O povo da floresta!

O Povo da Floresta (Tânia Pereira)

 

Fui convidada a escrever

sobre a fala de três cavaleiros

não templários, mas de agora

com pensamentos certeiros

 

Escrevo para não esquecer

numa pele de papel

é o instrumento que tenho

não em prosa, mas em cordel

 

Hoje são poucos, mas poderosos

Nos falam de uma forma que encanta

Kopenawa, Munduruku e Krenak

Esperança que nos acalanta

 

Na visão de um mundo mais simples

suas falas então se convergem

é preciso clarear a visão

são de dentro e não de uma margem

 

A história que foi sempre contada

fala de uma descoberta

de uma terra que foi encontrada

no erro de uma viagem incerta

 

Um Brasil que nem foi descoberto

Foi fruto de uma invasão

portugueses, holandeses, franceses

E depois muitos outros então

 

Vieram de um continente

a procura de terras virgens

desceram em nossas praias

doentes e com vertigens

 

Por aqui não imaginavam

encontrar o que não se contesta

a terra já tinha habitantes

era o povo da floresta

 

No contato com o povo de fora

que traziam fumaças e cheiros

invadiam a pureza dos corpos

dizimando povos inteiros

 

Muito antes do homem branco

quem sabe uns dois mil anos

já estavam nessas terras

a viver sem tecer planos

 

Eram cerca de mil povos

de diferentes culturas

suas línguas e suas vivências

cada povo e suas pinturas

 

Viajantes chamaram de “índios”

chegaram como missionários

queriam impor suas vozes

aos povos originários

 

Traziam em suas bagagens

coisas e não cantorias

ofereciam então aos “selvagens”

em troca de alegorias

 

Era o “povo da mercadoria”

para os “índios” eram estranhos

encantavam pela diferença

carregavam males tamanhos

 

No início se diziam amigos

encantaram com suas ofertas

enganaram com sua ganância

verdades então encobertas

 

Os povos que aqui habitavam

pertenciam à natureza

eram fortes com suas palavras

harmonia era sua riqueza

 

Guaranis e yanomamis

mundurukus e crenaques

resistem, ensinam, respiram

são de carne e não de almanaques

 

Das palavras fazem fonte de vida

não precisam que sejam grafadas

elas ficam em suas memórias

para sempre serão lembradas

 

Para eles a floresta está viva

Têm Omama que foi criador

sobrenomes que marcam o povo

Xapiri, espírito protetor

 

Para eles o canto das matas

Para nós buzinas e máquinas

Eles falam e todos escutam

Nossas vozes somente em páginas

 

Se adaptam às modernidades

é a forma de resistir e viver

pois estão no contexto da vida

mas a origem é impossível esquecer

 

Para eles a morte é um ciclo

que faz parte da sua caminhada

Não existe a palavra futuro

É Passado, presente e mais nada

 

Transformam os mortos em cinzas

e guardam como bem precioso

Seus pertences então descartados

a memória é o mais valioso

 

Não são “índios” nos contam sorrindo

São como depositários

de uma terra a ser protegida

São os povos originários

 

Espalhados por todo Brasil

lutam pela demarcação

de terras que foram tomadas

por interesse de ocasião

 

É preciso prestar atenção

Em suas falas e seus movimentos

São as vozes dos antepassados

Reforçando seus ensinamentos

 

Entender que a história do tempo

para eles é uma caminhada

do nascimento à morte

com a natureza e mais nada.

 

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Tânia Pereira

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Comentários

  • Gestores

    Maravilhoso trabalho. Versos muito sensíveis.

  • Vibrante e longo aplauso por este POEMA

    SEU CANTO BELO sobre um POVO brilhante e sábio

    meu APLAUSO sem descrição nenhuma pois vem do fundo da alma!

    É tempo de se erguer a voz em clamor

    CONTRA o genocídio que alguns querem,

    e que subtilmente vão actuando para que se realize!

    É tempo ... !!!

    beijos de poesiaaa

    chantal fournet

    8820298053?profile=RESIZE_584x

  • Parabéns um belissimo

    cordel adorei ler abraço....

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