9 semanas de ficção

 

Volume 2                                   

                                      Conflito.

 

          Era uma vez dois jovens que se conheceram por coincidência, pois Romeu recebeu uma mensagem de texto via celular enviada por Julieta. A mensagem foi um equívoco, porque ela tentou mandar um recado à sua irmã e acabou digitando um número errado. Por isso, o aviso chegou ao telefone de Romeu, que logo ligou perguntando:                                                                                                              

          - Quem fala?

          - Você não diz alô, nem bom dia e vai logo perguntando quem fala.

          - Quero saber de quem é esse telefone.

          - É de Julieta. Por quê?

          - Porque recebi uma mensagem e não entendi.

          - Desculpe-me! Foi engano. O recado era para minha irmã, e digitei um número errado. Pode desconsiderar.

          - É muita coincidência...

          - O quê?

          - O teu nome é Julieta e o meu é Romeu. Não é coincidência?

          - Realmente! Não tinha percebido. – Disse Julieta, surpresa.

          Passaram horas conversando, até que Romeu propôs um encontro, pois a conversa foi se prolongando demais. Ela aceitou e, no dia seguinte, compareceu ao local combinado.  Romeu  também  foi,  mas  chegou  com  uma hora de atraso, e não estava usando a roupa que prometera para  facilitar  a  identificação.  Isso  dificultou  para  Julieta encontrá-lo, mas ela não reclamou para não causar uma péssima impressão no primeiro encontro.

          Romeu identificou-a com facilidade, pois ela estava com o traje prometido e também pela impaciência dela. Ele foi logo abraçando-a, causando dúvidas, porque Julieta não tinha certeza se era o Romeu mesmo.

          - Você é o Romeu?

          Primeiro ele a beijou no rosto, dos dois lados, e depois respondeu:

          - Sou! E eu sei que você é a Julieta.

          Ela ficou mais tranquila ao saber que estava sendo beijada pela pessoa certa. Sentaram-se em um banco da praça para conhecerem-se melhor.

          Primeiro Romeu falou que era filho único, morava com os avós e nunca experimentou qualquer tipo de droga. Era protestante assíduo e tinha acabado de completar dezenove anos. Ela disse que tinha oito irmãs, morava com os pais, também era contra qualquer droga, nunca tomou nem mesmo uma taça de champanhe, era católica e tinha vinte e um anos.                                                                                          

          - Então não vamos namorar...

          - Por quê?                                                                                                              

          - Porque não aceito namorar uma garota mais velha.

          - E eu só estou aqui porque não sabia que você era um homem preconceituoso. 

          - Não é preconceito.

          - É, sim.

          - Não é. Assim como tenho as minhas manias, tenho também as minhas limitações. – Disse Romeu, já num tom de agressividade.

          Julieta percebeu que já estavam se desentendendo antes mesmo de começar o namoro, mas procurou controlar-se para poder observar melhor o seu futuro namorado.

          Romeu parecia disposto a brigar, falando alterado, chamando a atenção com gestos exagerados. Ela tentou acalmá-lo alertando-o que tinha muita gente notando que eles estavam se desentendendo, mas ele disse que aquelas pessoas não estavam concordando com a união deles justamente porque perceberam que ela era mais velha.                                                                                         

          Naquele momento, Julieta perdeu a esportiva e partiu para revidar:                                                                                                             

          - Você não precisa de uma namorada, e sim de uma babá. Filho único, criado com avós, mimado, cheio de preconceitos. Deve ter dado um trabalho imenso aos educadores, e agora está dando muita canseira aos avós.

          - Você nem me conhece.

         - Nem preciso, pois posso imaginar o tamanho da mala sem alças que alguém vai ter que carregar. Com certeza, esse alguém não serei eu. Onde já se viu um rapaz marcar um encontro com uma moça só para brigar?

          - Não estamos brigando.

          - É só o que fizemos desde quando chegamos aqui.

          - Não diga isso. Dei-te dois beijos, lembra?

          Houve um instante de silêncio e ambos começaram a sorrir. Estava ali escrito que não ia valer à pena iniciar um compromisso sério, pois as brigas iam continuar. A menos que os corpos tenham nascido um para o outro. Se isso aconteceu, vão precisar de muita calma para manter um namoro sem agressão física, pois neste primeiro dia já ficou registrado que eles iam aceitar brigas constantes  por qualquer motivo, uma vez que, logo no primeiro encontro, já era visível um desgaste de sentimentos incompatíveis, desperdícios de expressões ofensivas e de atitudes banais, porque  não  se  justifica um casal brigar por uma  diferença  insignificante de primaveras. Imagine se, ao invés de preconceito de idade, fosse de cor, classe social, ou mesmo de religião...

          Na lei dos desequilibrados, vão-se os apressados e ficam os pachorrentos, pois na convivência a dois, nunca houve caso de pessoa afobada casar-se com outra mais afobada ainda. Casa-se o agoniado com uma mulher branda, um agitado com uma estática, mas não se vê dois bicudos se beijando e nem dois atiradores sobrevivendo num duelo do amor, pois se isso acontecer, por uma coincidência, quem vai morrer serão ele e ela, porque, na briga dos sentimentos ciumentos, vale olho por olho e dente por dente, ou ambos vão morrer sozinhos, bem longe um do outro.

               Roger Dageerre. 

  

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Roger Dageerre

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Comentários

  • Se a realção começa assim, feito tempestade, o melhor é nem dar continuidade.

    Aplausos pelo conto.

    Parabéns, Roger.

  • Muito belo conto. Realmente que rapaz mais esquisito e esquentadinho, precisa mesmo é de uma babá. Aplausos mil

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