IMORTALIDADE

 

O tempo não passa

Nós é que passamos

O tempo continua  imóvel no seu lugar

O tempo da construção da necrópole de Gizé

O tempo do nascimento de Cristo

Não mudaram, nós é que deles nos afastamos

 

O tempo tem influências contraditórias

Pode ser algoz ou aliado

É punição para quem perdeu a capacidade de sonhar

É bálsamo para curar as dores da alma

Dependendo do sofrimento, nem sempre é assim

Nem o tempo de toda uma vida é suficiente

Para que a dor encontre o seu lugar

 

Os deuses, por serem atemporais, não têm pressa

Para eles tudo é ontem, hoje e amanhã

Criaram o tempo e nos condenaram a viver dentro dele

Fizeram do tempo  nosso cárcere

Entretanto, uma vez escravos do amor

Do tempo nos libertamos e enganamos os deuses

Fazendo os segundos se eternizarem

E assim segue o homem, sempre escravo

Ora do tempo, ora de seus amores

 

O homem em seu efêmero tempo de vida

Dividiu o tempo em presente, passado e futuro

O presente o que é

Breve momento

Que passa mais  rápido

Que um fugaz pensamento

E logo se une ao passado

 

Passado que reside na memória

Que gera lembranças

Que viram saudades quando agradáveis

Ou esquecimentos quando sofridas

E o futuro?

É não mais que uma miragem

Quando dele nos aproximamos

Logo vira presente e jamais será  alcançado

 

O homem criou o calendário e o relógio

Há registro de tempo em quase tudo

No pulso das pessoas

No forno de micro ondas

No telefone celular

No painel dos automóveis

Além das torres das igrejas

 

O tempo mede a duração da vida

Que para os céticos tem começo e fim

Termina como começa

Antes nada havia e nada haverá depois

Já os crédulos vaticinam

Que ela não finda com a morte

Mas em um divino vicejar

 

Sem começo ou fim

Sem fim ou começo

Para uns o paraíso das almas

Para outros uma prisão perpétua

Tudo muito comportado

Numa auspiciosa imortalidade

Dentro de uma desejada  eternidade

 

Um paraíso cheio de tédio

Sem o luar dos amantes

Sem amores, paixões e entregas

Sem sonhos, sem devaneios

Sem alegrias, sem tristezas

Sem sentimentos

Sem as miragens do futuro

Sem as saudades do passado

 

 F J TÁVORA

 

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