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Vento

Vento (José Carlos de Bom Sucesso)

 

O vento a soprar

E o casal a amar

Debaixo da árvore de abacate

Enquanto o cão late.

 

E o vento a soprar

A bailarina a bailar

Arrancando aplausos da plateia

E o poeta com sua ideia.

 

E o vento a soprar

O filósofo a pensar

Como seria o verbo amar

Para a dor lhe acalmar.

 

E o vento a soprar

Bem longe, ao pé da montanha,

Planos para a nova manhã.

 

Então o vento soprou

E o casal se afogou

Entre beijos e abraços,

Aumentando seus laços.

 

 

 

           

 

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Na procissão

Na procissão (José Carlos de Bom Sucesso)

 

            O padre ainda comentava o melhor texto, pois dali a pouco a procissão sairia pelas ruas da cidade.

            Algumas rajadas de vento eram sentidas pelo fieis, mas não tinha nada de anormal. Negras nuvens cobriam o céu lastreado pela lua cheia. Clarões eram vistos bem ao fundo, porém o sermão continuava e era aclamado por várias pessoas que atentamente o ouviam. Os vendedores de velas circulavam por entre o povo e o preço de cada vela estava em concorrência. Tinha alguém vendendo por até a metade do valor de mercado.

            Ritinha mantinha os olhos fixos no altar, pois o padre dava lindos conselhos aos que ali estavam e, para ela, estava muito interessante. De vez em quando perdia-se a atenção se distraindo pelo desenho da vela e pensava em uma magnífica figura geométrica da qual estava estudando no curso ginasial.

            Do lado dela, o casal de anciões se aproximou. Tinha cada um deles a maior e mais resistente vela ornamentada em papelões para a proteção contra o vento. Ela achou normal e ficou pensando quantas primaveras o casal já passou. Na mente, deduzia que eram mais de setenta e admirou o amor e carinho entre eles. Um pouco mais atrás, o jovem casal trocava-se entre quem seguraria o pequeno bebê, com mais ou menos um ano de idade. Lembrou-se de quando ainda era pequenina. O forte amor entre seus pais fez com que ela sorrisse bem baixo, o mais discreto possível para não incomodar o pequeno bebê. Admirou-se em poucos segundos, ao ver a melhor amiga bem abraçada com o jovem alto, robusto, trajado de camisa de malha, calça jeans e tênis branco. Mais uma vez o pensamento lhe atordoou, pois, a amiga não lhe dissera que estava namorando. Assustou quando o colega de escola lhe tocou o ombro, onde repousava a alça da pequena bolsa preta. Pensou ela ser alguém desconhecido ou talvez algum gatuno, mas logo o nome dela foi ressoado pelo amigo. Fez um belo sorriso no rosto e logo foi mostrando a amiga com o namorado. Os dois riram por alguns segundos. Ao pé do ouvido, murmuram-se que o rapaz era bem feio e desajeitado. Pequenas gargalhadas foram dadas até que se calaram com a chegada dos pais dela. Foi o silêncio, mas nenhum dos dois poderiam olhar entre si, porque era certo o sorriso.

            Alguns minutos se passaram. O padre sempre falando. Logo, terminou o sermão. A mulher vestida de preto, incluindo o véu na mesma cor, murmurou a linda canção na língua latina. A banda de música iniciava a tocada da música fúnebre, muito triste, mas era a tradição da festa. As pessoas foram aproximando. Velas eram acesas e o casal de anciões resmungava entre si, pois os dois queriam ascender suas velas. Ritinha logo se prontificou, pois dentro de sua bolsinha, ela levava o isqueiro para ascender a vela. O casal agradeceu e logo sumiu por entre a multidão que se aglomerava entorno dos dois andores.

            Seus pais logo a chamaram e convidaram o colega de escola para que acompanhassem a procissão.

            Assim, também se misturaram na grande multidão, que ao som da banda de música, das orações e dos cânticos, conduziam a grande procissão.

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Páscoa

Páscoa (José Carlos de Bom Sucesso)

 

Cristo ressuscitou e está vivo

A criançada está à praça do Vito

Esperando a chegada do Judas Traidor,

Neste ano será o Márcio, o Doutor,

Que distribuirá balas e doces

Após lindas preces.

Tem bala de amendoim

Onde a garotada não acha ruim...

O doce de leite em pedaços

Faz da festa amores e laços,

De um sonho da alegria

Até a juriti pia

Pois o domingo da Páscoa é alegre

Desde a mansão até ao casebre...

Cristo vive

E o ser humano convive

Com a alegria do dia

Até a anciã sorria

E lembrava de quando criança

Na mesma praça do Vito

Onde tudo é bonito.

 

 

 

           

 

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Sexta-feira da paixão

Sexta-feira da paixão (José Carlos de Bom Sucesso)

 

Tem o bacalhau

Feito na panela de pedra e mexido com a colher de pau.

O arroz doce, com canela e cravo

Feito pelo Dr. Olavo.

O peixe frito

Vindo do criadouro do Carlito.

Também o doce de leite amarelinho

Com o queijo bem fresquinho.

Também a macarronada

Para salgar a boca da criançada.

O suco de uva na geladeira

Da família do Pereira...

Não se pode esquecer do refrigerante

Comprado na Rua do Almirante.

De manhã ir à capela

Rezar e levar uma vela.

À tarde tem sermão

E depois a procissão.

Dia de respeito

E muito afeto.

Sexta-feira da Paixão

É dia de muita reflexão.

 

 

 

           

 

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Louco tempo

Louco tempo (José Carlos de Bom Sucesso)

 

Dizem que o tempo não existe

E a curiosidade persiste

Fecha-se os olhos e sonha

E para o mundo se olha...

Não há dor

Também pouco amor,

Que desenrola pela vida

Mesmo que não tenha vivida

A última emoção do tempo

Que se foi como o vento

E não se lembra no momento...

Os loucos,

Que são poucos,

Trabalham nas ideias

Semelhantes a colmeias

Distanciando da sociedade

Mesmo sem a idade

De viver o tempo

Levado pelo vento.

 

           

 

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O fantasma da cava escura

O fantasma da cava escura (José Carlos de Bom Sucesso)

 

            Paulo estava muito feliz, pois iniciava-se o final de semana. Em seu pensamento, seria o melhor final de semana do período. Terminara de apresentar a tese de seu curso. Teve ótima nota e foi aprovado. O mestrado já estava garantido. Festa, sonhos e até mesmo alguma pausa para fazer o arejamento da mente, na bela e mais harmoniosa cavalgada no cavalo branco de propriedade da irmã, a Márcia.

            Tudo preparado e lá se foi cavalgando. Entre árvores, entre pássaros cantando, entre nascentes e pequenos riachos, lá se ia Paulo. O celular não saia da mão, pois várias eram as fotografias tiradas por ele. Quaisquer movimentos eram motivos para que o dedo disparasse e mais uma fotografia entrasse na galeria do aparelho. Assim foi a manhã cheia de surpresas e deliciando a verdadeira natureza, o mais lindo e fabuloso mundo, onde o verde estava por toda parte e mais ainda tranquilizando a mente.

            Em determinado momento, quando o sol estava no ápice, a brisa soprava refrescando e baixando a temperatura, ele aproximou-se da grande árvore que fazia a melhor e mais saudável sombra para lanchar. Ficou por ali algum tempo e o cavalo aproveitou para comer o verde e vasto capim.

            Permaneceu ali por algum tempo. Quando o sol deu sinal de que estava mais fraco, ele montou novamente no cavalo e iniciou o retorno, pois tinha compromisso à noite.

            Quando criança, fazendo suas andanças por aquele local, juntamente com o pai e alguns amigos, lembrou de outro caminho que lhe economizaria alguns quilômetros, ele resolveu ir naquela direção.

            O cavalo já sabia deste outro caminho e pediu rédea. Parece que ele sabia que algo poderia acontecer. Galopou mais rápido e o vento soprava no rosto magro e de barba sem fazer do jovem. De vez em quando, ele precisava ajeitar o chapéu na cabeça, pois a pressão do vento era forte e quase derrubava o capelo de abas grandes, feito na mais fina e costurada palha.

            Quando os dois se aproximaram da cava, rodeada de árvores, arbustos, tendo ao fundo a porteira de tábua assentada há mais de vinte anos. A mais ou menos dois metros da porteira, o pequeno remanso de um palmo e meio escorria a límpida e alva água, que lentamente sobrepunha às pedras e desaguando na densa e robusta cachoeirinha, fazendo aquele barulho que mais se assemelhava a cantigas de ninar.

            O pingo foi logo diminuindo a velocidade até parar para que o condutor abrisse a porteira. Paulo rapidamente o fez, mas o animal forçou para beber a água que escorria sobre as pedras. O pequeno intervalo foi dado. Já com a sede saciada e Paulo também aproveitou a oportunidade para se hidratar, os dois partiram rumo à cidade.

            Outra cava os esperava a pelo menos dois quilômetros. Esta cava era bem diferente. Muita escura, pois era coberta por grandes árvores. Vários arbustos cobriam parte da estrada, que se reduzia a trilha. Ramos de vassoura cobriam tudo e também dois bambuzais. Pedras também se escondiam no barranco alto e mais árvores ali cobriam tudo. O lugar era bem fantasmático e alguns ancestrais diziam que pessoas já viram assombrações naquele local. Assim dizendo, era muito feio, muito triste e muito pavoroso para quem ali passava.

            Aproximando dali, Paulo sentiu que o corcel erguia a cabeça e aumentava ainda mais a respiração. Soprava mais forte ainda e diminuía a velocidade a ponto de não ir nem para frente e nem para trás. Algo de errado estava ali, pensava rapidamente Paulo. Atento a quaisquer movimentos entre as árvores, entre o barranco, pensando somente coisas estranhas. A mente lhe fez lembrar dos “causos” contados pelo pai, avô e alguns tios. Os pelos do corpo levantavam e alguns calafrios eram sentidos. De repente, do nada, bem à frente deles, caminhava um homem de mais ou menos dois metros de altura. Vestido de roupas pretas e sobre a cabeça, também, o chapéu preto.

O cavalo não queria aproximar dele e refugava quaisquer comandos dados por Paulo, que insistia e gritava para que o homem olhasse e saísse do caminho.

            A figura vestida permanecia imóvel e parecia que não ouvia os gritos de Paulo para que liberasse a pequena trilha. Alguns minutos passavam e Paulo tentava a qualquer custo conter o cavalo e gritava para que o indivíduo os visse. De repente, aquela figura para e olha para o lado de Paulo. Ela não tinha rosto. Apresentava somente um grande olho no centro do rosto. A boca era desproporcional ao corpo. Tinha forma de caveira e de dentro do único olho saia uma luz verde. O cavalo, quando viu aquilo, ergueu as duas patas dianteiras e Paulo perdeu o equilíbrio e foi-se ao chão. Não se sabe como, mas três horas, Paulo acorda no leito do hospital, pois foi socorrido pelo o vaqueiro da fazenda próxima, que viu o cavalo de Paulo passar a galope e não o viu.

 

 

 

Saiba mais…

Carnaval

Carnaval (José Carlos de Bom Sucesso)

 

Há o “Zé Pereira”

Que se sujou na bananeira,

Fugindo do “Bumba Meu Boi”,

Após o “Bloco dos Castanheiras” e se foi

Para dançar no “Bloco Recanto das Garças”

Sendo aplaudido nas duas praças.

O “Bloco dos Setenta”

Que neste ano desfila com noventa

Dando brilho ao carnaval

Até na Comunidade do Bananal.

As esquecidas do “Bloco das Noivas”

Esbanjando, nos cabelos, suas escovas,

Dadas pelo “Bloco das Peruas”

Desfilando quase nuas

Mostrando os arranjos das “Piteiras”

Mostrando o samba nos pés

Composto pelos dois “Josés”.

Na avenida, toda alegre,

Desfila a Mocidade Alegre...

Foliões dançam

Cantam,

Alegram o carnaval...

Dança até o Juvenal

Vestido de baiano

Recarregando sua energia para o ano.

Então o poeta escreve

Em poucas palavras, o mais breve.

 

Saiba mais…

Retornando

Retornando (José Carlos de Bom Sucesso)

 

O tempo passou

A lembrança ficou.

Foram muitos minutos

E mais segundos.

Na biblioteca, os livros estão do mesmo jeito

Talvez seja o amor perfeito.

Os fantasmas se foram

E não mais apavoram...

O violão pendurado na parede

Sem contatos na rede,

Sem poemas

E muitos problemas.

Não são matemáticos

E sim os práticos...

Do dia-a-dia,

Da melancolia,

Da anomalia...

Faltou, também, a rima

Sem a devida simetria

Pesquisada na Hungria...

Os tempos modernos

Onde ficam próximos

Da tecnologia,

Da fobia...

Verdadeiros robôs

Onde o poeta compôs

O retorno da poesia

Baseada na geologia,

Na vida cotidiana

Da Tia Ana,

Também da Donana...

Assim a escrita reaparece

Verdadeira, como uma prece,

A Deus

Aos Santos...

 

 

 

 

 

 

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Realidade

Realidade (José Carlos de Bom Sucesso)

 

Papai Noel foi embora

Para voltar em outra hora.

Saiu com o saco de presentes vazio

E quase jogou o trenó no fio.

 

O Ano Velho foi distanciando

Para muitos foram as recordações do passado.

Chegou o Ano Novo com a nova missão

De acabar com a solidão.

 

O folieiro ainda toca a sanfona

Para cantar ao Menino Deus e Virgem Maria, sua dona.

Espera o companheiro do violão

Que é mateiro, que é peão.

 

Breve se tem a festa de São Sebastião

Para aliviar a solidão.

É muita fé

Que promessas são pagas a pé.

 

Um pouco mais à frente

A cidade terá mais gente,

Pois será o Carnaval,

Festa do Bem e do mal.

 

A Semana Santa chegará

Para alguém que alegrará,

Pois partiu para longe há tempo,

Foi de mansinho como o vento.

 

Assim chegarão outras festas,

Trazendo as alegrias

E também tristezas,

Porque o Ano está repleto de belezas.

 

 

 

 

Saiba mais…

O tempo

O tempo (José Carlos de Bom Sucesso)

 

Não existe,

Persiste

Em alguém triste,

Por não amar.

Nem mesmo sonhar,

Com a verdade

Por aquela idade,

Que teve tempo,

Mas sumiu com o vento,

Em algum canto

Com muito espanto...

O tempo é dimensão

Para a solidão

No caminho das trevas,

Após usar muitas ervas...

Não sonhou

Nem mesmo amou

A vizinha,

A mais bonitinha...

Tempo foi feito,

Mas não aceito,

Pela Física,

A Ciência fantástica,

Dos loucos,

Dos pensantes,

Dos amantes...

Quem sabe o tempo parou

E tudo mudou...

A viagem no tempo espaço

Foi um fracasso

Porque a tecnologia

Da orgia,

Do ódio,

Do ébrio...

Ah! Foi-se o tempo

Que nunca existiu

E o povo viu

A máscara negra

Da soberba,

Da ingratidão

Sem perdão,

Sem amor,

Sem calor...

Ah!

Existe o tempo,

Estático,

Parado,

Fixo...

Do lixo,

Do nojo,

Do desgosto...

Porém se o tempo existisse

Ninguém ficaria triste...

Então,

Tempo molecão.

 

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Vida do poeta

Vida do poeta (José Carlos de Bom Sucesso)

 

Acordar cedo e não ter medo do dia

Porque a noite lhe fez bem.

Sonhou com versos

E até com música.

Não perdeu o sono,

A leitura foi ótima.

Leu ficção,

Leu amor,

Leu aventura,

Leu até algo do além.

Olhou para a lua e viu que ela,

Toda cheia e brilhante,

Disse-lhe algo ao pé do ouvido,

Que poderia formar algum texto

Relacionado a amor

Transformando em ódio,

O que pensa e não pode dizer...

A vida do poeta, também,

É o dia ensolarado

Também, nublado...

Torna-se ele mais feliz ao ver a chuva,

Assusta um bocado ao ouvir o trovão...

Ele tem medo é do relâmpago,

Que lhe corta a alma...

Que lhe assusta

E lhe deixa sentir que algo poderoso

Está bem perto dele.

O dia, a noite...

Quem sabe a semana...

Um mês, dois meses...

Ah! Que felicidade

O poeta completar anos...

Assim, os versos não lhe deixarão,

Nem mesmo quando a morte lhe rondar...

Quando ela chegar, às vezes bem devagar,

Ele, a ela, escreverá e declamará

Algo dentro de si,

Triste, pela partida,

Feliz, por deixar algo

Que algum leitor leu

E talvez não entendeu.

Pedirá algum momento

Para escrever o último verso,

O epílogo da vida,

A parte mais linda e destemida,

O sonho que virou realidade,

Cheio de bondade,

Cheio de vida...

É amor,

É literatura,

Para as crianças,

Para jovem apaixonada,

Esperando o amor da vida...

Para o triste

Para o infeliz,

Para o mártir...

O poeta suspira os últimos ares,

Mas no último suspiro,

Ainda fará o verso mais lindo,

Que ele mesmo jamais lerá.

 

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Donzela

Donzela (José Carlos de Bom Sucesso)

 

Quem não conhece a Maristela,

A jovem Donzela,

Que se veste de baiana no carnaval

E mora no bairro do Val.

 

Trabalha o ano todo

No boteco do João Bobo.

É feliz e ótima cozinheira

Faz almoço para a fazendeira.

 

Quando o chega o carnaval

Toma remédio e não passa mal,

Pois quer bailar na avenida

Tão feliz e destemida.

 

Nas vestimentas de baiana

Sempre está perto da Daiana,

Sua parceira de dança

E também acompanhada de uma criança.

 

Leva o samba no peito.

Diz que quando morrer, em seu leito,

Adormecerá ouvindo o samba

E a vestimenta de baiana na campa.

 

 

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O não

O não (José Carlos de Bom Sucesso)

 

Hoje o poeta não quer escrever

Nem mesmo ler.

Põe a carta na mão

Lê e a relê, marca um não.

 

Não quis ver o pássaro voando,

Nem mesmo o casalzinho na praça amando.

Emudeceu naquele momento,

Ficou parado no tempo.

 

O cérebro não quis pensar

Tão pouco meditar...

Talvez seja a tristeza

Dos versos sem a beleza.

 

Trancou-se no quarto solitário

Somente vendo as sombras do armário...

Dele tirou a melhor roupa colorida

Amargurou-se pasmo nas lembranças do amor, a ferida...

 

Ânimo, Poeta, amigo,

Não deixa a poesia ficar em perigo...

Vista a roupa preta

Vá logo pegando a caneta...

 

 

           

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Vento

Vento (José Carlos de Bom Sucesso)

 

Soprando no rosto suave da jovem

Fixada à tela do celular,

Ouvindo música e ousando a cantar.

Por sua força, as areias movem.

 

Espalha as penas do pobre pássaro

Repousando no galho da árvore

Por sua força, quase o move.

Causando-lhe espasmo.

 

Que traz o bom ar

Levando para o longe o ruim ar,

Prezando o novo oxigênio

Trazendo mais amor ao boêmio.

 

Balançando a plantação

Feita pelo agricultor artesanal,

Espalhando o pólen no arrozal

Fartando a mesa, como uma bênção.

 

Leva e traz o amor da garota,

Onde no peito lhe brota,

A perspectiva de nova vida

Na sociedade tão temida.

 

 

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Cruz

Cruz (José Carlos de Bom Sucesso)

 

Lá longe, bem no alto do Morro do Capuz,

Debaixo da árvore grande, tem uma cruz.

 

Não sabe quem era o dono.

Muitos dizem do Tião, o Mordomo,

Que deixou a vida há algum tempo

Foi morto pelo forte vento.

 

Flores simples a enfeitam

Que foram postas pelas filhas, que eles suspeitam...

 

No dia de Finados

Muitos por ali passam e ficam parados

Olhando a pequena cruz de madeira

Tem ao lado o monte de areia.

 

Pássaros pousam ali alegres

Alguns pensam ser milagres.

 

O dia assim passa

Alguém quer uma graça

Pois a cruz ficará ali até o próximo ano

Caso, a ela, não haja dano.

 

 

 

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Maldição

Maldição (José Carlos de Bom Sucesso)

 

             Antônio, mais conhecido por “Tonico”, estava em situação muito constrangedora, que nem mesmo tinha condições de decidir o que faria. Com bom emprego e ganhando razoavelmente bem, pensava em curtir plenamente a vida nas noitadas, nas festas, nos bares e também em viagens pelo território brasileiro.

            Naquela tarde, ao sair de casa, seu telefone celular toca. Rapidamente Antônio o retira do bolso. Olha para o visor e leu o nome de “Elvira”. O coração gelou todo. Arrepios pelo corpo eram sentidos naquela pele morena, com braços cabeludos, cabelos grandes, barba feita em estilo cavanhaque. Mordendo parte dos lábios, ele não teve coragem de prosseguir a caminhada. As pernas pareciam estar cravadas no chão como se estivessem grudadas pelo forte e sintético cimento. Parou por alguns segundos. Viu o banco de madeira logo à frente, pois já havia dado várias passadas do portão da casa até à praça onde a visão alcançava. Sentou-se rapidamente naquele mocho, onde algumas gotas de água estavam espalhadas ali, vindo molhar parte da roupa. Demorou por alguns instantes a levar o dedo na tecla de atendimento. Pensou ali várias vezes se atendia ou não atendia aquele ensurdecedor barulho de música sertaneja universitária. Decidiu atender, pois seria o último anúncio, porque o telefone desligaria a poucos segundos e novamente poderia tocar. Com a voz trêmula, ele assim disse:

            - Alô! Alô!

            Do outro lado, com a voz bem alterada, já se passando por voz de briga, deixando o léxico de lado, Elvira revelava palavras tão severas e às vezes em baixo teor, distorcendo-se de todas as regras da Língua Portuguesa.

            - Calma, minha linda! Calma, meu tesouro!

            - Você está muito agitada, você está nervosa...

            Mal falava as expressões acima, a voz da moça estava mais alterada e mais palavrões eram ouvidos naquele minúsculo aparelho eletrônico, que foi preciso que ele tirasse do ouvido, pois o eco vinha até o calcanhar. A moça estava muito brava, porque se houvesse ficção científica, ela entraria no aparelho telefônico e sairia do outro lado da linha, bem próxima do ouvido do namorado, ou seja, lá outra coisa não classificada.

            O tempo foi passando. A cachopa ia falando, ia gritando até cansar a voz. O jovem, por sua vez, somente concordava com aquilo que era ouvido, balançando a cabeça várias vezes como se fosse o boneco de circo ou de enfeite.

            Criou-se forças e se levantou do banco. Com o dispositivo fora do ouvido e o conduzindo pela mão direita, iniciava-se a caminhada pela praça. O som da voz da rapariga era ouvido e ela não parava de falar nem mesmo para respirar. O tempo foi passando e Tonico caminhava rumo ao velório da cidade. Lá, como de costume, visitava algum finado que era velado e sua visita era importante para os familiares deles. Tonico não faltava nenhuma vez, pois almejava ser candidato ao cargo de vereador nas eleições futuras e a grande oportunidade de receber votos era as visitas aos finados.

            Já se aproximando do velório, pois lá havia pessoa importante, o petiz foi interrompendo a conversa da moça e disse:

            - Eu somente casarei com você se acontecer algo diferente aqui, neste local.

            - Estou perto do velório e vou visitar algum finado que lá está.

            - Conforme meu juramento e minha promessa, subirei ao altar para casar consigo, minha querida Elvira, se algo acontecer dentro daquele velório. Se pessoas saírem correndo de lá de dentro...

            - Então, cumpro a promessa, ouviu?

            Por algum instante a donzela parou de falar. Deve, com certeza, ter pensado algo negativo naquelas frases do namorado ou noivo, seja lá o que for. Pensou ela, por sua vez, que seria mais uma das mentiras ditas pelo futuro esposo.

            Tonico assim disse, novamente:

            - Ouviu bem?

            - Somente se as pessoas saírem correndo deste velório agora...

            Mal expressou as frases acima, de dentro do cemitério, saiu correndo um cachorro grande, na cor marrom, que carregava o enorme osso, parecido com algum fêmur de certo defunto e correndo para dentro do cômodo onde estava sendo velado o defunto importante da cidade. Logo atrás, desesperadamente, correndo e gritando, sai o coveiro dizendo:

            - Por favor! Por favor!

            - Pegue este cachorro, não o deixe escapar, porque eu estava organizando o gavetão do mausoléu para enterrar o finado e o danado deste cão pegou o osso do finado Sr. Joaquim, que Deus o tenha em bom lugar, apesar de ter sido ruim para as pessoas, de maltratar os animais, de dar tiro nos jacus, nas seriemas, de atear fogo nos pastos dos vizinhos, de cortar a calda de cães e gatos...

            - Deixe isto para lá!

            - Pegue, por favor, o maldito cachorro...

            Assim que o cão adentrou no recinto e as pessoas escutavam o coveiro gritar e falar o finado Joaquim, foi aquela correria. Pessoas saiam correndo por todos os cantos. A viúva desmaiou, também alguns dos filhos que ali velavam o defunto.

            O cão encostava o osso nas pernas das pessoas e muitas gritavam. O lugar se transformou em praça de batalha. Era o coveiro gritando para pegar o cão, eram pessoas correndo e gritando de nojo...

            Saíram todos. Restaram somente alguns familiares, o padre e Tonico, que transmitia ao vivo aquela situação para a futura esposa.

            O cão conseguiu escapar no meio da multidão. Foi ele na direção do pasto logo à frente. O João, o coveiro, não aguentou acompanhá-lo e perdeu o osso do Sr. Joaquim.

            Dois meses depois, Tonico era eleito vereador da cidade e no próximo sábado, após a eleição, subia ao altar com a Elvira. Viveram felizes para sempre, até que a morte, em algum dia, os separaria novamente.

 

 

 

Saiba mais…

Bailar das flores

Bailar das flores (José Carlos de Bom Sucesso)

 

Os primeiros pingos da chuva de primavera

Caem feito cachoeira na serra.

O vento forte soprando

A chuva às plantas molhando.

 

As flores do ipê amarelo

Vão caindo como farelo.

Folhas vão soltando dos galhos

Aproveitando os embalos.

 

Os pequenos botões das rosas

Vão morgando e formando as danças formosas.

A flor do lírio vermelha

Ainda sustenta a pequena abelha.

 

O trovão resmunga atrás da serra

Dando sinal de que molhará muito a terra.

O pequeno pássaro sustenta os pezinhos

Presos no bambuzal vendo os ninhos.

 

A flor da laranjeira exala o perfume

Não se esquecendo do costume

De atrair as abelhas e o solitário beija-flor

Trazendo a inspiração para o poeta, cheio de amor.

 

Não dura muito a chuva fina

Trazendo consigo a longa brisa.

Caem algumas flores do abacateiro

Sendo este a agradecer a chuva, o primeiro.

 

Assim vão bailando as flores

Cada uma consigo lembrando dos amores

Dos pássaros

E também dos insetos.

 

Então a tarde se vai.

A menina grita pelo pai

Que longe busca o gado no campo

Com medo do relâmpago, grita pelo santo.

 

 

 

 

 

 

           

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Abelhinha brava

Abelhinha brava (José Carlos de Bom Sucesso)

 

O jardineiro descuidado

Que queria o trabalho acabado

Foi puxando a mangueira

Cometendo uma besteira.

 

Estava ele tão empolgado

Esquecendo de olhar para o lado

Entreteve-se com o avião voando

Pisando na caixa do marimbondo.

 

Saiu correndo...

De ser picado, temendo.

Correu mais que a luz

Escondendo-se debaixo da cruz.

 

Os instantes se passaram

Então, os marimbondos se acalmaram.

Voltou ele, novamente para a labuta

E perdeu a luta.

 

Espremeu a abelhinha descuidada

Entre o dedo e a mangueira dobrada.

O ferrão da abelha lhe entrou pelo dedo

Ficou chorando de medo.

 

Gritou para “Fulano de Tal”

Para levá-lo ao hospital.

Tomou injeção no “bumbum” ...

Foi embora agradecendo a cada um.

 

 

Saiba mais…

Feirinha

Feirinha (José Carlos de Bom Sucesso)

 

           

Todo sábado, na pracinha,

Tem a feirinha.

Tem alface,

Do homem sem face.

Não se esqueça do almeirão,

Da chácara do homenzarrão.

A abobrinha,

Da fazenda da Julinha.

O queijo

É do Sítio do Brejo.

Quanta lembrança da criança

Que não deixava usar a balança.

Na barraca ao lado está a salsa

Bonita, mas meio queimada pela brasa

Saída do incêndio

Na Chácara do Índio.

Poderá comer o peixe frito

Vindo o pesqueiro do Brito.

Lindos estão o espinafre e a couve-flor

Plantadas por Dona Maria, com muito amor.

Tem a fofoqueira da Dina

Falando da saia da menina.

Então vai passando o sábado.

Do outro lado tem o babado

Da Nina,

Xingando sua menina.

Ao meio dia já acabou tudo

Para voltar no outro sábado.

 

 

Saiba mais…

Cartas

Cartas (José Carlos de Bom Sucesso)

 

            Tarde de segunda-feira. No pequeno estacionamento, junto ao prédio onde funciona a agência dos Correios, o caminhão, na cor laranja, estacionou. Escritos, em letras grandes, bem fortes, os letreiros que denominavam “Os Correios”.

            A cidade não para. Veículos trafegando, pessoas ansiosas trocam o pequeno espaço físico entre a calçada e a avenida. Chamando pelo nome de João, pelo nome de Pedro, o motorista do caminhão, também por nome de João, grita intensamente aos dois carteiros para a descarga. São muitas encomendas entre malotes, pacotes, caixas grandes e outras encomendas miúdas. Aos poucos, tudo aquilo é descarregado e armazenado no grande salão ao lado. Vão eles cantando, vão dizendo piadinhas uns dos outros. Ouve-se até o palavrão escapado repentinamente, mas tudo são frutos e momentos da alta adrenalina percorrendo no corpo dos homens ali trabalhando.

            Cerca de mais ou menos uma hora, a carga toda já foi descarregada. Olhando fixo, pode-se ver que outro volume de carga foi carregado. São encomendas, são postagens e outros mais que irão para central. Dela, novamente, o motorista chamará outros carteiros e descarregadores para o depósito. O ciclo se repetirá por semanas, por semanas e mais meses.

            Portanto, assim, com a avanço da tecnologia, com a implementação da inteligência artificial, por novas fontes cibernéticas, alguém volta ao passado e se lembra.

            Por volta dos anos setenta, tudo era diferente. Na mesma segunda-feira, onde foi mencionada, há tempos, não era o caminhão que estacionava em frente ao prédio. Os malotes eram entregues uma vez por semana ou até duas semanas pela frente. Lembra-se do carteiro antigo, que aguardava o ônibus. Todo feliz, dizia que o volume seria muito. Assim, para a sociedade, a lenda...

            De uniforme que se misturava a camisa branca, a calça amarela clara, o gorrinho, também na cor amarela, onde se lia a expressão “Correios”, segurando nas mãos alguns envelopes, pequenos jornais, etc... Lá se ia o amigo carteiro. Feliz pela profissão, mas cuidadoso quando se tratava de lares onde o cão ou cães eram bravos.

            Do outro lado da cidade, a mocinha esperava feliz. Ajeitava-se os cabelos, acertava o vestido no lindo corpo esculpido. Ia-se para a janela e de longe enxergava o Sr. Carteiro, que vinha sorrindo e dizendo-lhe que a cartinha do namorado ausente, hoje, chegou. Rapidamente descia ela pelas escadas. Era bem rápida, que se descuidasse, cairia pela escada abaixo. Recebendo ela a cartinha, onde se viam vários corações desenhados e a estampa o nome da mocinha, escrito em letras grandes. Apoderava-se da encomenda apertando-a sobre o frágil peito e respirava aliviada. Agradecia e subia as escadas ligeiramente. Dizia para mãe que o namorado lhe escrevera. Fechava-se no quarto e lia cada palavra como se fosse um século.

            Na rua adjacente, Dona Maria era chamada pelo carteiro. Em suas mãos, era entregue a carta da filha que residia em São Paulo, precisamente na Capital. Os olhos dela ficaram umedecidos ao ver o envelope escrito com a letra de sua filha amada. Agradeceu e foi para dentro da casa ler as notícias da filha e recordar o tempo em que ela viveu a seu lado.

            O Senhor Joaquim veio logo correndo, pois morava a duas casas de Dona Maria. Dizia com pusilanimidade se o banco enviou os documentos do empréstimo. Porém, ouviu do carteiro, com o sorriso nos lábios, que a carta ainda estava viajando.

            A Chiquinha, apelido da Francisca, logo foi chamada no portão. O postilhão lhe avisou que dentro de sua bolsa estava o telegrama do marido, que morava na Inglaterra. Nele estavam palavras amorosas e carinhosas e lhe cumprimentava pela passagem do aniversário.

            A Rosa saiu correndo de dentro da varanda, pois o mensageiro anunciava a carta vindo o instituto de previdência. Era, na verdade, a resposta do pedido de pensão do falecido marido.

            Assim, durante toda tarde, o carteiro levava boas e más notícias.

            Já, no final da tarde, ele para perto da casa paroquial. Lá, em voz suave, chama pelo padre, que vem todo feliz. Era a última entrega do dia. O monte de correspondência, cerca de vinte, entre jornais, revistas, cartas, livros e outros mais. O pároco lhe agradece. Oferece-lhe o café da tarde. Ele, já cansado da caminhada, para por algum instante e aceita. Não quis entrar dentro da cozinha e, no lado de fora, saboreia o café tagarelando ao pastor que as pernas já doíam e precisa voltar à agência e organizar mais cartas para o outro dia. Recebida a bênção do religioso, ele se direcionava ao prédio. Lá, mais uma vez, organizava toda a remessa para o outro dia. Já se passavam das dezenove horas quando fechava a agência. Passava no bar do Joãozinho. Comia dois pasteizinhos, bebia o copo de café e o embrulho com os pães e biscoitos já estava a cima do balcão. Conversava alguns assuntos e se retirava para casa. Lá, no aconchego da esposa e dos filhos, contava, ele, as aventuras do dia.

            O tempo vai passando como as águas que passam por debaixo da ponte. Alunos vão se formando e criando novas tecnologias. A cada dia, algo novo está no mercado. Foi assim com o telefone fixo, que era orgulho dos lares. Ele, porém, foi substituído por outro. Melhor, compacto, pequeno, de fácil acesso. Com ele, os computadores se evoluíram e substituíram as máquinas de escrever. Aproveitando as descobertas de Tesla, o ser humano inventou a rede mundial de computadores, hoje denominada “internet”. Criou-se o “wi fi”, computadores de última geração, inteligência artificial. Enfim, tudo mudou...

            A mocinha casou e mudou para onde o namorado morava. Teve filhos e estes estudaram. Foram três. Um médico, outro, dentista, e a menina virou professora.

            O carteiro se aposentou. Aproveitou pouco a aposentadoria. Foi viajar e se vitimou por meio de acidente automobilístico.

             Dona Maria viveu por muitos anos. Lia e contava estórias para os netos e vizinhos. Faleceu lendo.

            A Rosa e a Chiquinha ainda estão vivas. Estão aproveitando o WhatsApp, o telefone celular novo. Muitas pessoas que receberam cartas se foram para morada eterna. As que restaram convivem com a evolução, que não se sabe até quando irá.

 

 

           

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