Pelos meandros do mar absoluto
soçobrou a escuna de pensamentos revoltos
réstias de porções de terras inférteis
que teimavam ganhar espaço em minha mente.
O firmamento produzira a estrela primeira
a mirar o seu lusco-fusco no meu trajeto errante
desfraldando a vela e vê-la enfunada criar ritmo
nas lonjuras, após saltar tantas dobras de ondas
Luzes de um farol milenar iluminavam fosforescentes
a ribalta dos meus devaneios indissolúveis
guardados antes ao lume de um círio em quarto de fundo
de um terreno alagadiço onde se derrapava no lodo
Tudo se evaporou após um vendaval súbito e fumarento...
confundia-se com as brumas de uma manhã entorpecida
rasgando o enxoval da noite de madrugada enregelante
ainda a respingar orvalhos cristalizados feito pérolas ao sol
Cerro os meus olhos e tento buscar algo de mim
na linha que rasga a barra da manhã efervescente
enquanto uma lua peregrina rumo ao vértice de uma montanha
além dos mares que interceptam os continentes
muito além da vastidão de todos os acidentes geográficos
Hei de saber dos limites existentes que meus pés não alcançam
do afortunado poder que o tempo exerce sobre mim
do somatório de todas as suas insígnias e seus mistérios
nem tanto a busca, nem tanto desejos, apenas o encontro comigo
nos desvãos de uma nova era, nos braços de um postulante recomeço.
Rui Paiva
Comentários
Caro poeta Rui, sublime és tua poesia. Um abraço.
Exímio menestrel Rui Paiva quando chega o final de ano, é normal se fazer um balanço de tudo o que aconteceu em nossa vida. Deixando tudo de ruim para trás e imaginar apenas coisas boas no nosso caminho, o ritual de limpeza para uma nova era a natureza sempre pode ajudar, com a energia da terra e das plantas, da água, do fogo e do ar. Claro que eu não preciso ensinar essas mandingas para um Pajé- feiticeiro como o menestrel Rui Paiva! Vai dizer que não? Me engana que eu gosto? Para comentar poesia , é preciso decodificar poesia e saber onde se encontra a essência da forma expressão do poeta. Enquanto isso, nas eternas e verdejantes cordilheiras do parnaso, a musa sente a pele fina arrepiar-se num pressentimento. Aqui o menestrel Rui Paiva transforma em poesia os seus pensamentos e opiniões sobre tudo o que achar que seja um bom tema. Estimado menestrel será que a nossa querida poetisa Sandra Leone se fosse arquiteta ergueria arranha-céus sem pão-durismo como ela é faz em seus comentários? Rs rs... Ah! leleko leko leko leko!!!
Quando queremos fazer uma boa faxina esvaziamos os armários, jogamos fora tudo o que não nos serve, tiramos o pó e aos poucos vamos recolocando as coisas no lugar, uma dessas faxinas não é possível fazer em poucos minutos, levamos algum tempo pra conseguir organizar tudo.
E com a gente,não é diferente, não adianta fingirmos que não precisamos também de uma “faxina” interna, muitas vezes,relutamos em jogar fora aquilo que não nos serve mais, que nos fere, pesa em nossos ombros, não nos acrescenta nada de bom. Muitas vezes esses “entulhos” de nossa vida nem são nossos. Não é fácil, mas é preciso fazer essa limpeza interna, abrir todas as gavetas, colocar pra fora, tudo que nos sufoca, e emperra nossa vida. Quando entramos em contato com nosso interior descobrimos coisas bem ruins, e só tendo contato com essas coisas, é que percebemos o quanto elas ocupam espaço dentro de nós, o quanto são pesadas. e é nesse momento que começamos a nos livrar, nos libertar de tudo o que não nos serve mais.Só posso dizer que, não existe melhor sensação do que a de liberdade, a leveza e o desapego de tudo aquilo que nos trava. Quando uma “faxina” interior é feita além de nos libertar do ruim, também nos dá a chance de encontrar tudo o que de mais belo e brilhante existe dentro de nós e esse reencontro com nós mesmos, é ainda mais gratificante.
Parabéns, poeta, pelo lindo texto!!!
Uma poesia de impacto textual e sensorial.Parabéns pelo primor de suas letras.Abraços