Procurei por ontem...

Encontrei

na soleira do tempo

o último degrau ao cimo

do horizonte estonteante

onde a noite se despe grisalha

embriagante

- Procurei ontem

mais que tuas evidências

insinuantes

a quietude poética

onde me abandono

em ti redundante

- Procurei ontem

e somente encontrei

as essências camufladas

em doces gargalhadas

velando um raio de sol

que se dissipa em teu

generoso colo quase flamejante

- Procurei ontem

despoletar em nós todos

os afectos e utopias

que planejei

Resguardei pra sempre

aquelas meigas manhãs

onde apressados

nem finda sequer a noite

ressuscitávamos estirados

no breve tempo que mingua

tão sedutor e ofegante

- Procurei por ontem

e sei

que amanhã despentearemos

as saudades regurgitando

nossa vida em múltiplas

cascatas de beijos

tão extravagantes

- Procurei por ontem

saber porque existes

num dia qualquer

depois de amanhã

quando emigrares

feliz em cada silêncio

que jaz em nós assim

de rompante

coleccionando todas

as cumplicidades tateantes

agraciando o ser que

em ti desabrocha tão pujante

-Ontem os desencontros

mas hoje encontrei-te colorindo

a janela do meu tempo

onde dormito itinerante

fundindo-me em tuas planícies

emanando ali toda a formosura

espelhada num cálice de néctar

onde te bebo com delicadeza

embriagando todas as fiéis harmonias

que teu ser meticulosamente

surpreende e embeleza

Frederico de Castro   -   ao Ciro meu filho

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Frederico de Castro

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Comentários

  • De noivo, um poema neobarroco demais, unida a pintura de Dali.

     Genial, Frederico.

     Parabéns.

     3592696?profile=original

  • Outro deslumbrante poema. Meus aplausos.

    3592923?profile=original

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