Desiderando
J. A. Medeiros da Luz
As falanges do diabo estão à solta.
A galinha ômega — oh, coitada!
Impelida por arroubo de otimismo —,
Almejava a galgar o alfabeto
E de peito estufado
De penas brilhosas, reluzentes,
Bicar — como alfa que seria —
Aquela insolente que ousasse
Cruzar o seu caminho
Sem a devida vênia.
Pobre galinha ômega:
Pereceu de hipotermia em uma noite,
Em canto úmido de seu galinheiro;
O pescoço rijo, (em partes) depenado
Pelos bicos das galinhas
Alfa e beta e gama e delta…
Enquanto aquelas de início ditas
Hordas buliçosas de demônios
Uivavam, gargalhavam nas espiras de trevas,
Cavalgando o vento.
Mas, cumpre informar, amigos, que nossa galinha
Ascendeu ao paraíso galináceo
E, hoje, são dela vastos ares dos dourados
Arrozais e trigais do paraíso,
Dourados de espigas farfalhantes ao sol.
Ouro Preto, 2025 — junho, 15.
[© J. A. M. Luz]
Comentários
Aplausos,Poeta!
Meu abraço
Agradecido pela visita e incentivo, cara Ciducha!
Resta-nos sempre o consolo, por mais longe dos alfas e álefs que estejamos na hierarquia da vida sobre a epiderme de Gaia, o consolo de que, após a undécima hora, nos reservarão o uso dos intérminos arrozais do Paraíso.
Abraço do J.
Belíssima Poesia de muitas nuances e reflexões.
Gostei demais de seus versos e enredo.
Quanta cultura de nosso Poeta. Abaixo um singelo e humilde comentário..
Desiderando, sonhos estranhos...
A Falinha para ter Ômega tem de ter uma alimentação especial como peixes diversos e linhaça.
Ora, uma alimentação que aqui não lhe trouxe vantagem alguma sobre as demais mortais alada, beta...
A Omega também morre, não dá para viver somente de peixes e linhaça,, há de ter outras condições
A galinha Ômega é mortal.....O desiderar não é eterno...
Parabéns prezado Poeta JA Medeiros
Abraços fraternos
Caro Amigo Antonio Domingos: Obrigadão pela visita e comentários.
Com efeito, os seres humamos partilhamos muitíssimos comportamentos com outros grupos de animais, que a nós nos parecem (estúpido que somos) inferiores. É o caso das galinhas, das hienas e lobos, entre tantas outras greis por esse mundão de Deus... A vida em grupo e associada disputa pelos recursos vitais e reprodutivos (é o caso do "gene egoista" do velho Richard Dawkins) acaba por suscitar as hierarquias...
Então, com o advento de crenças supremacistas, entra o alfabeto grego, no linguajar dos etologistas: o indivíduo (ou casal) alfa, que se sobrepõe, nas partilhas ao indivíduo beta, e assim por diante. O coitado do ômega de tal grupo só leva as sobras e a pancadaria "pedagógica" (embora, como membro da grei, também é protegido das ameaças exteriores...).
No fundo, com as forças telúricas e titânicas das vissicitudes da vida e apesar da empáfia de castas que se veem como superiores, somos todos ômega, somos todos párias... Perto do maremotos existenciais, a canoazinha humana, que teima em remar nas tempestades (até por falta de opções) é um graveto a flutuar nos vagalhões.
E acaba que foi essa a motivação conceitual do poemeto: somos párias intocáveis, mas — para muitos de nós — em sendo, em vez disso, alfas (aceitemos essa ilusão!), sairíamos por aí bicar e exercer a coação a torto e a direito sobre os menos aquinhoados do destino. Podemos dizer, com um quê de ironia, que as rações com ômega-3 sempre acabam nos bicos dos alfas.
E, como lá diz a versão do filme Giant (de 1956),em português: Assim caminha a humanidade....
Abraço do jota.
Obrigado Poeta JA Medeiros.
Entendido a vossa análise Com certeza somos todos ômegas e párias neste cabide complexo que e a sociedade.
As rações com ômega -3 sempre acabam nos bicos dos alfas e assim sucessivamente...
Assim caminha a humanidade.... Infelizmente.
Abraços fraternos e esteja bem prezado Poeta.
Lindo e verdadeiro... Parabéns,J.A, amigo do coração!
DESTACADO
Um abraço
'
Muito obrigado pela visita ao sotãozinho do jota, cara amiga Márcia! E obrigado pela gentileza do destaque.