No Caminhão Baú
Lá vai pela estrada de terra sem fim, pairando no ar a poeira seca e toxicante; sufocante, e, por trechos enlameados ;carreados ,e, escorregadios ; arredios, ora retas de não se ver o fim, ora por curvas tortas; mortas, e, muitas, sem a visão do final deste túnel.
O caminhão é um Baú, com as portas traseiras trancadas por cadeados surrados; esmurrados, e, enferrujados; engasgados, até que por fim as portas se abrem, e o condutor anônimo nem se dá conta, e objetos caem aos poucos na estrada deixando um rastro do caminho; sem ninho.
Estrada com poucos trechos reparados; costados , e, com pedras nos buracos, e os pneus corroídos, gastos, decepcionados, rodam com dor, e algumas pedras saltam em malabarismos; casuísmos , e, sem rumo e naquele vazio de floresta baixas atingem insetos inocentes; picantes.
Dentro do Baú segue uma mudança de poucos móveis velhos; evangelhos , e, um destino sem destino, em desesperanças ; crianças ,e , almas perambulando nos balanços da carroceria; porcaria, e , na sonolência; indecência , e, mórbida ; sórdida ; e , os sonhos exalam odores de suor e mofo cafofo , e , o caminhão segue sofrido; ardido, e , sem rumo .Um calor escaldante; estonteante; torturante , e, de uma morbidez acintosa a dignidade humana de ser.
Lá vai uns migrantes a procura de uma nova cidade sem lei.
Que cidade?
A primeira que vier, que se pode ver, que tem casas, barracos e ruas e vielas: velas , ao ar, ao vento, como um navegante em alto mar sem bússola.
O caminhão Baú segue nas expectativas esperançosas das desesperanças de milhares de brasileiros invisíveis; fusíveis, e , com o céu de cor de anil neste Brasil, quase, varonil.
FIM
Antonio Domingos
agosto de 2014
Comentários
Quantos que, munidos de fé, embarcam nesses caminhões e vão plantar o sonho no terreno que não conhecem para, simplesmente, viver e prosperar.
Aplausos!
Grato estimada amiga Poetisa das Minas Gerais por seus comentários.