AINDA OS CHAMADOS

Há algo errado com a poesia do mundo
Vejo lacunas e vácuos
Sinto grandes espaços abertos
Vazios
Poderosas vozes não soam faz tempo
Sua falta ecoa nos livros
Ressoa nas bibliotecas
Espalha-se pelo mundo
Quem calou você Drumonnd?
Que maldito destino fechou tua boca de poeta?
Não mais uma pedra no caminho
Pra onde foi tua louca irreverência poética Ginsberg?
Você agora recita para os anjos?
Lança olhares libidinosos para os santos?
Apenas sumiu...
Quem conta tuas coisas agora Dylan Thomas?
Quem lamenta chora e se despedaça de amor como você?
Rimbaud não o faz
Rimbaud também se foi
Por onde anda você Ferlinghetti?
Foi publicar maluquices revolucionarias em outra dimensão?
Talvez apenas esteja estupefado
E levou Corso com você eu percebo
Nada mais dele por aqui
Só rastros
Velhos e poeirentos
Quem obstruiu teus avanços Quintana?
Sem xícaras ou rimas para você
Nunca mais na verdade
Te foste velho
E mais velha ainda fenece tua poesia
De Burrows e Bukowski só restam os nomes
E duvidosas reputações
Quem comeu seus orgulhos meus caros?
Que geração é esta que quase os esqueceu?
É como esquecer da dor
É como não lembrar de ter medo
A que arcaicas e monótonas funções sociais serve a poesia de vocês hoje?
Campanha antidrogas? Antifumo? Anti álcool?
Anti o que mais?
Ou pró oque?
Hoje tudo se resume a isto
Quem é Neruda?
Ele sabe cantar?
Tem um site? Um blog?
Quem o conhece?
A morte os levou todos vocês?
Será mesmo?
Por que ela faria isto?
Acho que não importa
A memória e a obra ficam
Mas parecem tão desgastadas
Tão etéreas
Tão tacanhas agora
Blake já não fala
Baudelaire emudeceu
Do porão Solomon já não grita
Sem Walt Whitman
Sem Garcia Lorca
Sem Fernando Pessoa
Artaud não vem mais
Ninguém mais vem
Tudo acabado
No pó e no silencio
Permanece ou permanecera só a obra
A obra ainda respira e agoniza
Assombra os portais das novas gerações
Às vezes afetam alguém
Outras tantas só um arrepio passageiro
Velhos deuses pairando no limite do esquecimento
Mundo novo rapazes
Novos tempos
Outras ideias
Mas sei onde encontra-los 
Ainda conheço o caminho de suas casas
Ainda nos veremos
Da bagunça da minha estante ouço bem fortes os seus chamados.

RODRIGO CABRAL

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Comentários

  • E é na poesia que ele vive para sempre.

    Lindo poema.

    Parabéns!

  • 3652840?profile=original

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