LIQUEFAÇÃO

A tarde liquefeita em compartilhamentos,
curtidas e momentos
que chutam o baixo ventre,
borram a pregação do crente,
apunhalam silicones,
vomitam o cru que comem,
arrotam impropérios,
mijam germes e mistérios,
usando o wi fi emprestado
no smart surripiado...

Na femural da noite mal dormida,
esclerosada e perigosamente entupida,
rolam papos-cabeça,
solidão como sobremesa,
picadas culturais,
fofocas, leva e trás,
cantadas sem escrúpulos,
amigos fakes, ocultos,
ilusões e nada mais.

No fígado da Rede esburacada,
publicações expelem em enxurradas,
fétidas excrescências biliares,
de Sócrates à Zumbi dos Palmares,
vernizes intelectuais,
putas angelicais,
rufiões cheios de ginga,
a menininha que xinga,
e uma velha com um rapaz.

No coração do dia infartado,
o que vemos por todo lado,
são aparelhos ligados
aos cérebros atrofiados
mantidos e conectados
pelo êxtase dos papos furados,
games irados, mini-recados,
totalmente infectados,
moribundos como jamais.

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Comentários

  • 3629795?profile=original

  • É uma pena que os laços reais e os valores tenham sido substituídos pelo fútil das redes sociais.

    3629777?profile=original

    • MarsoalexO fato de concordar, além de me agradar, me honra. Bjs. do Paolo.

  • É assim que estamos presenciando a geração que vai gerar a geração do futuro. Só faltou a autoria, abaixo. Poema maravilhoso, Paulo.

    3629830?profile=original

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