Círculo Vicioso
Machado de Assis
Bailando no ar, gemia inquieto vagalume:
- Quem me dera que eu fosse aquela loura estrela
Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!
Mas a estrela, fitando o astro-rei, com ciúme:
-Pudesse eu voar sobre o mar e a terra,
Fosse um simples vagalume!
O sol, voltando ao mar, pensava em sua vez:
- Que inveja tenho da lua, que branca vive à espera
Do poeta que vem cantar, mulher sincera...
E a lua, olhando a terra, a desejar talvez:
- Pudesse eu, como o homem, amar e ser amada,
Viver, sofrer, gozar, sentir, tudo em uma estrada...
E o homem, contemplando o inseto em noite calma:
-Oh! quem me dera ser aquele vagalume
Que brilha sem ter alma!
Fim
Machado de Assis.
Janeiro 2015
Resumo:
O Poema Círculo Vicioso de Machado de Assis, obra curta , irônica e filosófica.
O ceticismo do Poeta em relação ao ser humano e a sua conduta moral humana o preocupa.
Cada ser objeto ou não objeto quer ser sempre outra coisa, e assim sucessivamente temos o círculo vicioso.
Uma decepção de que tudo que vai embora,volta outra vez….
Enfim, a decepção com a moral do Ser Humano.
Ser um vagalume Que Brilha sem ter Alma é um ápice de decepção.
É ser uma degradação de um ser vivo.
Postagem Antonio Domingos
Comentários
Antonio, meu aristocrata amigo, eu amo ler Machado, portanto, vou tecer algumas estultícias aqui: eu vejo que no entrelaçar de desejos e desilusões, Machado borda com sutileza e de um jeito singular o paradoxo da existência: o anseio constante pelo que não se é. O poema, em espiral melancólica, revela almas órfãs de contentamento, espelhadas em astros, insetos e homens. Ser vaga-lume sem alma — clarão vazio, brilho em vão — traduz o desespero da consciência humana diante de sua própria incompletude. Uma dança cósmica de vontades que jamais se tocam. Para ler Machado, eu faço do nada, o tudo que eu puder! Parabéns e um forte abraço (você trouxe um belo poema)! #JoaoCarreiraPoeta.
Você trousse aqui algo tipo filosófico, algo de refletir além, algo que chama atenção. Abraços!
Bravissimo!!! Leitura imperdível caro poeta. Abraços