Cansei de ver
brigas,rotinas
ódios, esquecimentos
toda uma vida levada
numa toada de palavras
insolentes
onde espelhamos
os retalhos do tempo esquecido
alheio, reincidente
aos perdões por dizer
aos fracassos por resolver
Morri quando deixei
de ver
aquele teu sorriso
sempre pontual
cheio de coíncidências fraternas
lavando minha alma já farta
deste tempo onde alimento
qualquer mecânica esperança
que ainda sugo a esta poesia
atrevida
imutável
que deixo flagrante em cada
verso tão conciliador e inescrutável
Percorreremos cada miragem
do tempo que nos foge
insubmissos
desfilando súbitos pela vida
que acontece emboscada no ventre
de tanta indigência fatigante
ali
onde por fim nos aventuramos
pujantes
descerrando as pálpebras ao dia
afagando o silêncio andante
em longas horas de reencontros
breves
em tantas eternidades possíveis
infiltradas de afectos omissos
e irreversíveis
O ciclo deste presente fecha-se
assim momentaneamente domesticando
o passageiro de mim
onde seremos mesmo que inesperadamente
o epicentro da felicidade
assim aconteça
cada verso sangrando de amor
assim morra categórica
uma vida por tantas vidas
agendadas em sacrifício
pelos nossos desencontros fortuitos
velados num breve dia prostrado
na montra deste destino arquitectado
Assim te sonhe plausível
orquestrada numa fé
jazendo infinita, revigorada
inflexível,
desabrochando a cada despertar
conciliador do dia onde recepciono
um punhado de beijos tão cúmplices
e inabaláveis
decifrados no silêncio passageiro
coreografado numa saudade
quase, quase incalculável
Frederico de Castro
Comentários
Felicidades
Besos.
Lançastes suas redes ao oceano e pescastes impecáveis reversos!
Tremenda profundidade e beleza amigo Frederico. Gostei muito. Um abraço.