O Espaço Dançante

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O Espaço Dançante

 

Aporto neste recinto sombrio, ambiente de duros desafios, onde os afazeres são segredos – talvez pecados , trancados a sete chaves em silêncios vazios.

Quanto mais me esqueço, mais me desfaço, fecho os olhos úmidos, turvos, para não enxergar, e nesse gesto vago, apago você também.

Aqui tudo é eletrizante, instigante, eclético , como sonhos delirantes entre pesadelos gritantes , com vestimentas sórdidas, insolentes, quase indecentes.

São tecidos vibrantes, ora obscuros, misturam seda pura com tricoline, bom gosto com luxo de sombras amarrotadas, onde as rusgas brilham.

Há ternos brancos de linho, tão finos, e outros mal combinados, ridículos, com calça preta, camisa rosada, sapatos marrons , pura excentricidade de mal gosto.

Os bem-vestidos desfilam orgulhosos, calmos, pelos cantos do salão, e só convidam as damas de seda branca e sapatos pretos, discretos.

 

E tudo segue como se fosse normal, nesse mundo quase animal, onde até o lobo uiva, e os gestos se perdem em peças de um carnaval banal.

Ainda posso te ver, entre brilhos e excesso, em sua extravagância pura, rodopiando sozinha, como louca, com véus nas mãos e olhos de lua.

És, por aquelas poucas horas de voz rouca e intensa, a que canta alto, descompassada, acima do tom. És uma louca encantada.

 

Me nego a descrever o ambiente imenso, um enorme quadrado de músicos e dançarinos extasiados, quase alucinados.

Anestesiados, não sentem qualquer dor, mesmo com os pés pisados ou por usarem sapatos apertados, aflitos.

 

Tudo aqui é grandioso, sonso, um circo de ilusão, onde falta sensatez, sobra aridez, e os olhares são punhais de secura.

A cerveja importada é servida em mini baldes prateados, com a hombridade da boa ação, entre educação, costume e vício, quase um artifício.

 

Um ambiente desorganizado, caótico, que paradoxalmente funciona bem aos sons da Banda e aos passos incansáveis dos dançantes errantes.

 

Reconheço que já a conhecia de outras paragens, e hoje, aqui, ela nos reaparece e nos presenteia.

Enroscada em suas cicatrizes, que desenham as teias – da vida, das aranhas, das memórias alheias.

 

De vermelho escarlate, vestido ousado, bem decotado, com proeminente farol, seios sensuais, cabelos aloirados com laquê firme, olhos vívidos , mulher cheia de vida, tensão e tentações.

 

Não quero me mostrar, me recolho, me escondo por trás das cortinas – finjo não vê-la, para não vê-la com os meus olhos de quem ainda deseja um pouco mais daquela antiga Paixão.

 

 

Fim

À Domingos

Abril 2025

https://youtu.be/Gcxv7i02lXc?si=O9D8WD8RMuGtDyXL

Por una cabeza

 

 

 

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Comentários

  • "Não quero me mostrar, me recolho, me escondo por trás das cortinas – finjo não vê-la, para não vê-la com os meus olhos de quem ainda deseja um pouco mais daquela antiga Paixão."

    Affffff Antonio

    Perdi até o fõlego rs

    Parabéns!!

    Abraço

     

    • Agradeço muito de coração amiga Poetisa Ciducha seu comentário que que que sempre espero com ansiedade.

      Abraços fraternos 

  • Com maestria, o poeta Antonio, deixa seu estigma, sua idiossincrasia, em mais belíssimo texto, portanto, eu o parabenizo! Um forte abraço! #JoaoCarreiraPoeta.

    • Agradeço muito de coração seu comentário sempre dócil e estimulante.

      Uma honra ter sua apreciação amigo Poeta.

      Abraços fraternos João Carreira 

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