A vida no sertão

A VIDA NO SERTÃO

Tem dias em que fico no portão de minha casa olhando a rua onde moro, e de repente algumas lembranças do passado me vem à cabeça.

E hoje, aqui, ainda sentado em minha cama, me lembrei de quando eu e meus irmãos ficávamos brincando com as cores dos carros que passavam. Os vermelhos eram meus, os brancos de minha irmã, e os pretos do meu irmão.

Agora percebo que naquele tempo poderia ter sido melhor escolher brincar de contar as pessoas que passavam. Acho que seria bem mais divertido, as altas seriam minhas ; as pequenas de minha irmã; e as miúdas de meu irmão, e tudo seguindo uma hierarquia, já que eu era o mais velho e maior.

Acho que seria prudente não mudar a brincadeira, mais sim os objetos que no caso eram os veículos...por seres humanos, digo isso porque havia muito mais pessoas que automóveis.

Nos dias de hoje é bem diferente, carrões estão em grandes números nas ruas, e por consequência acaba invadindo calçadas. As máquinas tomaram conta das estradas, dos campos e até mesmo os lugares dos sonhos imaginários meu e de meus irmãos...onde por horas brincávamos alegremente...esses foram também tomados.

Me recordo dos pardais majestosos e do voar das andorinhas, tinha também a dona Teresinha, uma senhorinha pequenininha que a gente chamava carinhosamente de baixinha, tadinha, de longe ela nos avistava, e com um lindo sorriso nos dizia...
— venham meus netinho...vem pro colo da vó.

As vezes fico pensando, a vida na roça é dura, falta quase tudo, tem lugares que não tem água em abundância, mais as crianças de lá tem infância, e o que é melhor, o que comem vem da própria plantação. Não tem coisa melhor que essa não!

Naquele tempo eu entrava no terreno dos outros e lá me fartava de mangas amoras e goiabas. Tinha também o jamelão e o cajá, que eu nem queria, pois seu azedo muito minha boca ardia. Essa era minha única travessura, saborear a fruta alheia, assim como faziam os pássaros. Coitados, agora eles não têm muito o que comer, e muito mal um galho de árvore para pousar.

Uma coisa me veio agora a cabeça...pior, é que, eu nunca tinha pensado nisso. Bons tempos viveram os passarinhos que revoavam os nossos antigos bosques!

Nos dias de hoje para poder saborear um caqui, mesmo com cica, devo levar dinheiro no bolso, pois essa fruta saborosa e vermelhinha...ela agora é vendida, assim como são as espigas de milho que a gente colhia praticamente no quintal de casa.

Confesso que se eu pudesse escolher aonde ter nascido... escolheria nascer na roça, porque lá, ainda se pode ver os senhores e ouvir suas conversas chamadas de prosa, a moda de viola e do violão, lá também tem a dona Verinha, dona Rosa e dona Teresinha, não são as mesmas do meu tempo, mais são lindas também.
Por lá ainda existem as pequenas ribeirinhas que cozinham, lavam e cuida da plantação.

Essa é a diferença da vida na cidade grande com a que é vivida no sertão. Na cidade grande tudo sobra, e muitas vezes não são aproveitadas, pelo contrário, quase tudo é jogado fora; ou dado aos porcos como alimentação.
Na roça todo grão é contado, a comida é calculada, e quando sobra vira baião.
( Baião: prato típico do estado do Ceará)

Então é isso. Nas metrópoles temos tudo em abundância, mais de que adianta se vivemos tristes; ansiosos e na solidão...por conta do desamor. Na roça a fartura não é tanta, mais por lá não falta amor.10833379054?profile=RESIZE_400x

Igor Rodrigues Santos

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Comentários

  • Olá Igor:

    Versar sobre quem somos, para onde vamos e porque tem relação sim com muita inspiração.

    Parabéns

    Abraços

    JC Bridon

    • É  verdade amigo...Gratidão por me ler

  • Um texto expressivo acerca da diferença de viver no sertão e nos tempos modernos nas grandes metrópoles agitados.

    Eu vivi minha infância na roça, quanta diferença.

    Parabéns pela publicação prezado Igor 

    Antonio Domingos 

     

    • São realmente modos de vida difere. Gratidão por me ler bom amigo.

  • Maravilhoso texto!!!

    Parabéns, Igor!

    Um abraço 

  • Um texto comovente. Otima semana e meu abraço

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