Indumentária furtiva...

Recordo tudo com a memória

vinculada em mim

Engaveto saudades em prateleiras

disponíveis no passar dos tempos


Faculto à liberdade todas as

algemas onde imponho

cada presídio cativo dentro de mim

Deixo pra outros uma

parcela de futuro

onde não cabe mais

a centelha de tempo passado

enterrado…prematuro


Deixo-me saborear em cada maré

sorvendo a maresia

renascida no invólucro do tempo

apressadamente renovado

desbravando cada madrugada

ao teu jeito… nesse vai e vem

cavalgando nos acordes do destino

que tão aconchegado a mim

acalenta e anestesia


Escuto nos ventos

outras badaladas em

cada hora onde vago

esmaeço felizes e irrequietas

memórias

deixadas na colecção dos

murmúrios virtualmente

escritos em cada inescrutável

momento da história


Fugi pra sempre

e nem endereço te deixo

sei somente onde plantar

cada detalhe inesperadamente

tatuado na doçura de um sorrido

tão crucial…tão tacitamente


Perpetuamos instantes

deixando nossas indumentárias

vaporizar-se furtivas

rasgando a noite

com céus adornados de desejos

simétricos, intuitivos

conspirando por entre sombras

desta vida se escapulindo

em versos renovados na amalgama

de tantos abraços que deixei

expontâneamente quase,

quase de improviso

Frederico de Castro

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Frederico de Castro

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Comentários

  • Já vim aqui várias vezes e ainda não havia concluído meu intento. Lindíssimos teus versos nesta prosa poética sobre a vida.

    Meus aplausos, Frederico.

    3592376?profile=original

  • Recordar

    Recordar! Quão irônico é o fim!
    Um ritual de canseiras que se
    repetem, diariamente, num
    poente sem cor e sem devaneios.

    Todo o sabor de uma vida, intensa,
    contido no arcabouço das lembranças,
    acumuladas nos tempos de euforia.
    Meu museu, estritamente, particular, cuja única
    visita são as minhas incursões, agora,
    a qualquer hora, pois o tempo, ah, o tempo
    já se cansa diante do meu olhar.

    Ouço o gotejar dos velhos sonhos,
    embrulhados em papel de seda
    como se fossem o próprio som
    da minha bengala à frente dos
    meus passos vacilantes.

    O ócio me domina, e eu, nem grão de areia sou!
    Já cansei da coleção das relíquias históricas,
    Mas, ainda sou a mesma, a mesma mãe, a mesma!
    Oh, anjos da minha descendência, por onde andais?
    Fui guardiã dos vossos sonhos!
    Já não consigo ver os moldes das minhas roupas,
    elas não me cabem, são disformes.
    Ah! Como me faz falta um abraço de cão.

    Tantas vezes já interroguei os anjos
    sobre este fim tão tenso e amargo
    na face deste abismo aonde, ainda,
    caminho, sozinha sem mais esperanças,
    sem abraços, sem sonhos.
    Assim, no exílio do fim, neste quarto
    de asilo aguardo, pacientemente,
    meu ultimo visitante para proferir:
    Adeus!

    Edith Lobato - 6/01/16

  • Gostei demais.

     Metáforas muito boas, alegorías culteranistas, sentimentos e reflexões profundas...

    Unidas num belo poema branco mais que bom e belo.

     Parabéns e obrigada por compartilhar, prezado Federico.

     Beijos

    3592348?profile=RESIZE_1024x1024

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