criança

No dia de meu aniversário

Ganhava poucos presentes

Mas muito carinho e afago

 

Hoje, passados os anos

Carinhos e afagos são faltos

presentes posso comprar

Sem limites pra gastar

 

Antes fazia anos

Bem  guardados na lembrança

Já não mais tenho esperança

Hoje faço desenganos

 F.J.TÁVORA

Saiba mais…

CALEIDOSCÓPIO

Na vida há ganhos e perdas

alegrias e lamentos

os ganhos viram saudades

as perdas esquecimentos

 

Sinto muito a distância

separando você de mim

sinto tanto esta ausência

que me faz sofrer sem fim

 

Saudades são folhas soltas

espalhadas pelo chão

um dia elas foram vivas

a pulsar meu coração

 

O tempo é bom aliado

apaga a  dor mais sofrida

mas há dores  bem maiores

que todo o tempo de vida

F.J.TÁVORA

 

Saiba mais…
CPP