Tão perto estás de mim, nesta hora, e, no entanto, há um abismo entre nós dois, muralhas de pedra e de vidro erguidas pelo tempo imbatível.
Porque tinha de acontecer em minha vida agora, e, justamente contigo, com quem me deixei envelhecer, ficando à mercê dos mais dolorosos castigos.
Sinto o toque da tua mão ao passar, tão leve, tão rápido, tal que ninguém mais suspeite do meu credo, e, beijo-a sofregamente, na loucura de a agarrar até à próxima estação, em que o tempo pára.
Encaro esse momento, como um anoitecer a invadir-me as artérias, e os martelos nos ouvidos a baterem, ao som das nossas loucuras.
Ah!eu não quero este amor insano, ter de viver diariamente, o inferno das esperanças mortas, caminhar sobre linhas mal traçadas, carregar o peso das flores esmorecidas, até ao cemitério dos prazeres.
Queira Deus que consigas, arrombar o portão do paraíso, brindar ao que eu nesta vida, insisti na procura, o bebericar do amor, em pequenas partículas.
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Cristina Maria Ivens-12/11/2016
Comentários
Cristina, a sua "carta" é um arrebatamento! É um transporte no tempo - quando se sentava à mesa com papel e caneta! A intensidade confessional do seu texto esbarra no que muitos já sentiram - e, então, parece que se fazem do leitor as suas palavras! Arrebatamento meu, confesso!
Grata amigo Edvaldo, abraços
Divinamente lindo, Cristina! Diante de tanta beleza vou só aplaudir. Bjs
Os abismos que vão se erguendo lentamente, frutos das atitudes, da indiferença, da falta de atenção. Lindíssimo texto.
Destacado!
Grata amiga Edith, beijinho.
Cemitério dos prazeres... Divina inspiração, frase forte. Um forte abraço.
Grata amigo Eduardo, abraços.
Aplausos a você, poetisa, profundos versos, é de viajar na emoção causada por tão bela obra... O amor é o "bem que só nos faz mal". abraços, paz e Luz a você!!!