Quando o que me cobre não é mais o simples céu do mundo eu tenho medo
Onde sobrevoam os aviões e suas bombas agora?
Quais são seus alvos?
Cidades?
Tudo é lúgubre expectativa
É quando não ouço mais o mar cantar que tenho medo
Navios singrando as ondas
Cortando distancias
Portam bombas?
Portam mísseis?
Trazem morte...
É quando não canta mais o pássaro que me assusto
O que o calou?
Quem ronda a floresta agora?
Quem se esquiva nas folhagens?
Não tem garras...
Tem fuzis...
E sabe usar
É quando nas casas ninguém mais fala alto que eu temo
Só sussurros...
Cochichos temerosos e olhares furtivos
Quem esta nas esquinas esta noite?
Quem esta marchando?
É quando sei que sabem de mim que tenho medo
De quem são os passos no quintal?
De quem é a sombra ameaçadora no alpendre
Batem a porta...
Fito o céu que me nega suas estrelas...
Tenho medo.
RODRIGO CABRAL
Comentários
Vivemos com medo de tudo, Rodrigo, é assalto, é bala perdida, é imprudência no trânsito, medo de não receber o salário de dezembro, medo de não receber o décimo, medo da conta de energia, é uma vida de pavor.
Parabéns!
Momentos de dúvidas, insegurança, medo! Guerra! Senti arrepios enquanto lia. senti medo também, me senti lá, sussurrando! Meu coração disparou! Parabéns, Rodrigo Cabral!