9 semanas de ficção

  Do Livro “9 semanas de ficção”

            Publicado em 12.05.2018.

                            INÍCIO

 

                             Adeus

 

                                               

          Era uma vez o casal Maria e José Pedro, que morava em Imperatriz – Ma. Tinham uma vida normal e tanto amor que dava para fazer inveja. No entanto, num determinado dia, Maria chamou José para conversar:

          - Diga, minha deusa! – Disse José sem imaginar o que sua esposa queria falar.

          - Já temos quase dez anos de casados e não temos nenhum filho...

         – Você nunca quis! – interrompeu José.

         – Isso mesmo, não quis porque sempre achei que esse dia ia chegar...                                                                                                                                          

         – Do que você está falando? – perguntou José,             preocupado.    

         – Quero ir embora! – disse Maria olhando nos olhos de José.

            O ambiente ficou monótono e José teve que conter as lágrimas. Fingiu ser um homem forte e perguntou:

         – Por que você quer ir embora? Para onde você quer ir? Qual o motivo desta decisão?

         – Calma! Uma coisa de cada vez. Quero ir embora porque acho que a nossa relação se desgastou. Quero voltar para São Luís. Quero partir sem declarar o motivo.

         – Como posso compreender sem explicação?

          José permaneceu em silêncio por alguns minutos e Maria ficou esperando a resposta. Ela esperava que José fosse fazer um sermão e apresentar muitos motivos para ela ficar, mas ele foi objetivo e disse apenas “ADEUS”. Ela também disse “ADEUS”.

         Maria arrumou a bagagem e saiu sem olhar para trás, deixando  pedaços  de  uma relação que aparentava uma  vida                                                                                                 

feliz para sempre. Na verdade, antes de se casar, ela teve um caso amoroso e dessa relação ganhou uma filha que sempre foi criada pela avó materna. O problema era que José vivia querendo conhecer a sogra e Maria sempre dava uma desculpa com medo de que ele descobrisse a verdade do seu passado.

         Sem uma explicação, José ficou desorientado porque nunca podia imaginar que a sua esposa chegasse a este ponto. Ficou sozinho, limitando-se a pensar na vida sem ela. Tudo acabou tão rápido, e pior, sem nenhuma explicação. Inconformado, José tornou-se um homem triste, descrente de tudo, e passou a beber em demasia. Maria, que tinha os cabelos longos, na altura da cintura, teve que vender o próprio cabelo para patrocinar a sua viagem com destino a São Luís. Fez boa parte de sua viagem de trem e chegou a São Luís fazendo um percurso equivalente ao desenho da metade de um coração no sentido vertical. Procurou o mesmo bar em que trabalhou quando jovem e conseguiu novamente o cargo de garçonete.

         Ela não era mais a mesma: cortou os cabelos bem curto, vestiu roupas devassas, pintou os lábios com batom vermelho forte e pôs brincos de argolas pesadas.  Parecia  outra  pessoa,                                                                                                   mas   não  era.  Maria  estava  sofrendo  a  falta  do    marido, mas vivia disfarçando que estava feliz, enganando-se com um copo de cerveja e música sentimental num ambiente bem animado.

        José conseguiu vender a casa e saiu à procura de Maria, pois não se conformou com a perda. Ele fez boa parte de sua viagem pelo litoral maranhense. E quando navegava, na calmaria das águas chegou a sonhar com Maria nadando na fúria do mar e dizendo aquele triste “adeus”. Tudo não passava de sonho, pois a embarcação navegava tranquilamente nas águas serenas do mar. Na verdade, Pedro estava vivendo momentos de depressão por ter perdido a sua esposa.

         Quando chegou a São Luís, ficou perambulando pelas ruas como um mendigo à procura de mais sorte. Percorreu vários bairros... Depois de tanto procurar a sua esposa querida, sem saber, ele estava em frente ao bar onde Maria estava trabalhando. Ali estavam completando o desenho do outro lado do coração, pois fez exatamente o percurso paralelo que Maria tinha feito. Pedro atravessou a rua e dirigiu-se ao bar. Sentou-se à mesa e pediu uma cerveja. Maria  aproximou-se,  mas  não tinha como reconhecer Pedro                                                                                                  porque ele teve um problema de vista, e estava usando óculos de lentes grossas demais. Além disso, deixou de fazer a barba, contribuindo assim para dificultar mais a sua identificação. Pedro também não reconheceu Maria, pois ela tinha cortado os cabelos, passou a exagerar na maquiagem e estava usando trajes diferentes de quando usava quando casada. Ela o serviu e sentou-se a seu lado para conversar com ele, pensando ser um cliente novo:

          – Por que esse olhar triste?

          – Minha esposa me abandonou...

          – Eu também perdi o meu marido e não estou assim. Faz parte da vida. – Maria estava desabafando, mas não imaginava que estava falando com o seu ex-marido. E continuou: – Tive que acabar com o meu casamento porque omiti uma relação que tive antes do matrimônio. Tenho uma filha e não tive coragem de falar a verdade. E o senhor? Por que se separou?

            – Não sei, mas se eu fosse o seu marido não ia deixar você ir embora só por essa bobagem que você falou. Eu ia era terminar de  criar  a sua filha como  se  fosse  minha também.                                                                                         

             Pedro pagou a cerveja e, quando ele saía, Maria agradeceu e disse: - “ADEUS”.

            Pedro preferiu dizer “tchau”, pois não queria mais ouvir a palavra “Adeus”. Retirou-se e ficou pensando em Maria. Ela, ainda com o copo e a cerveja na mão, lembrou-se de Pedro e chorou de saudade. E agora, de quem é a culpa? Do destino? Não! Ele, o destino, colocou-os duas vezes no caminho certo. Talvez tenha faltado intuição, pois as aparências mudaram, mas a voz e o sorriso permaneceram como antes. Falta de sorte também não foi, pois se reencontraram por coincidência. Saíram da rota de forma inconsciente. Talvez porque a humanidade pense que o destino é responsável por tudo. Na verdade, cada um de nós tem que buscar e lutar sempre para conquistar o verdadeiro amor, mesmo que chegue a desafiar o próprio destino. Então, a culpa foi exclusivamente da palavra “Adeus”!...

Roger

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Roger Dageerre

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Comentários

  • 55296437?profile=RESIZE_710x

  • A verdade é o que liberta. O homem tem, sempre, a liberdade de escolha e é isto a sua glória ou a sua desgraça.

    Parabéns pelo conto.

     

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CPP