Eu teria sido, quem sabe, um advogado,
Desses engravatados, cabelos penteados,
Que ganha muito dinheiro,
E nunca está feliz.
Seria, talvez, um engenheiro,
Construiria um mundo inteiro
E ainda assim não saberia onde morar.
Se funcionário público fosse,
Morreria de tédio.
Um agricultor até,
Plantaria um pé de mangas
E dormiria eternamente à sua sombra.
Motorista, eu não seria,
Não saberia a distância
Entre a terra e o céu.
Cardiologista, não,
Não poderia tratar o coração dos outros
Se não consigo tratar meu próprio coração.
Ainda se fosse um colecionador,
Ao invés de coisas,
Colecionaria amores.
Mas a vida quis
Que eu fosse poeta,
Pois só com poesia a vida se completa.
Mário Sérgio de Souza Andrade – 02/09/2017
O FIM DE UM MUNDO
sim, o mundo acaba amanhã.
acorde mais cedo ,
antes do fim da manhã,
escove os dentes e veja_
este no espelho é você.
arrume bem sua cama,
diga eu te amo para alguém
que compartilha o adeus
nas mesma casa dos seus.
em cima da mesa,
o leite o pão o café,
o beijo guardado da noite,
um jornal qualquer.
a Lua em cima do muro,
a flor pisada no chão,
o coração da palavra
sobre o papel do pão.
calce os sapatos depressa,
escolha o que vier,
se tiver sede, beba água,
o tempo está contra você.
para garantir
dê duas voltas
na gravata
sobre o pescoço.
junte as fotos guardadas
leve o terço e a cruz
reze tres vezes dobrado
abra a janela azul,
o céu não é mais,
ao longe,
nenhum oceano.
sinta o asfalto
ruir sob seus pés,
olhe fundo,
olhe a fenda,
defenda-se.
esqueça os planos
os donos da sua casa,
a aluguel,
o documento assinado.
o compromisso é outro
que chamem de louco,
que acendam o fogo,
que seu corpo queime
na fogueira mística.
o mistério dos óculos escuros,
o que havia nas prateleiras,
as coisas que se espalhavam
como cobras cascavéis
bailando sobre os papeis...
Mário Sérgio de Souza Andrade – 27/08/2017
não conheço seus pensamentos,
onde seus olhos se escondem,
mas aos ecos das lembranças
o passado responde
de repente brilha
o candelabro da noite
chove em algum lugar do mundo,
quebra o silêncio que morre
no canto esquerdo dos lábios
o assovio do vento
entoa madrugada,
nuvem cansada do dia
repousa em suave poesia
sua ânsia de me querer
entre os lírios e folhas
do amanhecer.
Mário Sergio de Souza Andrade - 26/08/2017
OU NÃO
Porque dizer eu te amo se não te amo?
Se não te amo,
Porque disse eu te amo?
Se não amei,
Como pensei em amar?
O amor não era o mar
Que inundaria meu coração,
O amor não era a dádiva divina
De minha vida mesquinha,
O amor não chegou à minha janela,
O sol se escondeu nesse dia.
A Lua mentiu para as estrelas
E as belas coisas que existiam
Murcharam como as flores nuas do quintal.
A amor não era mal, mas não era normal,
Como o sal que ardia a ferida,
Como os dentes que mordiam as gengivas.
Mas eu não saberia amar,
Não consigo olhar sobre os muros
Para chegar ao teu quarto,
Quanto mais ao seu coração.
Coço as mãos para ter mais dinheiro,
Amarro patuá nos bolsos das calças,
Não tenho espelhos em minha casa,
Não passo sob escadas suspeitas,
Meus sonhos são tão ruins
Que acordo com medo de morrer,
Então porque
Ainda penso em te amar
Mesmo sem nunca
Ter te amado?
Mário Sérgio de Souza Andrade - 25/08/2017
SOU DEFENSOR FERRENHO DA VERDADEIRA AMIZADE, CONVIVO E VIVO COM ELA TODOS DOS DIAS DE MINHA VIDA, AQUELA AMIZADE GOSTOSA, DE CEDER E RECEBER, DE VIVER INTENSAMENTE A FELICIDADE DO AMIGO, AO MESMO TEMPO CHORAR COM ELE, DOAR MUITO MAIS DO QUE ME É POSSÍVEL, POIS CONSIDERO O SACRIFÍCIO POR UMA BOA AMIZADE COMO ALGO QUE NOS FORTALECE, FAZ COM QUE O CORAÇÃO BOMBEIE MAIS RAPIDAMENTE TODA A ENERGIA QUE É NECESSÁRIA PARA PREENCHER NOSSAS VIDAS, INCLUSIVE AQUELAS LACUNAS .... ESTOU DIZENDO ISSO PORQUE QUERO AGRADECER A TODOS A IMENSA DEMONSTRAÇÃO DE CARINHO QUE RECEBI NO MEU ANIVERSÁRIO E QUE SEMPRE VENHO RECEBENDO DE TODOS. DIZER OBRIGADO É MUITO POUCO, POR ISSO RESPONDO EM POESIA!!! (AMIZADE É O AMOR QUE DEU CERTO...)
PEÇO DESCULPAS POR UMA COISINHA: POR TOTAL FALTA DE TEMPO, NÃO CONSIGO APRENDER NOS INSTRUMENTOS TÃO PRIMOROSOS QUE ESTE SITE CONTÉM, POR ISSO PARECE QUE ESTOU DISTANTE OU QUE NÃO RESPONDO OS COMENTÁRIOS, É VELHICE MESMO...RS
Cobramos mudanças, sem mudarmos,
Cobramos amor, sem amarmos,
Cobramos o que temos
E não doamos.
Nós não somos humanos.
Cremos nos valores
Abaixo dos verdadeiros valores,
Os homens tarifados,
Os homens carimbados,
Os homens chancelados.
Nada se leva nesse compasso,
A passagem é estreita,
Do outro lado não tem jargão,
Nada será de ninguém,
Além de um crivo na alma.
Aonde está o passarinho
Que cantava sozinho no ninho
Com saudade daquela flor?
Morreu entre os espinhos
Que acreditava
Que eram amor...
Afora as contas matemáticas
E a evolução das turbinas dos aviões,
Mesmo assim aquém do consumo de combustível,
O homem passa perto da mulher bonita
E ainda faz um breve elogio.
Mário Sérgio de Souza Andrade - 22/08/2017
Onde eu cuspo
nasce uma flor de sangue
meus olhos também sangram
A cidade sangra
não vou fazer nada mudar
não vou plantar sonhos
não vou cantar os hinos
Vou queimar bandeiras
nem que eu me foda
Poemas que eu vomito
são os gritos das almas que se corrompem
No vil sistema de vida que não há
Não há
Não há
Verso o que converso com Deus
e nem os meus palavrões absurdos
largam o luto de meu coração preto
Não sou poeta
Sou abstrato
Não tenho contrato firmado
Não tiro foto de gravata
Bebida não me mata
Não me mata estar vivo
Não preciso dessa reza
Não preciso dessa merda
Não preciso desligar
o rock que está tocando
Toca o diabo
Toca a fuça do ladrão
Na minha terra
não nasce um grão
da grande vergonha
do meu País
Para que ser feliz
se eu gosto
Eu trato
melhor os animais
que os homens
Minha voz, ai que dor,
O amor mata mais
que um poema de amor
Nada disso
é tão complexo
quanto plexo neural
Decúbito dorsal
Sal na língua
Na saída
Morte linda
para quem vai
na festa do amanhã
O barro que eu moldei
é o rei da minha história
Se quebra na memória
daquilo que não quero ser
Mário Sérgio de Souza Andrade - 04/08/2017
Liberdade...
Mãos abertas sobre o chão,
Coração nas nuvens,
Sabor de chuva nos lábios,
Intenso brilho no olhar.
Estar só e superar a dor,
Amar, sabendo que o amor
Nos alimenta
Para alimentarmos o mundo.
E tão profundo o próprio amor
Que suas asas nos permite
Alcançar o céu.
Liberdade...
Ato de cortar as rédeas
E correr nas loucas avenidas,
Chegar ao tôpo da pirâmide
Que chamamos de "vida".
Não precisar do perfume
De todas as flores,
Poder escolher
O aroma que nos faz levitar.
Vestir-nos da cor
Que completa nossa pele
E não impede
O respirar de nossos poros.
A força que nos move
E nos faz refletir
O que realmente somos
Sem precisarmos de espelhos.
A certeza que viver
Não é apenas ceder,
Sofrer, doar,
Mas receber
Deste vasto universo
O dom de vencer
E ser feliz.
Liberdade...
Caminho do Sol,
Alvorecer da vida,
Chave dos sonhos,
Renascer da alma.
Mário Sérgio de Souza Andrade - 04/08/2017
Os dentes mordem comida fria.
Os sonhos se perdem ao adormecer.
Os olhos choram sem saber porque.
A lua foge antes do amanhecer.
Falta coragem para ferir o verbo.
Falta coragem para abrir a porta.
Falta coragem para abrir os olhos.
Aranha ressabiada descendo pelo lustre do quarto,
Parece desistir de suas escaladas
Para sucumbir sob a sola do meu sapato.
Junto a poeira que se confunde com meus olhos
Sobre a prateleira que se confunde com os livros.
Repito dez vezes que não vou morrer.
E o que é proibido
Rasteja no assoalho,
Valha-me Deus desse destino!
Mário Sérgio de Souza Andrade – 01/08/2017
ATMOSFERA DO MEDO
Estava no colo de Deus, questionando minhas culpas.
Aos olhos do mundo foram julgadas e sentenciadas.
Perguntei aonde estava o perdão, clamando absolvição.
Minhas mãos são culpadas pelos erros,
Mas incapazes de ferir.
Sou filho do mar e da Lua,
Minha alma é nua.
Ergui meus olhos ressabiados
Procurando então a semente do meu pecado.
Deus estava calado.
Eu, em meus sonhos,
Transitando na vastidão do universo,
Clausura celestial.
Meu corpo equilibrando-se entre a paz e o castigo,
Chagas nos pensamentos.
Mas o tempo de Deus é diferente do meu,
Passa nas lágrimas das chuvas.
Às vezes a discórdia adormece no silêncio.
Tento não sucumbir sobre o Seu manto,
Ainda preciso do perdão.
Meu coração responde em palpitares espaçados,
Sorvo o humor da atmosfera.
A Terra me condena.
Levanto-me do seu colo
E carrego minhas culpas para outra dimensão.
Mário Sérgio de Souza Andrade – 26/07/2017
DESLUMBRE
Como sob a sombra de uma árvore,
Sentindo a brisa bater no rosto,
Sabendo a tarde que se aproxima,
Querendo a Lua,
Que tudo ilumina.
Como o silêncio da própria vida,
Como se as mãos
Estivessem estendidas,
Como se fosse uma oração
Que chega ao mais profundo do coração.
Como a imitação das cores
Cobrindo a azul de todo o céu,
Como o papel que chora uma poesia.
Como a verdade ainda secreta,
O que se esconde dentro da alma,
O que se revela na calma,
O que surge suavemente
E se sente elevar
Até fazer agitar o próprio mar.
Como uma curva no horizonte
Que não se sabe o que esconde
Depois do anoitecer.
Como o desconhecido
Que se torna querendo,
Mesmo sem saber porque.
Como a promessa nunca feita
E é cumprida por si só,
Como o pó que se espalha na estrada,
Quando nada nos faz parar.
Como a incerteza do destino
Que disfarça as aparências
E com paciência
Nos torna cada vez melhores.
Como a sorte que sorri de repente,
Como o abraço que chega espontâneo,
Como o beijo que estala na pele,
Como a força de querer
Cada vez mais e mais,
Como quem nunca, jamais
Pensou ser capaz de sentir
O universo se abrir à hora
Do amor chegar.
Mário Sérgio de Souza Andrade – 21/07/2017
VOLTA
Não importa quantas vezes não,
A frequência do tom,
A insistência do som,
Se é outono ou verão,
Se o mundo desistiu de nós,
Se apesar de tudo não chover,
Se A Lua brilhar,
Se o bem querer viver,
Estar, ser, permanecer, ficar,
Quantos obstáculos teremos de superar
Ou quem nos dará razão,
Para quais ouvidos poderemos dizer
O tanto que nos faz pensar,
Por que devemos ser
O que realmente não somos.
Não somamos ao universo
Uma gota da perplexidade
De um olhar apaixonado.
O que ou quem estará contra nós,
O calar da nossa voz,
O atroz castigo de viver
Dentro do que não somos,
A soma da nossa vergonha,
A desculpa da nossa desonra,
O castigo ao nosso pecado,
Sem nunca termos pecado.
Não nos interessa estarmos inebriados
Nesta solidão solene,
As taças quebrarão sem as nossas mãos.
O coração que reclama dentro do peito,
Bate por que ama.
Neste mundo invisível
Vestimo-nos apenas
Com a pele coberta de alma.
Neste mundo invisível
Vestimo-nos apenas
Com a pele coberta de alma.
Sem artifícios, o sacrifício
É ceder ao que não faz sentido.
Viver por apenas ter vivido,
Mesmo com o sofrimento
Deste amor que teima
Em resistir aos ventos da saudade.
Mário Sérgio de Souza Andrade - 09-07-2017
"Quantas vezes o poeta erra nas palavras, somente por sentir mais do se pode dizer"