“O VULTO PRETO!”
Adolescentes que éramos, muitas vezes ficávamos conversando na alfaiataria do Tonico, um amigo nosso, no centrinho da cidade.
Estávamos lá em mais ou menos uns 8 amigos, alguns moravam por ali por perto mas eu morava num bairro pequeno, bem afastado.
Como a conversa versava sobre “fantasmas” e coisas assim, o pessoal, vendo que a hora já era bem adiantada, resolveram aos poucos irem para suas casas.
Nem percebi que meu primo e mais um amigo que também lá estava olharam o relógio da Matriz e disseram:
Credo, já está na hora!
Bem, a noite tinha avançado bastante e eram mais ou menos 23,00 horas, quando eles se despediram e foram para suas casas.
Eu, me fazendo de corajoso, fui ficando, assim como “ninguém quer nada” e,quando me dei conta só estávamos eu, um amigo da cidade e o Tonico.
Então ele disse, olha vou ter que fechar a alfaiataria, porque amanhã tenho muito trabalho à fazer.
Bem acho que foi aí, somente aí que me dei conta de que era sexta-feira, dia 13 e a meia noite já se aproximava.
Hora da bruxa e do lobisomem, como se costumava dizer.
Bem, pensei, já todo borrado de medo, o que é que tem?
Não tenho medo, sou corajoso e já tenho mais de 18 anos.
Engano meu.
Estava sim,com bastante medo.
Do que?
Sei lá, apenas estava e pronto.
Aquela hora não havia viva alma na pracinha, tampouco na rua, pois isso há mais de 50 anos e assustava muito.
Olhei para os dois lados, sabendo de que nada adiantaria aquilo, pois eu tinha que ir para minha casa e ela ficava do outro lado da cidade, para a esquerda e tinha que ir sozinho.
Não podia reclamar que ninguém havia me esperado, porque bem que me convidaram para ir embora mas, o teimoso aqui, achou que era “corajoso” e tinha decidido ficar até o final da história macabra, que estavam contando naquele momento.
Como diz o ditado: quem procura sempre acha, lá estava eu desesperado e angustiado, feito um boneco, morto de medo.
Não tinha jeito não, eu tinha que ir para casa, senão o que iriam pensar meus pais com a minha demora?
Naquela época era assim que eles diziam, quando “pedíamos” para sair:
“Podes ir, mas volta cedo para casa, hem! O cedo, para eles, era lá pelas 22,00 hs., no máximo.
Nunca reclamei como fui educado, porque pelos conselhos dos meus pais e, uns tabefes e chineladas de vez em quando, nunca me fizeram mal algum, por isso, sei enfrentar qualquer coisa na minha vida, hoje em dia.
Bem, mas voltando àquela noite, comecei a caminhar em direção ao nosso bairro.
Fui andando devagar, um assoviar trêmulo, porque a cada grunhido de um gato, um cantar de grilo, um coaxar de sapo, minhas pernas tremiam como vara verde.
Passei a ponte que ligava o centro ao nosso bairro e aí o medo cresceu, porque olhei para à frente e não vi ninguém. Aquela hora não tinha viva alma na rua. Era somente eu e o meu medo.
Comecei a caminhar pelo meio da rua, calçada de paralelepípedos, assim fazia um pouco de barulho.
Não adiantava, o medo crescia a cada piscadela que eu achava ter visto.
Fui seguindo à passos, agora lentos, porque minha barriga naquele momento “sentiu” verdadeiramente o que era ter medo. Do outro lado da rua, um pouco longe ainda, vi um “vulto todo preto”.
Meu coração parecia querer saltar pela boca e então, quase tropeçando, não tinha outra alternativa a não ser continuar a caminhar.
De repente, o vulto preto atravessou a rua e veio para o meu lado. Achei que eu estava “vendo coisas” e fingi não ligar, porém minhas pernas, braços, mãos suadas, gotas de suor frio que escorriam pelo rosto, demonstravam o contrário.
O medo!
Terrível medo me fez atravessar a rua e ir para o outro lado.
Adivinham?
Claro que sim, o vulto preto fez a mesma coisa e ficou naquela de “onde um ia o outro ia também”.
De repente, me vi diante da casa de um amigo e o vulto, agora bem pertinho de mim, com seus dentes brilhantes, me olhou com um sorriso medonho e eu me vi morto.
Quando dei por mim, tinha aberto o portão da casa do amigo, entrei e me escondi no meio de uma folhagem alta que tinha no lado da casa. Minha sorte foi que ele não tinha cachorro.
Esperei um bom tempo e, aos pouquinhos, fui saindo devagar, praticamente morto de medo e “algo mais” que manchou toda minha calça.
Saí para a rua, olhei para os lado e, como não vi ninguém, disparei em direção à minha casa, feito um rojão.
Naquele momento não sentia dor nas pernas, aliás, não sentia nada, a não ser o vento frio que cortava meu rosto, pois o que eu queria era chegar o mais rápido ao lugar seguro, minha casa.
Graças a Deus, nunca mais vi tal figura, tampouco deixei para voltar sozinho para casa.
O ditado diz: só se aprende mesmo depois de penar um pouco e foi o que me aconteceu.
Hoje relembro, com carinho, os “bons tempos” em que nossas noitadas eram assim, alegres, onde escutávamos histórias de “fantasmas” até altas horas da noite e, mesmo amedrontados, nos divertíamos muito. Mas, fico a pensar, o que será que eu vi naquela noite?
Seria somente um “vulto preto” ou algo mais...!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
JC BRIDON
12/02/13 - 16,25 hs.
Comentários
Eu amei essa história. O MEDO é péssima companhia.
DESTACADO!
Oi Margarida
Sou imensamente grato por leres e comentares este meu texto "O VULTO PRETO", dando-lhe um nobre "DESTACADO", muito importante em minha vida literária.
Que Deus te abençõe sempre, amiga
Ótimo domingo.
Abraços
Bridon
Você merece, certeza absoluta.
Caro escritor,essa histórias de terror ou fantasma sempre fizeram parte da minha infância e da de muitos,por certo
Valeu o suspense. Parabéns pelo trabalho literário.
Boa tarde mestre Bridon.
Uma narrativa irretocável digno de um verdadeiro artífice.
Tua idiossincrasia é o tempero de tua alma.
Saudações.
Um forte abraço.
#JoaoCarreiraPoeta.
Caríssimo amigo João
Sempre presente estás com tua importante visita e comentário que preenche de paz e alegria o coração desse sonhador de vesos.
Obrigado
Bridon