9 semanas de ficção

                                 PARTE IV

                                  Confissão

          Era uma vez dois apaixonados que estavam se preparando para a lua de mel e, enquanto aguardavam a hora da viagem, ele pediu para ela contar a sua história.

          - Você quer que eu conte toda a minha vida?

          - Quero que você fale dos seus amores. Conte para mim tudo. Quero saber, também, dos seus sonhos que você não conseguiu realizar.

          - Então vamos por etapa. Primeiro, vou falar dos meus amores, mas você não vai ficar com ciúmes?                                                                                          

          - Talvez. Mesmo assim, quero saber.

          - O  meu  primeiro  amor  começou  quando   iniciei   o ensino médio, mas era uma paixão secreta, só eu sabia, pois não contei a ninguém.

          - Nem ele sabia?

          - Não! Ele era o garoto mais bonito do colégio, por isso não cheguei a me declarar.

          - Então, a beleza atrapalhou?

          - Não foi bem isso. Na verdade, eu me sentia inferior na aparência. Acreditava que só as mais bonitas poderiam dar em cima dele. Mas, depois, soube que a primeira menina que ele namorou era mais feia que eu.

          - Você se considera feia?

          - Naquela época, sim. Pelo menos, não me achava no mesmo nível.

          - Essa paixão durou quanto tempo?

          - Uns três anos...

          - Não acredito!

          - Verdade. Naquela época, não  queria  saber  de  outro. Vivia apenas para estudar e ficar apreciando aquela beleza. Apesar dele nunca ter percebido, eu me sentia  uma  menina dependente. Vivia procurando desculpas para estar sempre por perto, mesmo quando ele não percebia a minha presença. O importante era ter o privilégio de poder ficar apreciando o bonitão da escola.

          - Ele era tão bonito mesmo? Ou um rapaz simpático?

          - Além de bonito, era simpático e lindo. Era também charmoso e tinha um olhar penetrante. Mas, era uma pena, pois quase não me olhava. No entanto, quando me encarava, sentia-me totalmente possuída. Como se o olhar dele tivesse o poder de invadir toda a minha privacidade.

          - Como você conseguiu esquecê-lo?

          - Aconteceu uma bobagem, mas foi o suficiente para eu desistir. Cheguei cedo, muito antes de a aula começar, e fiquei conversando com uma amiga. Ele chegou de mãos dadas com uma aluna da nossa turma, e ela disse: “Quero apresentar a vocês o meu namorado! Não é lindo?” - Foi o bastante para eu me levantar e sair batendo os pés. Depois disso, não quis mais nem olhar para ele.                                                                                              

          - Quem mais você desejou?

          - Você! – disse sorrindo.                                                                                    

          - Fala sério. Eu quero saber dos teus namoros antigos.

          - Depois dele, comecei a idealizar um homem que não fosse tão bonito, mas capaz de me deixar saudosa, que me provocasse o suficiente para eu sonhar com o “Cupido”. Queria um homem maduro, bastante experiente para ensinar-me a amar. Que fosse como um professor de amor.

          - Encontrou o tal mestre de amor?

          - Naquela época, não. Mas agora encontrei você, o meu professor de amor. Tudo que eu aprendi, em relação ao amor, foi você quem me ensinou...

          Ele agradeceu e perguntou dos sonhos.

          - Tinha dois desejos, e não realizei nenhum. Primeiro, foi quando sonhei me casando com um rapaz mais novo que eu, mas isso não aconteceu. O outro sonho foi morar na Suíça, mas também não deu certo.

          - Por que na Suíça?                                                                                               

          - Porque sempre sonhei em viver em um lugar tranquilo e seguro. O que mais você quer saber?

          - De um sonho que você conseguiu realizar...

          - De me casar com você! Isso acabou de acontecer...                                                                                       

          - Sim! Eu sei! Quero saber se foi só esse o sonho realizado.                                                                                                                                                                                                                        - Sim. E o que mais? 

          - Das promessas...

          - A primeira vez que nós namoramos, prometi a mim mesma que, se você voltasse, não ia mais te aceitar, mas quando você pediu para voltar, não pude dizer não.

          - Por quê?

          - Porque você me domina...

          - Ok. Vamos pular esta parte. Fale-me das tuas tristezas.

          - Eu tive um período de depressão horrível. Vivia triste e   nem  eu  sabia  o   porquê.  Quantas  vezes  eu  mesma  me tranquei em meu quarto para ficar o dia todo chorando...

          - Por quê?

          - Naquela época eu tinha desejos impossíveis, do tipo desejar que você fosse mais novo que eu. Como isso era impossível, pois não tinha como mudar a tua idade, eu sofria em vão, pois isso não era motivo para eu ficar sofrendo. E chorava feito criança e ninguém  percebia,  pois ficava muito tempo trancada no meu quarto.

          - Você chegou a considerar isso como um erro?

          - Sim! Também acho que eu era muito imatura, mas o maior erro foi te mandar embora por causa de ciúmes inúteis. – e começou a chorar.

          Ele a beijou, enxugou as lágrimas e disse:

          - Eu quero ser sempre aquele com quem você sonhou.

          Ela encostou-se ao ombro dele sem nenhum receio, como uma aproximação sem remorsos, e ele, com a voz carinhosa, disse:

          - Eu sempre te quis, mesmo quando você me  mandava embora. Podia até procurar outra alegando que você não era mais uma menina pura, mas eu não estava amando uma garota perfeita. Sabia que você não era santa, mas eu sempre quis apenas você...

          - Tive muitos amores. Tive sonhos difíceis, mas a única promessa que eu nunca cumpri foi quando eu disse que não ia mais te aceitar de volta. Chorei muito sozinha. Hoje estou aqui, sem rancor, para te dizer que você é a pessoa que eu tanto amo, por isso você é o único que ficou...                                                                                           

          - Vamos, está na hora da nossa viagem de lua de mel...

          Roger Dageerre.

 

 

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