VELHO TIMONEIRO

O mar a essa hora
Mais parece um lençol amarrotado
Estendido sobre imensa cama
Depois que a lua espelhada deitou-se nua
Brincando libidinosa entre as pernas de quem ama

Eu velho timoneiro de um navio calado
Que tantas vezes deu-se aos prazeres dela
Hoje assisto da areia os arrepios do lastro
Mas sem pretensão de segui-la a nado
Ao aguardar que me venha insólita a madrugada

Aprendi que nada há de mais insensato que a fartura
Há tanto peixe e não mais sei busca-los
Tantos rumos sem outra vez persegui-los
Tantos amores entre lua e aguas e não torná-los
Tantos dias colhidos sem retoma-los

Vejo o tempo tecer suas historias
No anseio da amante um marujo que volta
Nos braços do pescador um risco de navalha
O almejado descanso de quem navega
Sobre a tabua das marés os frutos da batalha

Permaneço assim em silêncio e sóbrio
Sensato entre o futuro e os dias pregressos
Observando o curso dos barcos sem lastimar meu norte
Ciente da certeza de que a lua me tomara ainda moço
Pois antes de me beijarem a boca eu já lhe fazia versos

 

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Paulo Sérgio Rosseto

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