Na procissão

Na procissão (José Carlos de Bom Sucesso)

 

            O padre ainda comentava o melhor texto, pois dali a pouco a procissão sairia pelas ruas da cidade.

            Algumas rajadas de vento eram sentidas pelo fieis, mas não tinha nada de anormal. Negras nuvens cobriam o céu lastreado pela lua cheia. Clarões eram vistos bem ao fundo, porém o sermão continuava e era aclamado por várias pessoas que atentamente o ouviam. Os vendedores de velas circulavam por entre o povo e o preço de cada vela estava em concorrência. Tinha alguém vendendo por até a metade do valor de mercado.

            Ritinha mantinha os olhos fixos no altar, pois o padre dava lindos conselhos aos que ali estavam e, para ela, estava muito interessante. De vez em quando perdia-se a atenção se distraindo pelo desenho da vela e pensava em uma magnífica figura geométrica da qual estava estudando no curso ginasial.

            Do lado dela, o casal de anciões se aproximou. Tinha cada um deles a maior e mais resistente vela ornamentada em papelões para a proteção contra o vento. Ela achou normal e ficou pensando quantas primaveras o casal já passou. Na mente, deduzia que eram mais de setenta e admirou o amor e carinho entre eles. Um pouco mais atrás, o jovem casal trocava-se entre quem seguraria o pequeno bebê, com mais ou menos um ano de idade. Lembrou-se de quando ainda era pequenina. O forte amor entre seus pais fez com que ela sorrisse bem baixo, o mais discreto possível para não incomodar o pequeno bebê. Admirou-se em poucos segundos, ao ver a melhor amiga bem abraçada com o jovem alto, robusto, trajado de camisa de malha, calça jeans e tênis branco. Mais uma vez o pensamento lhe atordoou, pois, a amiga não lhe dissera que estava namorando. Assustou quando o colega de escola lhe tocou o ombro, onde repousava a alça da pequena bolsa preta. Pensou ela ser alguém desconhecido ou talvez algum gatuno, mas logo o nome dela foi ressoado pelo amigo. Fez um belo sorriso no rosto e logo foi mostrando a amiga com o namorado. Os dois riram por alguns segundos. Ao pé do ouvido, murmuram-se que o rapaz era bem feio e desajeitado. Pequenas gargalhadas foram dadas até que se calaram com a chegada dos pais dela. Foi o silêncio, mas nenhum dos dois poderiam olhar entre si, porque era certo o sorriso.

            Alguns minutos se passaram. O padre sempre falando. Logo, terminou o sermão. A mulher vestida de preto, incluindo o véu na mesma cor, murmurou a linda canção na língua latina. A banda de música iniciava a tocada da música fúnebre, muito triste, mas era a tradição da festa. As pessoas foram aproximando. Velas eram acesas e o casal de anciões resmungava entre si, pois os dois queriam ascender suas velas. Ritinha logo se prontificou, pois dentro de sua bolsinha, ela levava o isqueiro para ascender a vela. O casal agradeceu e logo sumiu por entre a multidão que se aglomerava entorno dos dois andores.

            Seus pais logo a chamaram e convidaram o colega de escola para que acompanhassem a procissão.

            Assim, também se misturaram na grande multidão, que ao som da banda de música, das orações e dos cânticos, conduziam a grande procissão.

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José Carlos de Bom Sucesso

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