Deixa-me ir...


-  ao meu irmão que partiu, prematuramente


Deixa-me ir

vestir-te a noite

com véus de seda

iluminando teu sono

dormitando à

toca

da eternidade

Deixa-me ir

descrever-te como sorris

unindo os vazios que se

apressam a engolir todos

os silêncios madrugadores

adocicados e tão primaveris

Deixa-me ir

esvaziar o tempo que resta

escorregadio

deixado ali na lápide

da vida onde se enterram

lívidos cânticos dissimulados

evaporando mais uma noite

que se distancia feliz

enamorada nos ventos

com teus perfumes ornamentados

disponíveis e tão sedentos

Deixa-me ir

percorrer todo o infinito

e no fim de todo além

alienar todos os sussurros

quer trazes esteticamente

descritos em teu ser

revelado em versos sinuosos

que a mim se alojam

tão sorrateiramente

Deixa-me ir

espraiar-te meu mar

navegar-te à vista

sempre com marés

ondulantes e impetuosas

Abrigar-me dos temporais

num acto sereno

a ti comuflado

Arribar contigo até

a plenitude das manhãs

se irmanarem em existências

felinas

que se desnudam, vasculhando

minuciosas tuas digitais

tatuando-me assim repentinas

Deixa-me ir…

pintar-te como rima

eculpir-te em monumento

escutar-te com instinto

fintar-te com palavras

hermeticamente transformadas

num canto selecto de açoites

Deixa-me ir

percorrer uma vez mais

todas as avenidas onde

endereçámos os abraços

vagueando no corrocel

dos mesmos costumes

gritando em folia

incrustada neste pensamento

onde de prazer na calada

da noite

te velo, recrio e invento

Deixa-me ir…


Frederico de Castro

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Frederico de Castro

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Comentários

  • Olha, eu já li duas obras tua. E em todas as que li minha alma se emociona. Divino poema.

    3592174?profile=original

  • Outra joia.

     Outro belo poema com mensagens que não deixam indiferentes.

     Muitissimo obrigada pelo presente, grande poeta amigo.

     Beijos e parabéns.

     Bem hajas.

    Obs:

     Desculpa, amigo :

     Despistada, não li que era uma elegía para seu irmão...

     Sinto muito minha inoportuna e fora de toda sensibilidade meu comentário e repunto.

     Vou tirar agora mesmo.

     Meu mais sentido pésame por sua amada perda.

     Abraços fortes.

     Nieves. 

     Bela tarde

     3592100?profile=original

  • .

     Déjame ir

     hasta donde el arcoiris se funde con la tierra,

     buscar en otros mares horizontes nuevos

    con auroras boreales en noches de invierno.

     .

     Déjame ir

     donde quede algo de ilusión y crezcan sueños.

     Allí donde se cuentan interminables estrellas

     y la tierra huele a tierra, a flores, vergeles viejos.

    .

     Déjame ir

     hasta donde unos brazos me acojan sin demora

     acariciando mis quebrados huesos con esmero.

     Hacia algún lugar donde no exista el miedo

     aceptando mis errores, mis defectos,

     y el amor sea constante, seguro, comprometido y cierto.

     .

     Déjame ir...

    Aunque encuentre a la muerte que espero.

    .

     Nieves Merino Guerra

     04 de enero de 2015

     

     

    • Embora triste, ficou lindo, teu poema.

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