Um encontro marcado pelo destino (Conto)

 

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Um encontro marcado pelo destino (Conto)

 

dia de sol,  filha única, 32 anos, trabalhava na lavoura de seu Pai, José Barreira, 69 anos, pele enrugada de aparência de uns 75 anos, laborava num pequeno sítio de família, modelo usucapião, sítio de extensão  modesta, mas de área suficiente para o sustento com fartura para esta família de duas pessoas, altura de baixinho, muito magro, aparentava sempre estar doente, homem rude, mas de relativa saúde estável, nunca fora a um médico, pois os chás caseiros davam conta de alguns incômodos, mesmo pequenino possuía energia de 12 horas de trabalho árduo, de sábado a sábado  e homem de fé, de ir à Igreja todos os domingos, porém, na parte  homília  José de pouca leitura, quase analfabeto  , voava literalmente no entendimento da mensagem bíblica, e Maria Helena, longe da cidade grande , de melhores livros, com sabedoria e inteligência rural  , justificava o sentido da homilia, ao  seu Pai idoso, velho e mofado pelo abandono ali estacionado pelo tempo que se passava ao largo do silencio gritante e irritante, agricultor  no minúsculo Município de Barra Velha, no Estado de Goiás, distante cerca de 80 quilômetros de uma cidade maior, um viúvo  de muitas luas e estações de primavera, outono, Inverno e Verão, onde Maria Helena , pelas circunstâncias  geográficas, sociais e econômica ali, sobrevivia e ria das fofocas do rádio, e poucas revistas que comprava na cidade, este rádio e revistas,  seus melhores companheiros de solidão , angústias e desejos confusos, principalmente, quando seu corpo maduro implorava por uma explosão de sexo, manifestada durante as colheitas e nas noites de insônia antes do sono.

O corpo de Maria, sem qualquer aconselhamento de educação sexual, mesmo que ainda de forma simplória, o seu corpo sensitivo e aflorado pela natureza humana de mulher, por vezes carecia de carinhos, por vezes exigia contatos, e nos impulsos de pressão do ventre, masturbava-se de forma que lhe parecia saciar estes momentos, sossegava-se, relaxava, até  a próxima reclamação de seu estupendo corpo. Aos 6 anos perdera a mãe por uma doença desconhecida. No sítio, seu Pai sempre mantinha um terceiro integrante, não que morasse na mesma casa, mas em um casebre muito simples, localizado na entrada da porteira, casebre de madeira, fogão a lenha, uma cama de casal. José mantinha este empregado para lhe ajudar na colheita da produção, que era despachada para um entreposto.

Muitos deles, sempre de meia idade para idoso, escolha a dedo do Pai, e as regras de não se aproximar da casa da família sem que fosse convidado.

Vários empregados do José, por ali passaram, mas da última vez dificuldades em escolher um novo empregado, a oferta era pouca e sua demanda por um ajudante era maior.

Contratou então, João Alfredo, 39 anos, homem forte, musculoso, bonito de feições másculas, mas suave em condutas e homem de palavras cadenciadas e suaves e de competências múltiplas tanto na plantação quanto na colheita, mas jovem, na concepção de seu José.

Experto, as normas para o João eram as mesmas que os dos outros que ali trabalharam, mas com certas atenuantes, ora José, refletia, que assim, não despertaria tanto interesse de João pela casa da família, quer dizer por sua filha Maria, que para ele era o seu único troféu de valor.

O seu Tesouro guardado no Baú. 

O casebre do futuro João, sofrera uma mini reforma, instalado um rádio, uma  cama mais confortável, uma mesa de comer com toalhas  de pano xadrez, panelas outras, o piso lavável. Ele deveria usufruir mais tempo suas acomodações. 

João implementou novas culturas, aumentou a produtividade das que já existiam, e o mini sítio, produzia tanto, que os três trabalhavam muito mais, a recompensa com poupança na Caixa e melhoria da qualidade de vida valiam a pena aquele todo árduo trabalho.

“Difícil era o prestimoso e atencioso Pai José, não reconhecer o valor de João, e sua importância para sua família, e os negócios rurais, assim um vínculo de tênue de amizade nasceu no coração dos dois”

Maria Helena, de início, na lavoura quando perto um do outro, conversava com João, inibida pela criação que tivera até os tenebrosos pesadelos dos 29 anos. O tempo emplacou 32 anos em Maria, e 42 anos a João mais 3 anos juntos no trabalho. João como homem livre, já de experiências de namoro rasgado, já frequentara casa de mulheres, pressentia o que seria aquela bela mulher, ali escondida de convívios profundos e outros entendimentos da Vida.

Bom observador quando em sua cama a descansar, já captava de Maria inquietudes e ansiedades latentes que crescia em paralelo ao tempo que estavam juntos, no refúgio rural, a casa da família pregada numa montanha íngreme, não estava ao pé, nem ao cume, estava entre os o ponto mais baixo e o ponto mais alto, diz-se no centro ou a meio caminho das extremidades, esta localização nada mais é do que, as sensações confusas, os desejos do corpo maduro, pronto, e as masturbações, que ao cume visitava, e no relaxamento aos pés da montanha, recomeçava.

Maria não estava no Cume, no ápice e nem aos pés das regras, menos duras, mas, proibitivas, estava no meio, onde habita a virtude.

Certo dia os dois mais íntimos um a outro, na colheita da Uva, Maria provou da Uva, mas daquela que João pousou delicadamente em ritual, nos lábios carnudos de Maria, uma mão de João tocou-lhe os lábios, e a outra mão generosa pegou-a pela nuca, como ajeitando seu rosto para que a uva não fugisse, que o momento pudesse ser a varinha de condão, a magia... 

Maria, extasiou-se em sensações que nunca sentira, mas que seu corpo, coração e alma de mulher cujas as intuições afloraram natural, o corpo preparava-se para os ritos do amor.

Aos domingos à tarde, após a missa petrificada pelo hábito, Maria Helena caminhava por atalhos da propriedade, mas a Uva despertou-lhe desejos incontroláveis, e sonâmbula, numa tarde nublada caminhou sedada até o casebre de João e mostrou-lhe em atitudes de seu interesse em conhecer sua moradia.

João homem, educado e carinhoso, a fez entrar e sentar-se na mesa do café com toalha nova de xadrez. Maria sentara em silêncio, e quietos ficaram por algum tempo.

Um café estaria a rondar a mesa.

Em atitude que a alguns pode surpreender, Maria pediu-lhe que lhe desse o primeiro beijo, João, hesitou, veio-lhe à mente o Sr. José, os hábitos e costumes ali criados após 3 anos de trabalho vitorioso, lembrou-se de dois jantares na casa principal da família, de cardápio e comida boa, preparada por Maria, seria uma traição com o Sr. José, ou traição com aquele amor a despertar nos dois, homem e mulher. Os hormônios de ambos cantaram mais alto e excitantes, e suas mãos calejadas deslizaram nos cabelos e desceram à nuca de Maria, que lhe virou o rosto sedento do beijo, e ele se deu suave,  ao ajeitar-se aos biótipos de suas bocas, e de seus corpos e ali a virgindade de Maria viajou na calda de um cometa em labaredas pujantes e o estigma de anos isolada, ao espaço desintegrou-se.

Pouco antes, as escondidas seu Pai sentira a falta de Maria nas cercanias do sítio. Logo foi procurá-la no casebre de João. A porta entreaberta lhe deu a visão até aos momentos dos carinhos e beijos. Ficou estarrecido ao ver a cena, o ciúme mixado com sentimentos de posse, confundiu-lhe os pensamentos. Afastou-se de volta, e em frações de segundos, um feedback refez toda a trajetória de João, de fidelidade, de homem digno, trabalhador, profundo conhecedor da lavoura, e ao longo dos anos percebia as inquietudes de sua filha, inclusive, tendo assistido por duas vezes a filha no processo de alto-conhecimento do corpo.

Tomou uma decisão e no dia seguinte convidou João a sua casa principal e ofereceu a mão de sua filha Maria Helena em casamento. Emocionados, ambos aceitaram, e ali naquele sítio viveram anos de felicidade, com 4 filhos, dois casais, mesmo depois da morte de seu Pai, José.

 FIM

Antonio Domingos 

9 de Nov. de 2014REVIADOCT19

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Comentários

  • No passado, muitas familias foram formadas nestes termos, onde o pai entregava a filha em casamento. No caso em conto os dois aceitaram por querer, mas no passado a mulher era ofercida e ponto.

    Aplausos a ti.

  • Grato amigo Alcebíades

    Por ler e comentar

    abraço

    antonio

  • Bela Composição.

    Aplausos!

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