Volume 1
PARTE VII
Paz
Era uma vez um jovem chamado Luiz, que tinha o hábito de caminhar todo domingo, pela manhã, na orla marítima. Fazia isso sozinho, sempre na praia da Boa Viagem. Começava cedo, antes mesmo do sol nascer. Passeava de forma lenta, como se estivesse à procura de um verdadeiro amor.
Durante muitos domingos, não chegou a encontrar algo que justificasse o motivo da rotineira caminhada. No entanto, no segundo domingo de agosto, quando fazia a sua persistente caminhada, encontrou uma toalha de banho estendida na areia à beira da praia. Teve que se apressar para evitar que a onda molhasse a mesma. Logo percebeu que era uma toalha enxuta, pois ainda não tinha sido usada. Percebeu também que era uma peça de uso feminino, pois era cor de rosa e tinha acabamento de rendas. Resolveu estendê-la do mesmo modo que a encontrou, só um pouco mais acima para evitar que fosse molhada pela enchente da maré. De repente, viu uma garota vinda de dentro d’água, provavelmente a proprietária da toalha. Com certeza, não era um avião, mas vinha rasante, empurrada por trás pelas ondas e bronzeada pelos raios ultravioletas. Parecia que crescia mais cada vez que se aproximava. Nada além do que uma beleza de mulher.
Quando ela aproximou-se de Luiz, torcendo os cabelos longos, que estavam molhados, ele ajuntou a toalha e fez questão de cobri-la por trás para continuar apreciando aquele monumento especial.
- Obrigada! – Disse ela enxugando-se.
- Sou o teu eterno servo, Luiz, teu criado!
- Muito prazer! Sou Luana.
- Você parece mais uma nuvem calma. Um presente do céu que veio para tranquilizar a minha alma.
Luana sorriu, pois gostou do jeito romântico de Luiz, depois perguntou:
- O que você faz tão cedo na praia?
- Estava procurando o meu amor...
- Você a perdeu aqui?
- Não, mas acabei de encontrá-la...
Luana sorriu mais ainda, ajeitou a toalha e deitou-se para continuar o diálogo de bruços.
Luiz preferiu continuar de pé, pois assim tinha uma visão privilegiada.
- Solteiro? – Perguntou Luana sem olhar nos olhos dele.
Luiz deu alguns passos, ficou de joelhos à frente dela, e disse:
- Fui abandonado há dois anos. Depois disso, passei a caminhar nesta praia à procura de uma moça para ocupar o lugar de minha antiga namorada.
- Por que ela te deixou?
- Porque eu consumia muita bebida alcoólica, mas agora não bebo mais.
- Mesmo depois que deixou a bebida, não foi possível uma reconciliação?
- Não, pois ela me trocou por outro. Quando me recuperei, ela já estava casada.
- Você continua sofrendo?
- Sofria, mas agora, que te encontrei, não sofro mais.
- Por quê?
- Porque você é tudo.
- Confesso que gostei de você, mas preciso conhecê-lo melhor, e também tive problemas com uma relação amorosa que só deixou decepção. Cheguei a prometer a mim mesma que não ia mais me apaixonar...
- Não tenho pressa. Posso esperar a vida toda...
Desta vez, Luana não sorriu, pois estava tratando de um assunto muito sério. Talvez até estivesse acabado de encontrar o seu outro lado da laranja, mas sabia que precisava ter cautela, porque cada degrau do edifício do amor é preciso ser pisado com firmeza e com passadas lentas, usando-o como experiência para evitar cometer o mesmo erro duas vezes.
Ela pensou um pouco, depois perguntou:
- Sou a mulher ideal para você?
- Você é como um presente do céu...
- Por quê?
- Porque você é uma mistura de estrela com o reflexo solar. Você é a natureza que faz reviver o amor que eu tinha desacreditado. Você é a lua que ilumina a esperança de um amor eterno. Você é a bravura das ondas que tem o poder e a consideração de devolver tudo que é arremessado ao mar. Resumindo: você é o material que nunca pode ser descartado.
Luana sorriu, levantou-se e disse:
- Você fala como uma música romântica. Vou tomar outro banho. - Entregou a toalha a Luiz e saiu caminhando com a mesma lentidão de como veio, e ele acompanhou-a com olhar malicioso, apreciando por trás o belo cenário que tem condição de competir com a beleza da natureza. Luana jogou-se ao mar e saiu nadando, exibindo o seu bonito traseiro, e tão provocante como uma luz de cristal. Cada braçada obrigava Luiz a se abraçar à toalha como se estivesse apertando a moça.
Depois que nadou bastante para frente, ela foi devolvida pela força das ondas, como um espetáculo maravilhoso.
Luiz procurou controlar-se ao máximo, mas a emoção foi imensa, o suficiente para provocar lágrimas de um amor puro que estava começando, então ele rapidamente enxugou os olhos para ela não perceber. Parou de olhar na direção de Luana, e olhou ao céu dizendo:
- Senhor! Obrigado por tudo, pois agora tenho a paz...
Roger Dageerre.
Comentários
Que lindo!!!! Parabéns Roger! Romantismo na medida certa !
DESTACADO!