Havia em minha rua um poeta franzino
Meus olhos marejavam ao vê-lo escrever
Os versos como se meus fossem, menino,
Já alertavam, adiante, o que iria acontecer
Prole imensa, mobília modesta, o pobrezinho
Nutria-se de nuvens, e a família a perecer
Não lhe sobrava um vintém, nem um cadinho
Para que de suprimentos viesse a abastecer
O poeta delirava absorto em sua escrivaninha
Depois de feito o desjejum com fatiados de sol
Sua esferográfica começava a tecer nova linha
E só terminaria ao entardecer, já sob o arrebol.
Certo dia encostou um caminhão frente à casa
Fê-lo sumir com miudezas, qual um clandestino
A tristeza por ele deixada por pouco me arrasa
Apesar de a sua poesia iluminar o meu destino...
Rui Paiva
Comentários
Lindo e comovente o seu poema....Fiquei sem palavras....Por isso lhe aplaudo de pé, poeta....Lindo, lindo....Meus parabéns
Comovente o seu poema! Muito lindo, Rui! Bjs.