O Passarinho Grato

O Passarinho grato

 

Francisquito regressava a casa, quando ouviu algo que lhe pareceu o piar de aflição de algum passarinho. Imediatamente um pensamento lhe aflorou à ideia, aquilo só podia ser obra do menino Vítor.

Vitor era um jovem, mais ou menos da mesma idade de Francisquito, que passava o seu tempo livre a montar armadilhas aos pássaros, o que já lhe valera a ida, várias vezes, ao posto da guarda local, bem como ao pagamento de algumas multas, estas a cargo dos pais.

O piar do pobre animal não deixava dúvidas, estava mesmo em dificuldade. Francisquito olhou à sua volta, pois Vitor tinha fama de ser agressivo para quem lhe estragasse as armadilhas, e só após se certificar que estava sozinho, é que se aventurou a entrar pelo mato dentro. Suspeitando que os seus passos tivessem assustado o pobre animal, visto ter deixado de piar, decidiu suspender a marcha e aguardar um pouco, embora desejasse sair dali o mais depressa possível.

Não precisou esperar muito, logo o piar do passarinho se voltou a fazer ouvir. Apurou o ouvido e lá conseguiu chegar ao local onde, como já calculara, um indefeso passarinho, parecia-lhe um pintassilgo, se encontrava preso por uma pata. Um daqueles laços que tão bem conhecia de Vitor, os quais se apertavam, tão fortemente, em torno da pata dos pássaros que lhes era impossível libertarem-se. Observou o dito laço, tentou partir o fio, mas nada, era bem resistente.

Francisquito afastou-se um pouco, em busca de algo que o ajudasse a quebrar o fio e soltar o pobre animal. Viu uma pedra em forma de faca, agarrou-a e, agarrando na patita do passarinho, lá foi conseguindo quebrar o fio.

O passarinho, assim que se viu livre, bateu as asas e fugiu para bem longe dali.

Assim que chegaram as férias da Páscoa, Francisquito correu a fazer aquilo que mais adorava, ficar sentado na margem do rio, a observar os bandos de lindos pássaros a, ali irem beber.

Francisquito ainda mal se tinha sentado, quando sentiu uma forte pancada na cabeça.

As horas passaram até que Francisquito voltasse a si. Assustou-se, não tinha bem a noção de onde estava, tudo aquilo lhe parecia desconhecido, tal era o efeito da pancada recebida. Que raio estava ali a fazer? Porque não estava em casa, como de costume? Tentou sentar-se, parecendo-lhe que o chão parecia molhado. Sentiu uma forte dor na cabeça, levou a mão ao sítio onde lhe doía e pareceu-lhe que tinha a cabeça molhada.

Francisquito já não sabia se sonhava ou se estava acordado, nada daquilo lhe fazia sentido. Assim que se sentou, começou a ver tudo a andar à volta. Apoiou ambas as mãos no chão e lá se foi recordando do que se passara:

- Ah, aquele malandro do Vitor!

Agora sim, recordava-se de tudo, até das últimas palavras que lhe ouvira:

- Isto é para aprenderes a não te meteres onde não és chamado. Hoje, não me vais estragar a caçada.

Francisquito deixou-se ficar quieto. Havia ali qualquer coisa de estranho. Olhou para cima da sua própria cabeça e o que viu, deixou-o perplexo. Dois passarinhos, apesar do escuro que se fazia sentir ,um deles com um fio pendurado na pata, pelo que poderia ser o que salvara no outro dia, batiam as asitas em grande esforço, de modo a conseguirem refrescar-lhe o rosto, enquanto um terceiro lhe depositava pequenas gotículas de água sobre a cabeça. Foi então que ouviu os gritos de alguém a chamar por ele, logo reconheceu a voz do pai:

- Fique sabendo, a sorte do seu filho, foi ter recebido essa providencial ajuda que o foi refrescando e molhando a cabeça. Não fosse tal ajuda, e não sei o que poderia ter acontecido.

 

Moral: “O que importa, não é o tamanho dos amigos, mas sim da amizade.”

 

Francis Raposo Ferreira

17/01/2020

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Comentários

  • Sem palavras!!! Parabéns!!! DESTACADO!! 

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