Abandono

Gravito pelo escuro do tempo

enquanto procuro no breu

da vida acender um fósforo

que ilumine as sombras

que transitam

pelos armários e cabides

em todos os lugares

fatalmente encurralados

onde afinal nunca

me acharás

ou eu provavelmente

nunca me esconderei



Assim se elabora o abandono

das minhas memórias

simulando tua voz que se disfarsa 

num sorriso crónico

brincando no planar suave

que se acende no ígneo sonho

das escuridões mágicas

soletradas entre palavras que hoje

me marcam com lágrimas

furtivas e tão nostálgicas



Só o silêncio escondido

na ranhura do tempo

por fim

me chega para comemorar

o facto de que após tanto galopar

a vida

viveremos navegando

nas artérias da melancolia

cheias de perfume doce

impregnando um corpo

que esvazia cremado

e deixado ali

na monotonia da vida                                      

qual retrato encostado na estante                  

sem mais sorrir...ao abandono

 

 

Frederico de Castro

 

 

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Frederico de Castro

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Comentários

  • Umas saudades cheias de beleça e magnificas metáforas...

     As arterias da nostalgia...

     Boa demais.

     Bom tudo o poema.

     Tem um talento pouco comun.

     Bravo, amigo.

     Beijos

    3596073?profile=original

  • Impressionante teu a beelza de tua poética, Frederico. Meus aplausos. Parabéns!

  • Só pessoas dotadas de sensibilidade tem capacidade de nos comover.

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