PUBLICADO no CPP
Herança Maldita
As Fotos estão empoeiradas nas paredes
São antigos quadros de desilusões
Fraturadas nos álbuns perdidos nas gavetas dos móveis.
Envelhecidas e rasuradas em preto e branco
Algumas amareladas mas parece um falso outono
Os bibelôs sujos de côco de mosquito
Os móveis cheios de pó e poeira
O chão com aquele encardido
O chuveiro com raiva
Não abastece água quente
Cadê o encanador
Que fugiu com uma amante
O cofre cismou de ser pobre
Nem um vintém dentro deste maldito
Objetos e dejetos de acumuladores
Sem piedade o tempo transforma
O vivo vivido em ato de acumulação
Doentia e tardia sem caridade deforma
Uma herança cruel de tudo que se construiu
E aos poucos enveredou a sumir ou ruir
Falar em gestão neste Poema é mal gosto
Uma herança de genética se faz pior
Os versos deste humilde relatar
É um órgão, um cérebro, um intestino
É uma pressão alta de soberba
As lágrimas são intensas e espontâneas
Um resto de esperança em curas milagrosas
É um alimento descompensado consumido a vida inteira
Que a vida faz viver e também faz morrer
E em larga escala adoecer
São os órgãos fatalmente inflamados
Os herdeiros desta mansão do século passado
Estão todos deitados em camas deformadas
Pelo uso excessivo destas mesmas camas
Sempre destroem os empoeirados colchões
Lembranças das lápides são sonhos em trama
Cilada que os costumes aceleraram
Há uma pobreza infinda de qualquer querer
O seu próprio mundo não poder mudar
Horror de certas heranças
Não se herda mais a genética.
Assim evolui o mundo
A vida é longa e frenética
Saiam deste fim imundo
Fim
ADomingos
Março 23
Comentários
Eu me emocionei com cada verso.
Creio ser a mesma onda vibratória do escritor e do leitor.
DESTACADO.
Eu sempre escrevo muito de mim o que com certeza é muito dos outros também.
Com certeza há uma sintonia.
O Tempo voa e deixa restos.
Abraços fraternos de Antonio Domingos