Um conto romântico

                                                                     Um conto romântico

 

                                                                     Avaí era uma cidade deveras pequena. Todo mundo se conhecia. Inevitável, pois, que João Pedro e Talita cruzassem os mesmos caminhos e nalgum dia se conhecessem. Ainda assim, só se deram conta dessa proximidade na festa dos 15 anos de Talita, filha de um fazendeiro próspero da região.

                                                                     João Pedro era benquisto na cidadezinha. O pai, operário no frigorífico da vizinha cidade de Lins, sofrera acidente fatal na rodovia e João Pedro desde os 12 anos se viu ajudando a mãe no sustento da casa e de suas duas irmãs ainda crianças. Fora coroinha na Igreja Matriz de São Sebastião e Padre Damião, o pároco de Avai, o apresentou à comunidade indígena Ekeruá, da etnia dos Terenas. Em pouco tempo João Pedro se tornou guia turístico, incrementando os rendimentos da família.

                                                                     Talita estava a meio do ensino médio em escola particular em Bauru, quando se deu sua festa de debutante. João Pedro fazia parte dos garçons contratados para o serviço e naquela tarde se deu conta da graça e formosura de Talita, a qual, por sua vez, notou que aquele jovem  garçom lhe parecia familiar e nada mais que isso. Que até já se aborrecia porque ele se perdia a contemplá-la.

                                                                     Encontraram-se outras vezes depois disso. Muitas outras, mas Talita não dava importância ao rapaz ou a esses encontros casuais. Os anos se passaram e Talita se afastou de vez, agora para cursar Direito na Capital e muito raramente visitava a família na cidade natal. João Pedro concluiu o ensino médio ali mesmo e ainda um curso de aperfeiçoamento como guia turístico das aldeias indígenas de Avaí.

                                                                     Talita formou-se no Largo São Francisco e se preparava para concurso público na Defensoria Pública quando, certa feita, resolveu de surpresa rever os familiares. Ignorando a surpresa, estavam todos numa festa típica na Aldeia Araribá, que se realizava todos os anos em abril. A aldeia ficava a poucos quilômetros de distância e Talita para lá se dirigiu com seu carro. E o acaso, o imprevisto, o inesperado, que às vezes se nomina de “mão do destino”, fez com que, ao chegar à aldeia, quem a recepcionasse tenha sido justamente João Pedro. Que se estatelou boquiaberto ao reconhecer Talita. Ela fez um gesto de desagrado e exclamou:

                                                                     - Você me persegue?  João Pedro, perplexo, sorriu desconcertado, mas se encheu de coragem:

                                                                      - Não compreendo. Por que motivo eu te aborreço?

                                                                     -  Por existir, respondeu Talita. E por esse sorriso assim tão, tão....  E afastou-se afoitamente.

                                                                     Duas horas depois, ainda em meio às festividades do Dia do Índio, Talita rendeu-se ao sorriso de João Pedro. Padre Damião, poucos meses depois, celebrou o casamento de ambos na Matriz de São Sebastião.

 

pedro antonio de avellar

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Pedro Avellar

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Comentários

  • Parabéns Pedro por teu excelente conto!

  •  Ah... - Que Alivio!

    Resolvi ler todinho este filme, mas com minha determinação de só assistir os Movies com "Happy End", fiquei com medo durante o percurso...

    Ah... Que felicidade que qual nos contos de AndersenMère l'Oye e outros... - Foram Felizes Para Sempre!!!

    NOSSOS CALOROSOS APLAUSOS... - E... - Conte mais!!!

    gaDs

    • Ora, ora! Obrigado! Mas de fato é bom mesmo que resgatemos finais felizes!

  • This reply was deleted.
    • Tem razão, Margarida. Na vida real, não é tão simples assim. Mas, enfim, estamos num texto literário.

      Em que o mundo pode ser pintado com cores mais graciosas que a realidade. Mais poéticas e líricas...

      Um abraço afetuoso e agradecido pelo comentário.

      Ah - Em tempo: apesar de ficcional, o texto teve inspiração numa história real...

  • Parabéns Pedro.

    Belíssimo texto.

    Adorei!

    DESTACADO

    Bjs

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