Os Óculos Do Vovô
Ser, ou não ser um contador de história, eis a questão?
Meu avô José Carreira era um contador, mas infelizmente, não tive o privilégio de ouvir uma só de sua boca.
No entanto,
da boca de meu pai João Carreira ouvi inúmeras.
E uma delas foi simplesmente, sobre os óculos de meu avô.
Ambos viveram em Portugal na minha terrinha.
No coração de uma pequena vila, vivia o querido vovô José Carreira, cujos óculos eram tão míticos quanto ele próprio.
Seus óculos, de armação matizada por anos de histórias e experiências, tinham o poder quase verossímil de transformar o cotidiano em poesia.
Segundo meu pai, um certo dia, ao farfalhar das folhas de outono, vovô José Carreira encontrou seus óculos sobre a mesa, um presente dos deuses.
— "Ah, meus fiéis companheiros de visões," murmurou, "sempre prontos para eclipsar a obsolescência da rotina."
Meu pai já era um rapaz pragmático e amiúde cético, viu meu avô colocar os óculos e soltar um aforismo que reverberou pela casa:
— "A vida é uma cacofonia de momentos, cada um matizado por suas próprias matizes." Meu pai, no entanto, galhofava da filosofia de meu avô.
— "Papai, esses óculos fazem você ver coisas que não existem!"
Mas José Carreira, meu avô, com um sorriso sagaz, respondia:
— "A visão é uma dicotomia, meu filho. Não se trata apenas de ver, mas de ter a percepção."
E assim, colocou os óculos.
Instantaneamente, a sala se transformou em um jardim florido, os móveis se tornaram árvores frutíferas, e o ar se encheu do doce farfalhar das flores ao vento.
Meu pai disse que naquele momento, atônito, experimentou um Déjà-vu, como se tivesse visto aquela cena antes, em algum sonho distante.
— "Como é possível, Papai?"
perguntou, agora intrigado. José Carreira, meu avô, amavelmente respondeu:
— "Haja vista que a magia reside em nossa capacidade de ver além do que é tangível."
Amiúde, vovô e papai mergulhavam em aventuras através das lentes mágicas.
Viajaram ao Mega Mercado das Maravilhas, enfrentaram o Super Dragão da Montanha e conversaram com o Power Sábio do Bosque Encantado.
Cada aventura era um capítulo de um livro infinito, cheio de risos e lições.
Portanto, a moral das histórias de Vovô José Carreira não era tampouco sobre os óculos em si, mas sobre a visão que transcende o óbvio.
Finalizando com muita saudade, entre a cacofonia do presente e as matizes do passado, viviam aventuras que, embora verossímeis ou não, eram, sobretudo, inesquecíveis.
Um cheiro poético a ti que leu esta linda história.
Que o nosso
— Deus —
te abençoe ricamente tu e tua casa.
Amém?
#JoaoCarreiraPoeta. — 04/08/2024. — 9h03
Comentários
Linda história. Felicitações João Carreira.
E viva o ÓCULOS!
E viva o pragmático óculos Margarida. O que seria de mim sem eles. Gratidão.
Bom dia, João. Sempre com textos bem descontraídos e didáticos que trazem satisfação ao ler ,além de enriquecer a cultura. Abraços meus
Bom dia minha querida Lilian. Que satisfação revê-la. E ler-te (mesmo em comentário) é um deleite. A mente de um poeta é incognocível.