Laudelina in: Apetrechos e Trechos

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Sim... - Me lembro muito bem. Entre meus 9 e 11 anos, já pré-adolescente, fui diversas vezes visitar o Tio Arnolfo e a Santa Tia Laudelina, onde junto com o primo Wilson de minha idade, brincávamos de apanhar jenipapo nos pastos da Fazenda Palmeiras do Sr. Quinzinho Franco, e ou "correr das vacas com bezerrinhos novos".

Pernoitava por lá sempre uns 3 dias, normalmente nos fins de semana. Me lembro bem, que bem antes do sol raiar, pelas 6 horas das manhãs, a Tia Laudelina e o Tio Arnolfo, levando as afiadas enxadas nas costas, iam até os imensos cafezais da Fazenda, para fazer a "carpida" das ervas daninhas e ou para a "trilhagem" (retirada dos grãos de café dos galhos) para os sacos de estopa, que depois seriam descarregados no terreiro de tijolos e cimento construído pelo Pedreiro e Mano Juracy, a serviço do Padrinho Quinzinho.

Como já éramos grandinhos, também ajudávamos um pouco nessas tarefas, embora como lazer. Tanto o Tio Arnolfo quanto a Tia Laudelina eram experts nas tarefas citadas. Por volta das 11 hs., para a refeição, não raro, apanhávamos mamões maduros dos muitos pés no meio do cafezal e ou melancias no solo entre as fileiras dos pés de café.

Não tenho lembrança exata se a Tia e o Tio também se alimentavam disso, até porquê não foquei em tal fato, e ou se também comiam as frutas existentes e ou se levavam de casa algum caldeirãozinho (costume da época) com a famosa "bóia fria".

Depois que o ensolarado menino Sol tinha se deitado, retornávamos nu'a espécie de fila qual procissão de volta para o aconchego do Lar, que no caso era a 5ª e última casa construída pelo Dono da Fazenda para os Colonos que em troca de moradia e um pequeno terreno ao fundo de suas casas, onde podiam plantar mandioca e alguns legumes quais quiabo, para seus próprios sustentos.

No trajeto de volta, distante uns 1.500 metros, a Tia Laudelina apanhava algumas serralhas que eram abundantes e naturais no solo para servir de "mistura" no jantar.

Tão logo chegava, Tia Laudelina, ia até o fundo da cozinha no quintal, onde ralava algumas mandiocas recém extraídas do solo, formando uma espécie de 'mingau branco de farinha". Nesse interim, colocava no fogo o feijão colhido no mesmo quintal, para cozimento.

Assim que cozido em um caldeirão grande ainda no fogão de lenha, eramos convidados para a Last Cena (ceia da noite) que consistia nesse feijão cozido, onde adicionávamos farinha branca de mandioca e como dito antes a "mistura" era a salada de serralha, temperada com sal e limão galego.

Ah... - Podem acreditar, raramente no dia a dia desta "longa estrada da vida" me recordo de refeição mais saborosa! Provável e certamente pelo milagre desse sabor pela simples presença do toque da mão suave (no sentido angelical) mas ao mesmo tempo cheia de calosidades, pelo trabalho pesado da roça.

El Tiempo Pasa . . .

Vinte anos após, eu com quase toda a Família que tinha um nome A velar, tínhamos sempre o comando do Mano João em todos os sentidos, mudado para a Paulicéia desvairada, onde cada qual foi trilhando seu próprio caminho.

Nas férias anuais, do cargo de Subchefe de Base de Provimento da PetroBRás, era comum viajar com a minha Família composta de 3 Filhos para Birigui, sempre com um carro novo ou seminovo. Nessas férias, gostava muito de ir visitar a Tia Laudelina, ora morando na Cidade na Vila Xavier, já viúva do Tio Arnolfo. Era uma casa nos fundos do quintal, cedida por um parente dela (creio que Santo).

Eu já sabia que a Tia Laudelina, em que pese o peso de sua idade, ainda ia trabalhar na roça, nos famosos caminhões dos "Boias Frias" dos quais ela era uma. Eu ia visitá-la por já no início da noite, e ficava aguardando-a descer da carroceria do caminhão e chegar em casa, onde minha visita seria eu tinha certeza disso, uma grande alegria para ela.

Começava a escurecer, e adentrava na Casa a Tia Laudelina, com aquele sorriso que aumentava ao sentir minha presença e mais ainda quando com o respeito que sempre tivemos (aprendemos na infância), beijava a sua negra mão cheia de rugas e calosidades.

Não deixei de notar nunca, que ela trazia consigo, desde a carroceria alta do Caminhão dos Boias Frias, diariamente um "feixe de lenha com galhos secos" que serviria para colocar na "boca do fogão de lenha" de sua humilde casa, ainda que na época e na cidade, já existiam os fogões a gás propano ou butano ou "glp".

MAS... - A primeira coisa que iria fazer, não era qual no passado a "Last Cena" e sim um saboroso café que assim que pronto, colocava no bule esmaltado, e que me oferecia uma caneca que eu sorvia como se fosse o "licor dos anjos" e ou uma dose do whisky White Horse!!

É inenarrável até para o mais inspirado Poeta, descrever o sorriso de felicidade que irradiava do rosto da Tia Laudelina, simplesmente por essa visita e "degustação" de tal cafezinho. Imagino por analogia como se sente e ou sentirá quem defronte o Portal do Paraíso, com o Bilhete de Ingresso pré-aprovado em mãos!!!

Ah... - Esta história que não é estória, qual todas as repetidas trilogias não têm fim...

Por isso, que para rimar (finalmente) ora procede o...

" TO BE CONTINUED !!! '

26/03/2023 - gaDs

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