Pessoal:
Desejando-lhes a todos um Natal gratificante, abarrotado de afeto partilhado entre os seres queridos, lembrei-me de usar um texto de meu velho progenitor, médico — mas que tinha o árduo gosto de escrever. O texto possui tocante simplicidade, assemelhada — parece-me — àquela suave empatia de um conto de Alphonse Daudet, falando do povo simples da Provença. Os verbos na segunda pessoa do singular se devem a ele ter nascido em Palhoça, SC (na época em que ainda não haviam degenerado, propositalmente, a declinação...). Esta historieta está enfeixada no livro de crônicas e ensaios filosóficos intitulado: "Visão Amena do Mundo" (Editora Jornada Lúcida Editora, 2013). Ei-lo a seguir, e espero que o apreciem.
A Pobreza de Papai Noel
— José Ávila da Luz [1927–2017]
Era véspera de Natal. Entrei no quarto – minha mãe chorava e chamou-me.
– Vem cá, meu filho, quero explicar-te certas coisas.
Este ano Papai Noel está muito pobre e talvez não vá poder trazer nenhum presentinho aqui em casa. Mas não fica triste que, no próximo ano, as coisas melhorarão e então vais ganhar bonitos presentes.
Abracei-a e beijei-a comovidamente, procurando secar com minhas mãos as lágrimas de sua face.
Estava triste, é claro, mas não podia mostrar que estava. Ninguém tinha culpa da pobreza do Papai Noel. Além disso, um ano passa rápido, não passa? Deixei-a mais conformada e saí correndo para brincar com o cachorrinho novo, que também gostava de brincadeiras.
À tarde, meu pai chegou da cidade e percebi que confidenciou algo com minha mãe. O que seria?
Pela manhã seguinte, ao acordar-me, vi ao meu lado um bonito pacotinho todo enfeitado. Abri-o apressadamente.
Papai Noel não se esquecera de mim. Era uma grande quantidade de soldadinhos de chumbo.
Um verdadeiro batalhão. Tinha até canhões e soldados a cavalo. Fui correndo mostrar para minha mãe, que me abraçou chorando.
Extraído de: Da Luz, José Ávila. Visão amena do mundo. Ouro Preto: Jornada Lúcida. 2013. 93 p, il.. [ISBN 978-85-67228-00-6]
Comentários
Que maravilha de texto!
Parabéns.
Feliz Natal!
Obrigado, cara Márcia, em nome de meu velho pai. O estilo dele espelhava a sua trajetória de vida; apesar de uma cultura ponderosa, que teve o seu deflagar no Colégio Catarinense (dos ciosos jesuítas de Florianópolis), era de uma simplicidade incomum, de empatia para com os desvalidos sociais, discreto e com uma humildade que chegava a prejudicá-lo. É que, como bem sabemos todos, a vida é um jogo bruto.
Abraço. j. a. [meu A. é de Aurélio; o dele de Ávila — ambos José]