Eu posso e tenho um corpo sem olhos
Pois é em um nada que eu posso te ver
Ajoelho e aos deuses eu agradeço
Pois cego eu sou como cego é você
Mas eu consigo ver a tua felicidade
Mesmo não tendo boca para sorrir
É a imanência absoluta e pode fazer
Com que eu me interiorize em você
Triplicado em múltiplos sou este ser
Que se revela na ausência de nascer
Com a língua largada e fria finjo pertencer
À uma cloaca impura na qual voltarei ao morrer
Se o surreal desta vertigem é ser virgem
De corpo, é apalavrado, mas de alma não existe
A não ser em muros que negros se insurgem
Pichado em tintas brancas com o dedo em riste
Eu tenho um nada comigo mas apenas sou desnudo
Uma aflição desmensurada que escrevo sem jeito
É uma faca na garganta que me rasga até o peito
Perdoe este jeito de falar... é meu medo
de morrer mudo.
Alexandre Montalvan
Comentários
Muito bom. Elaborado com esmero e capricho.
Expressiva e comovente poesia em tela. Felicitações caro poeta.