Olho-me no espelho:
calvo, rosto enrugado,
cabelos brancos, barbas brancas.
Calcei tênis e vesti bermuda.
Vesti camiseta regata.
Na cabeça, botei boné.
Tranquei a porta.
Peguei as chaves.
Saí.
Comecei andando,
caminhando no fim da tarde.
De repente, pensei em correr;
pensei e corri.
Com a velocidade que meu tempo
me permitia.
Mas corri.
E fui correndo até que a cidade desapareceu.
Então vi a paisagem sem prédios,
sem ruídos sem fuligem, sem atropelos.
Minha velocidade aumentou.
Meu corpo estava mais leve.
Passei por trilhos entre flores.
Ouvi cantar de pássaros.
Meu corpo estava mais leve,
meus músculos como que mais rígidos.
Continuei correndo.
Parei no regato para tomar água.
Vi meu rosto na água refletido:
cabelos e barbas negras.
Levantei-me.
Continuei a correr.
Agora, mais veloz ainda.
Passei a mão no rosto
(agora não havia regato).
Liso, nenhuma barba.
Continuei correndo.
Agora mais veloz.
Foi então que vi a estradinha,
a porteira e a casa.
Corri mais e mais e mais.
Quem escolhia o feijão na peneira
era a vovó.
A outra, a mais nova, era mamãe
(costurava o buraco de uma meia).
Cheguei.
Cheguei arfante, cheguei cansado,
com a boca aberta, a língua de fora,
cheguei menino.
DADO CARVALHO
Sorocaba, 26.11.2012 – 12:50h
Comentários
Muito obrigado, Margarida.
Muito obrigado, Angélica.
Bela Poesia, lindos Versos.
Bela temática Poética.
Parabéns caro Dado Carvalho
Abraços de Antonio Domingos
Que lindo!
Belíssimos versos!
Parabéns, Dado.
Um abraço
Muito obrigado, Antonio e Márcia!!!